Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
70<br />
MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />
AMATO LUSITANO E OUTRAS pRESENçAS MéDICAS<br />
NO ESpAçO URbANO ALbICASTRENSE<br />
Visibili<strong>da</strong>des e invisibili<strong>da</strong>des. Elementos para uma leitura<br />
Introdução<br />
Em Setembro de 2007, anunciava o jornal de<br />
Castelo Branco Reconquista que o nome do Nobel<br />
<strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> Egas Moniz iria ser introduzido<br />
no complexo toponímico <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong>de. Cumpria-se, finalmente,<br />
uma ideia estabeleci<strong>da</strong>, nas<br />
suas componentes gerais, alguns<br />
anos antes. Com efeito, a<br />
intenção em se convocar para<br />
o campo textual urbano albicastrense<br />
este nome cimeiro <strong>da</strong> medicina<br />
portuguesa tinha já sido<br />
avançado durante as XII Jorna<strong>da</strong>s<br />
de <strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> na<br />
Beira Interior que decorreram em<br />
2000 1 . A ausência do nobelizado<br />
constituía uma lacunar reali<strong>da</strong>de<br />
do património toponímico local<br />
dificilmente justifica<strong>da</strong> por duas<br />
razões principais. Tenhamos, em<br />
primeiro lugar, presente de que<br />
o inicio do itinerário formativo e<br />
intelectual de Egas Moniz sucedeu<br />
num tempo e num espaço<br />
abraçados aos horizontes e aos<br />
ventos <strong>da</strong> serra <strong>da</strong> Gardunha em<br />
que foi escolar do colégio jesuíta<br />
de S. Fiel, instituição de ensino<br />
que se situava cerca <strong>da</strong> povoação do Louriçal do<br />
Campo, freguesia do concelho de Castelo Branco.<br />
Foi no Liceu desta ci<strong>da</strong>de onde efectuou as suas<br />
provas de exame que com a sua frequência de S.<br />
Fiel delimitaram as situações académicas <strong>da</strong> sua<br />
etapa formativa de adolescente que, muitos anos<br />
mais tarde, deste modo reviveria: «Devo a essa<br />
orientação muito do meu aproveitamento na carreira<br />
Pedro Miguel Salvado *<br />
À memória de Olímpio Salvado, meu saudoso tio.<br />
universitária. A disciplina mental a que obrigavam os<br />
alunos, em ciências exactas e afins, era bem orienta<strong>da</strong>.<br />
(…) Lá fui seguindo os estudos com regular<br />
aproveitamento. Fiz exame em<br />
Castelo Branco. Tive 14 valores.»<br />
2 Aliás, esta omissão toponímica<br />
ia ao arrepio de uma reali<strong>da</strong>de<br />
resultante de uma prática<br />
comum durante meio século inscrita,<br />
e epigraficamente palpável<br />
e imaterialmente sonora, na paisagem<br />
citadina: a inclusão de<br />
registos onomásticos de vultos<br />
médicos que coadjuvam a codificar,<br />
a individualizar e a marcar<br />
as circulações, os percursos e<br />
os sítios mais domésticos dos<br />
seus espaços vivenciais.<br />
Pela sua centrali<strong>da</strong>de face<br />
à totali<strong>da</strong>de do espaço urbano<br />
e enraizamento a uma determina<strong>da</strong><br />
plástica e idiossincrasia<br />
<strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de local, a figura de<br />
Amato Lusitano salienta-se do<br />
conjunto de denominações de<br />
personali<strong>da</strong>des médicas que<br />
hoje ecoam e estruturam o mapeamento<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Amato assume,<br />
efectivamente, um sentido de excepção não<br />
só por a sua presença urbana ser reforça<strong>da</strong> através<br />
de uma proeminente peça escultórica, como pela<br />
plurali<strong>da</strong>de de situações em que está presente nos<br />
quotidianos. Esta omnipresença amatiana que hoje<br />
olhamos é apenas uma representação que remete<br />
para algo ausente, tornando-o presente, interessando<br />
sim apreender quais os sentidos que emi-