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solicita<strong>da</strong> nas mãos do Chanceler do Conselho de<br />
Brabante e do Advogado, ficando a causa suspensa<br />
no Tribunal de Antuérpia por um prazo de quinze<br />
dias, «para neste tempo se falar desta matéria com<br />
a Rainha [Maria de Hungria]».<br />
O Margrave não conseguiu levar a acusação<br />
por diante, porquanto a Magistratura de Antuérpia,<br />
sempre ciosa <strong>da</strong>s suas prerrogativas, em exposição<br />
dirigi<strong>da</strong> ao Chanceler e Conselho de Brabante, reclamou<br />
ser a instância competente para julgar os<br />
dois acusados que haviam requerido justiça na quali<strong>da</strong>de<br />
de habitantes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Antuérpia. Através<br />
desta exposição, ficamos a saber que Mestre João<br />
Rodrigues utilizou uma outra estratégia de defesa,<br />
faltando neste caso à ver<strong>da</strong>de, ao afirmar que não<br />
era cristão-novo, para fugir, desta forma, ao alcance<br />
<strong>da</strong> cita<strong>da</strong> ordenação imperial de 1532. Por isso,<br />
alegou, ain<strong>da</strong>, não ter fugido de Portugal, por não<br />
ter razões para tal, «mas ter partido num belo dia», a<br />
mando do tio materno, em casa de quem há muito<br />
vivia, comia e bebia; e que o próprio Henrique Pires<br />
o havia enviado para assistir e aju<strong>da</strong>r nos negócios<br />
do seu feitor em Antuérpia, isto é, Estêvão Pires.<br />
Vejamos, em pormenor, a parte inicial desta exposição<br />
<strong>da</strong> Magistratura de Antuérpia ao Conselho<br />
de Brabante:<br />
12<br />
Reverendos, Nobres, Sábios e Muito Expeditos<br />
Senhores,<br />
Recomen<strong>da</strong>mos com to<strong>da</strong> a submissão<br />
a Suas Excelências o que vai em anexo, assim<br />
como o requerimento aí contido, entregue<br />
pelo senhor Bailio desta ci<strong>da</strong>de, que nós recebemos,<br />
procedendo-nos a escrever a Suas<br />
Excelências acerca do requerimento e seu<br />
conteúdo a fim de apresentar a situação <strong>da</strong><br />
causa, bem como o nosso parecer. Fiquem<br />
Suas Excelências servi<strong>da</strong>s de saber que o referido<br />
senhor Bailio desta ci<strong>da</strong>de teve presa<br />
uma pessoa chama<strong>da</strong> Mestre Jan Roderigho,<br />
habitante desta ci<strong>da</strong>de, acusando-o de ser um<br />
cristão-novo, fugido de Portugal, tendo assim<br />
procedido contra determina<strong>da</strong> ordenação do<br />
Nosso Senhor Imperador, proibindo a frequência<br />
dentro deste seu país de pessoas <strong>da</strong> mesma<br />
condição [i.e., cristãos-novos]. Contra isso,<br />
o referido recluso alegou perante a Vierschare<br />
do Nosso Senhor Imperador que não pertencia<br />
aos cristãos-novos, mas que era filho de uma<br />
MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />
irmã de Henricke Peris, seu tio, que nesta ci<strong>da</strong>de<br />
tinha o seu feitor, Steven Peris, e que desde<br />
há muito tempo tinha vivido na casa do mesmo<br />
Henricke e aí comia e bebia. Assim sendo,<br />
este [tio] o tinha man<strong>da</strong>do e enviado para o<br />
referido Steven Peris, seu feitor nesta ci<strong>da</strong>de,<br />
para o assistir e aju<strong>da</strong>r nos negócios do seu<br />
tio, sendo nesta quali<strong>da</strong>de conhecido na Bolsa<br />
nesta ci<strong>da</strong>de e honra<strong>da</strong>mente recebido e aceite<br />
pelos mercadores. Disse também não ter<br />
fugido de Portugal, mas ter partido num belo<br />
dia e que ele, mesmo que fosse cristão-novo,<br />
o que em ver<strong>da</strong>de não se mostraria ser o caso,<br />
mas bem ao contrário, como ficou dito, que<br />
ele, por ser <strong>da</strong> família do seu tio, podia e devia<br />
gozar do conteúdo <strong>da</strong> patente do mesmo, pelo<br />
qual o mesmo e sua família são autorizados a<br />
frequentar este país […] 19 .