You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
destinado na Couraça dos Apóstolos, nos antigos<br />
edifícios do Colégio dos Jesuítas. Em Congregação<br />
de 25 de Maio de 1787 foi nomeado, conjuntamente<br />
com Teotónio José de Figueiredo, para fazer um<br />
inventário <strong>da</strong>s preparações químicas utiliza<strong>da</strong>s no<br />
Dispensatório Farmacêutico ficando eles com a<br />
obrigação de mostrar as utili<strong>da</strong>des que o Laboratório<br />
Químico trabalhando pode ter no Dispensatório<br />
Farmacêutico e a utili<strong>da</strong>de deste às Artes e às<br />
Manufacturas. Entre 1791 e 1792 ocupou por várias<br />
vezes o cargo de director do Hospital Escolar e entre<br />
1791 e 1795 ocupou o cargo de director <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de<br />
de <strong>Medicina</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra.<br />
Deve sublinhar-se que Francisco Tavares foi<br />
lente <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra após a reforma<br />
pombalina dos estudos universitários e que, como<br />
sabemos, pretendeu instituir o ensino experimental<br />
na Universi<strong>da</strong>de. Deve lembrar-se que para isso foram<br />
construídos diversos estabelecimentos como,<br />
por exemplo, o Hospital Escolar, o Teatro Anatómico<br />
e o Dispensatório Farmacêutico, directamente<br />
destinados ao ensino e investigação médicas e ao<br />
serviço à comuni<strong>da</strong>de, e outros como o Laboratório<br />
Químico, o Gabinete de Física, o Gabinete de <strong>História</strong><br />
Natiral, o Observatório Astronómico. A sua experiência<br />
universitária deu-se, portanto, num período<br />
capital <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> instituição.<br />
Francisco Tavares viveu num período muito<br />
rico e complexo <strong>da</strong> história <strong>da</strong>s ciências <strong>da</strong> saúde:<br />
o final <strong>da</strong> vigência galénica, a emergência <strong>da</strong>s terapêuticas<br />
preventivas em função dos trabalhos sobre<br />
a vacinação de Edward Jenner, o início <strong>da</strong> higiene<br />
pública, o despertar para o isolamento dos princípios<br />
activos dos vegetais, etc. Francisco Tavares foi<br />
contemporâneo <strong>da</strong> revolução química de Lavoisier.<br />
Teve como figuras contemporâneas cientistas e médicos<br />
portugueses igualmente conceituados como,<br />
por exemplo, José Francisco Leal, Manuel Joaquim<br />
Henriques de Paiva, Avelar Brotero, entre outros, e<br />
o famoso Ribeiro Sanches, discípulo de Boerhaave,<br />
que influenciou de modo marcante a reforma pombalina<br />
<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra.<br />
Fora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra<br />
Francisco Tavares, em 1792, iniciou trabalhos<br />
em Lisboa. Foi Físico-Mor do Reino. Foi, também,<br />
médico do Conselho do Príncipe Regente, Primeiro<br />
Médico <strong>da</strong> Real Câmara, Cavaleiro Professo <strong>da</strong><br />
138<br />
MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />
Ordem de Cristo, Deputado <strong>da</strong> Junta do Proto-Medicato<br />
e <strong>da</strong> Real Mesa <strong>da</strong> Comissão Geral sobre<br />
o exame e censura dos livros, Sócio <strong>da</strong> Academia<br />
Real <strong>da</strong>s Ciências de Lisboa e <strong>da</strong> Academia Prática<br />
de Barcelona, membro <strong>da</strong> Comissão de Indústria<br />
Nacional.<br />
A chama<strong>da</strong>, por Aviso Régio, de Francisco<br />
Tavares a Lisboa, à Côrte, foi determinante na sua<br />
carreira como cientista e como professor universitário.<br />
A sua articulação com o poder central e a sua<br />
eventual presença junto de personali<strong>da</strong>des que dominavam<br />
certo tipo de poderes, nomea<strong>da</strong>mente o<br />
poder político, pode ter modificado a sua carreira.<br />
Julgamos que ele foi chamado para a Côrte onde<br />
foi primeiro médico <strong>da</strong> Câmara do Príncipe Regente<br />
pelos seus dotes enquanto clínico e enquanto cientista.<br />
Contudo, as contraparti<strong>da</strong>s deste novo relacionamento<br />
podem ter-lhe fornecido uma projecção<br />
que mais dificilmente conseguiria se se mantivesse<br />
unica e exclusivamente como lente <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
de Coimbra. É curiosamente na sequência desta<br />
sua passagem para Lisboa, onde se encontrava<br />
longe <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de que o projectara científicamente,<br />
que Francisco Tavares começa a produzir a<br />
maior quanti<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s suas obras. Após a sua jubilação,<br />
que como dissémos foi atingi<strong>da</strong> em 1795, e<br />
depois <strong>da</strong> parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> família real para o Brasil, que<br />
Tavares não acompanhou, este professor universitário<br />
afastado <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de <strong>Medicina</strong> de Coimbra,<br />
consegue publicar como nenhum colega de Facul<strong>da</strong>de<br />
o fez.<br />
A produção científica e o caso particular <strong>da</strong> publicação<br />
<strong>da</strong> primeira farmacopeia oficial portuguesa<br />
Francisco Tavares foi incumbido, juntamente<br />
com o lente de medicina Joaquim de Azevedo, de<br />
redigir a primeira farmacopeia oficial portuguesa.<br />
Era obrigação <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de <strong>Medicina</strong> fazê-lo,<br />
isto pelos Estatutos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de 1772. Embora<br />
tenha sido designado conjuntamente com Azevedo,<br />
acabou por fazer isola<strong>da</strong>mente esse trabalho<br />
fun<strong>da</strong>mental para a medicina e farmácia portuguesas.<br />
A<strong>da</strong>ptou para essa finali<strong>da</strong>de as suas obras De<br />
pharmacologia libellus (1786) e Medicamentorum<br />
sylloge (1787), dois tratados destinados ao ensino<br />
<strong>da</strong> medicina; fez selecções criteriosas de matérias,<br />
não sendo por isso uma simples junção <strong>da</strong>s duas