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caderno 23 - História da Medicina

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los…sucedeu que os pais do menino não quiseram<br />

trazer o filho à diferenciação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e, deste modo,<br />

desistimos <strong>da</strong> operação.<br />

Que tudo isto sirva de lição para ca<strong>da</strong> um, já<br />

que revela o carácter humanista de Amato Lusitano<br />

que sobrepõe à ver<strong>da</strong>de dos mestres, o respeito<br />

pelo(s) Outro(s).<br />

Humanismo educacional<br />

Como fizemos referência na Introdução, Amato<br />

Lusitano tratou <strong>da</strong> artrite o célebre humanista Luís<br />

Vives, na ci<strong>da</strong>de de Antuérpia, onde ambos eram<br />

foragidos <strong>da</strong> Inquisição por pertencerem a famílias<br />

judias. Amato Lusitano é um profundo conhecedor<br />

<strong>da</strong>s obras de Luís Vives, em particular do Comentário<br />

ao De Civitate Dei (Ci<strong>da</strong>de de Deus) de Santo<br />

Agostinho, publicado em Basileia (1522) e dedicado<br />

a Henrique VIII, rei de Inglaterra, por julgar que viria a<br />

representar uma pátria para o humanismo.<br />

Na corte inglesa, Luís Vives é amigo de Thomas<br />

More, autor de Utopia (1516) que defende um rendimento<br />

incondicional para os pobres e que o deve<br />

ter influenciado, pois no seu tratado De subventione<br />

pauperum (1526) mostra ser favorável a que os<br />

pobres recebam do governo um salário. Contudo é<br />

um inovador e propõe que seja em troca de alguma<br />

forma de trabalho, recomen<strong>da</strong>ndo mesmo o treino<br />

para aqueles que não têm nenhum mister, mesmo<br />

em relação aos deficientes, como os cegos, que seriam<br />

treinados para prestar algum serviço e, depois,<br />

receberem um pagamento.<br />

Luís Vives, autor de uma vasta obra (mais de<br />

60 livros), nos seus trabalhos, especialmente em<br />

De disciplinis libri (1531), formula regras de estilo,<br />

apoiando a filosofia e a história que deve abarcar<br />

a activi<strong>da</strong>de humana na sua totali<strong>da</strong>de e não deve<br />

confinar-se aos relatos <strong>da</strong>s guerras.<br />

Em De communione rerum (1535) defende<br />

que a Natureza nos mostra e ensina que são muito<br />

poucas as coisas de que temos necessi<strong>da</strong>de, sendo<br />

facilmente alcançáveis, ao contrário do Homem<br />

que inventa coisas dispensáveis e supérfluas que<br />

lhe custam muito trabalho e resultam de pouco saber<br />

e de falsas opiniões. Este pensamento pode ter<br />

influenciado Rousseau (1712-1778) que, como sabemos,<br />

defende a sua fé na sabedoria <strong>da</strong> Natureza<br />

em prever as necessi<strong>da</strong>des humanas.<br />

42<br />

MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />

No que se refere à Educação, Luís Vives - tal<br />

como Erasmo (1466-1536), amigos que comungam<br />

as mesmas ideias e ensinam na universi<strong>da</strong>de de<br />

Louvain -, integra a corrente humanista <strong>da</strong> Ciência<br />

Nova, e aprofun<strong>da</strong> as questões pe<strong>da</strong>gógicas, defendendo<br />

que a Educação é o crescimento <strong>da</strong> sabedoria<br />

prática e uma preparação para a perfeição<br />

moral com a qual o homem há-de conseguir o seu<br />

fim último: a união com Deus.<br />

No entanto, ressalta a importância de Luís Vives<br />

lhe ter <strong>da</strong>do uma base psicológica. De facto, o<br />

seu tratado De anima et vita libri, publicado na ci<strong>da</strong>de<br />

de Basileia em 1538, é considerado um marco<br />

importante na história <strong>da</strong>s ideias e dos métodos psicológicos,<br />

em que mais do que a essência <strong>da</strong> alma<br />

ou <strong>da</strong> mente, se valoriza a observação basea<strong>da</strong> na<br />

experiência sensível, o que valeu a Luís Vives ter<br />

sido considerado por Watson (1878-1958) o precursor<br />

<strong>da</strong> Psicologia Moderna.<br />

Também, numa época em que a Educação é<br />

elitista, Luís Vives defende que a escola deve acolher<br />

não apenas as crianças mas também os adultos<br />

e os velhos, considerando contudo a infância a<br />

i<strong>da</strong>de mais adequa<strong>da</strong> ao ensino porque a criança<br />

tem a memória expedita e livre e como tudo está<br />

em desenvolvimento é, assim, com facili<strong>da</strong>de que<br />

se prendem profun<strong>da</strong>s raízes, e que dificilmente se<br />

poderá obter depois os mesmos resultados. Por<br />

isso, os pais que deixam passar os primeiros anos<br />

do filho sem o instruírem em coisas úteis estão perdendo<br />

uma oportuni<strong>da</strong>de que não voltará.<br />

Luís Vives recomen<strong>da</strong> o estudo <strong>da</strong>s línguas no<br />

primeiro período escolar dos sete aos quinze anos<br />

e advoga uma formação integral que compreen<strong>da</strong><br />

também a educação física.<br />

Ain<strong>da</strong>, no que respeita à educação <strong>da</strong>s mulheres,<br />

Luís Vives recomen<strong>da</strong> que seja objecto de<br />

reflexão e que se lhes ofereça uma instrução de<br />

ordem prática, publicando De institutione feminae<br />

christianae, em Bruges (15<strong>23</strong>), dedicando-o à rainha<br />

Catarina de Aragão, de quem foi leitor. Nesta obra,<br />

embora siga o pensamento de Tertuliano, um dos<br />

primeiros escritores cristãos, nascido em Cartago,<br />

por volta de 155-160, e autor De culto feminarum em<br />

que se trata do comportamento <strong>da</strong> mulher cristã,<br />

esposa e mãe virtuosa, e como deve vestir-se apropria<strong>da</strong>mente<br />

e quanto ao uso de cosméticos. Não<br />

obstante, Luís Vives devota um trabalho especial à

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