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de <strong>Medicina</strong> Bento Joaquim de Lemos terá sido ,<br />
segundo ele, determinante para avançar com uma<br />
série de experiências que visavam, precisamente,<br />
observar os efeitos que a quina teria no tratamento<br />
<strong>da</strong> gôta. O acolhimento desta obra por parte <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />
científica internacional foi relevante.<br />
Em 1809 Francisco Tavares publicou a primeira<br />
edição <strong>da</strong> sua obra Pharmacologia. Esta obra<br />
embora não o indique explicitamente, corresponde<br />
a uma segun<strong>da</strong> edição <strong>da</strong>s duas obras que em 1786<br />
e 1787 havia publicado fun<strong>da</strong>mentalmente para os<br />
seus alunos e que correspondem, embora a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s,<br />
aos grandes capítulos <strong>da</strong> Pharmacopeia Geral<br />
edita<strong>da</strong> em 1794. No que concerne à matéria médica<br />
e farmácia, a face visível, a oficial, a correspondente<br />
à produção <strong>da</strong> instituição científica portuguesa - a<br />
Universi<strong>da</strong>de - encontrava-se demonstra<strong>da</strong> através<br />
<strong>da</strong> Pharmacopeia Geral , obra publica<strong>da</strong> em 1794<br />
e que em 1809 se revelava carente de alterações<br />
inerentes a um ritmo de produção científica em que<br />
o início do século XIX se veio a demonstrar pródigo.<br />
No que respeita à química a ruptura instituí<strong>da</strong> com<br />
o poder científico vigente foi por demais evidente,<br />
e as consequências <strong>da</strong>í provenientes para a farmácia<br />
foram altamente significativas. Francisco Tavares<br />
foi estimulado pelos seus companheiros científicos<br />
em reestruturar e a<strong>da</strong>ptar algumas <strong>da</strong>s suas obras<br />
às modernas tendências científicas que revolucionaram<br />
os domínios <strong>da</strong> medicina, <strong>da</strong> química e <strong>da</strong><br />
farmácia do trânsito do século XVIII para o século<br />
XIX. A edição <strong>da</strong> Pharmacologia, em 1809, escrita<br />
em latim, obedece a estes propósitos. A obra teve<br />
uma edição póstuma em 1829.<br />
As Instruçcões e cautelas práticas sobre a natureza,<br />
differentes especies, virtudes em geral e<br />
uso legitimo <strong>da</strong>s aguas minerais, principalmente<br />
de Cal<strong>da</strong>s (1810) constituem um prolongamento<br />
actualizado <strong>da</strong> obra que havia publicado em 1791.<br />
Naquela publicação temos a insistência do autor na<br />
problemática <strong>da</strong>s águas e na questão hidrológica<br />
enquanto elemento imprescindível no saber médico;<br />
por outro uma abor<strong>da</strong>gem, diríamos, científica<br />
e perfeitamente articula<strong>da</strong> com as mais modernas<br />
tendências científicas de então. Se, por um lado,<br />
Francisco Tavares não discute a imprescindibili<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> análise química <strong>da</strong> águas no estudo criterioso<br />
dessas mesmas águas, por outro lado salienta que<br />
esse estudo é deveras importante para o conhecimento<br />
<strong>da</strong> água mas que os efeitos que a água pode<br />
140<br />
MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />
ter no organismo só se conseguem depois de estu<strong>da</strong>dos<br />
os efeitos que a água pode ter no organismo<br />
humano. Tavares fez a distinção entre o estudo <strong>da</strong><br />
água e, em função disso, <strong>da</strong>quilo que se pode esperar<br />
dessa mesma água, e os efeitos que a água<br />
pode ter no organismo humano.<br />
No Manual dos gotosos e de rheumaticos para<br />
uso dos proprios enfermos (1810), Francisco Tavares<br />
faz uma nova abor<strong>da</strong>gem do tema que havia<br />
motivado a publicação em 1802 <strong>da</strong>s Observações e<br />
reflexões sobre o uso proveitoso e saudável <strong>da</strong> quina<br />
na gôta e que tão grande e positivo impacto havia<br />
tido na comuni<strong>da</strong>de científica internacional. Possivelmente<br />
animado pela recepção <strong>da</strong> obra, Tavares<br />
envolve-se novamente com a temática <strong>da</strong> gôta e do<br />
seu tratamento. A obra, com um total de 205 páginas,<br />
não se limita a ser um relato <strong>da</strong>s observações<br />
feitas em doentes sobre o resultado <strong>da</strong> utilização<br />
<strong>da</strong> quina no tratamento <strong>da</strong> gôta. Francisco Tavares<br />
desta feita faz uma obra bastante mais envolvente,<br />
abor<strong>da</strong>ndo parâmetros e aspectos relacionados<br />
com a doença e sua terapêutica, tratando o tema<br />
de uma forma menos empírica e mais científica.<br />
Francisco Tavares que oito anos antes havia escrito<br />
a sua obra e feito as suas observações, fun<strong>da</strong>mentalmente<br />
baseado na aplicação <strong>da</strong> quina para o<br />
tratamento de afecções gotosas, descreve e sugere<br />
tratamentos baseados na aplicação de diversas<br />
substâncias utilizando já uma terminologia que podemos<br />
considerar nova quando relaciona<strong>da</strong> com a<br />
inscrita na farmacopeia de 1794 e que continuava a<br />
ser obra oficial e em vigor.<br />
Alguns destes trabalhos foram objecto de críticas,<br />
enquanto outros foram distinguidos pela sua<br />
quali<strong>da</strong>de. Francisco Tavares foi traduzido em língua<br />
inglesa, em 1804, no Jornal Médico e Físico de<br />
Londres e nos Anais de <strong>Medicina</strong> de Edimburgo. O<br />
mesmo se deu com a obra de Alphonse de le Roy<br />
Manuel des goutteux et des rhumatisans. Foi citado<br />
em diversos dicionários estrangeiros pela obra publica<strong>da</strong><br />
em 1802 Observações e reflexões sobre o<br />
uso proveitoso e sau<strong>da</strong>vel <strong>da</strong> quina na gôta, texto<br />
que é em substância um autêntico tratado de terapêutica.<br />
Considerações finais<br />
Francisco Tavares não se limitou a ser um reprodutor<br />
de saber feito. Em várias obras descreve<br />
observações originais realiza<strong>da</strong>s por si próprio. In-