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caderno 23 - História da Medicina

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Também, nesta primeira metade do século XX,<br />

circulam ideias muito interessantes que colocam estes<br />

grupos profissionais entre duas grandes esferas<br />

de poder: de um lado a religião; do outro lado, o<br />

poder que legitima o próprio Estado: a Ciência. Um<br />

bom exemplo disso é o caso que referimos <strong>da</strong>s Enfermeiras.<br />

Inicia-se, pela mão de Miguel Bombar<strong>da</strong><br />

a profissionalização <strong>da</strong> Enfermagem, em Portugal.<br />

Assim, as enfermeiras assumem um papel de destaque<br />

na promoção <strong>da</strong> higiene e <strong>da</strong> salubri<strong>da</strong>de,<br />

nomea<strong>da</strong>mente, a sua entra<strong>da</strong> na paisagem escolar<br />

tem uma importância enorme <strong>da</strong>do que, segundo<br />

Costa Sacadura, “é o melhor agente para o ensino<br />

<strong>da</strong> higiene” (1921: 112) pois este novo elemento<br />

profissional podia agir no interior e no exterior <strong>da</strong>s<br />

Escolas, nomea<strong>da</strong>mente dos Liceus. Informando,<br />

desse modo, o médico-escolar que poderia fazer<br />

chegar indicações mais precisas aos alunos, e às<br />

famílias dos alunos, acerca dos seus hábitos de higiene.<br />

A Enfermeira podia ser, e foi, um elo intermediário<br />

entre os alunos e o médico, mas também<br />

entre as famílias e os alunos.<br />

Segundo Jorge Ramos do Ó “o aparecimento<br />

<strong>da</strong> figura <strong>da</strong> enfermeira escolar […] forneceria<br />

ao médico e ao professor valiosos elementos de<br />

informação sobre o “meio” em que o aluno vivia.<br />

Quando formalmente cria<strong>da</strong>, logo se transformaria<br />

no “ver<strong>da</strong>deiro laço” que devia ligar a “família à escola”,<br />

que o mesmo era dizer, no “ver<strong>da</strong>deiro agente<br />

<strong>da</strong> colaboração <strong>da</strong> família com a escola” (2003:<br />

418/419).<br />

No fundo o que aconteceu ao longo do século<br />

XX, mas principalmente a partir dos anos 30, foi<br />

a penetração <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s famílias, a bem <strong>da</strong><br />

população em geral, construindo-se assim novos<br />

hábitos e costumes no espaço escolar mas também<br />

no espaço social (Henriques, 2008).<br />

De facto, gradualmente as instituições escolares<br />

assistem à entra<strong>da</strong> no seu interior de um número<br />

ca<strong>da</strong> vez maior de elementos. Os professores que,<br />

desde o Marquês de Pombal, viviam sozinhos, com<br />

os seus alunos, no interior <strong>da</strong> caixa negra <strong>da</strong>s Escolas,<br />

quer dizer sala de aula, passaram a ter que repartir<br />

os seus aprendizes com elementos ligados às<br />

ciências do corpo/psi que ganhavam ca<strong>da</strong> vez mais<br />

importância. Assim, se construiu a chama<strong>da</strong> Saúde<br />

Escolar. De algum modo, temos de reconhecer que<br />

estes elementos que entraram na paisagem educa-<br />

MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />

tiva funcionaram como dispositivos disciplinadores<br />

do corpo e <strong>da</strong> alma que foi obriga<strong>da</strong> a abrir-se para<br />

os especialistas.<br />

José Lopes Dias: O itinerário de um pensamento<br />

entre a teoria e a prática.<br />

Também no Liceu de Nuno Alvares, em Castelo<br />

Branco, este movimento teve dinamizadores. Referimo-nos<br />

a José Lopes Dias que foi, precisamente,<br />

médico-escolar a partir de inícios <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 30,<br />

do século XX, apresentando a sua tese ao concurso<br />

documental para este cargo no ano de 1932 intitula<strong>da</strong><br />

“Breves Considerações Sobre a Tuberculose em<br />

Sani<strong>da</strong>de Escolar”.<br />

Lopes Dias tinha plena consciência <strong>da</strong> importância<br />

do movimento que descrevemos anteriormente,<br />

até porque, alguns dos seus professores na<br />

Facul<strong>da</strong>de de <strong>Medicina</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra<br />

eram apologistas destes novos profissionais e desta<br />

nova mentali<strong>da</strong>de higienista. Este homem acompanhou<br />

de perto todo o movimento, optando por desenvolver<br />

conceitos como: previdência, prevenção,<br />

profilaxia, com o objectivo definido de aju<strong>da</strong>r a construir<br />

uma “consciência social” sobre os problemas <strong>da</strong><br />

salubri<strong>da</strong>de e higiene em Castelo Branco, utilizando<br />

o seu cargo de médico-escolar como plataforma de<br />

exercício de poder sobre a comuni<strong>da</strong>de.<br />

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