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caderno 23 - História da Medicina

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te e qual a simbolização dos seus significados.<br />

Com efeito, a enti<strong>da</strong>de urbana de Amato Lusitano<br />

traduz-se em múltiplas representações textuais e<br />

imagéticas materiais e mentais que envolvem processos<br />

de percepção, interpretação e de identificação<br />

muito próprios. Elas expressam interesses,<br />

concorrências e competições dos grupos sociais,<br />

guiando-os nos modos de nomear e de definir aspectos<br />

<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.<br />

Esta dominância amatiana é complementa<strong>da</strong><br />

pela existência, na complexa textuali<strong>da</strong>de toponímica<br />

local, por outras personali<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s<br />

com a medicina que transmitem dimensões e<br />

temporali<strong>da</strong>des mais recua<strong>da</strong>s ou mais próximas.<br />

A toponímia evoca e constrói memórias individuais<br />

que irradiam no colectivo, uma recor<strong>da</strong>ção positiva<br />

e uma exemplari<strong>da</strong>de anunciando um rumo para<br />

as condutas futuras. Essa denominação do espaço<br />

urbano é tarefa e função assumi<strong>da</strong> pelo poder<br />

municipal, ao longo de séculos, que assim traçou<br />

e orientou novas formas de percepção e de representação<br />

simbólica <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Os nomes destes<br />

profissionais foram selecções conscientes que<br />

se elevam no polifónico discurso <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de como<br />

personagens históricas dignas de registo para a<br />

posteri<strong>da</strong>de. Em ca<strong>da</strong> período <strong>da</strong> sua <strong>História</strong>, e<br />

de acordo com interesses <strong>da</strong>s elites políticas predominantes,<br />

houve sempre necessi<strong>da</strong>de em se<br />

inscrever no espaço público um novo imaginário<br />

social e escolher quais os vultos do passado que<br />

interessa reproduzir para as actuais e futuras gerações.<br />

Entramos nos amplos domínios <strong>da</strong>s representações<br />

sociais não só deste grupo sócioprofissional<br />

como, principalmente, <strong>da</strong> utilização<br />

de alguns dos seus membros, familiarizando-os<br />

junto do todo social como factores de equilíbrio e<br />

de constância dos cenários <strong>da</strong>s práticas urbanas.<br />

Será então numa duali<strong>da</strong>de entre o visível e o invisível<br />

que se solidificará a mensagem comunicativa<br />

no imaginário urbano destes registos toponímicos.<br />

Um imaginário apreendido e reproduzido pelo colectivo<br />

mas tecido por diferentes grupos sociais e<br />

poderes em continua<strong>da</strong>s disputas simbólicas para<br />

demarcarem territórios, acções e lugares de exposição<br />

pública. Qualquer prospecção sobre o denso<br />

imaginário urbano, desperta sempre um encontro<br />

com outras matérias e com outros tempos de invisibili<strong>da</strong>des,<br />

de silêncios e de sombras.<br />

MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />

Amato - <strong>da</strong> centrali<strong>da</strong>de aos tempos de amnésia<br />

Disposta na área central de Castelo Branco,<br />

ver<strong>da</strong>deiro lugar de memória <strong>da</strong> urbe contemporânea,<br />

para usarmos uma enunciação cara a Pierre<br />

Nora 3 , a estátua de Amato Lusitano cumprirá hoje<br />

uma efectiva função fomentadora <strong>da</strong> lembrança <strong>da</strong><br />

personali<strong>da</strong>de junto do colectivo? Ou esta representação<br />

de uma <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des científicas do<br />

património cultural europeu, apenas expressa um<br />

desvanecimento <strong>da</strong>s densi<strong>da</strong>des e dimensões deste<br />

notável médico, colocando a sua memória numa<br />

linha situa<strong>da</strong> entre a amnésia e o esquecimento?<br />

Sem dúvi<strong>da</strong> que a figura de Amato Lusitano compõe<br />

e estrutura uma determina<strong>da</strong> construção imagética<br />

e identitária <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. É, sem hesitação, uma<br />

presença referencial e referencia<strong>da</strong> que se materializa,<br />

e se expressa, na aplicação do nome do célebre<br />

médico, em várias situações. Nos últimos anos,<br />

estendeu-se uma redundância identificativa amatiana<br />

por to<strong>da</strong> a geografia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, difundindo-se e<br />

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