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te e qual a simbolização dos seus significados.<br />
Com efeito, a enti<strong>da</strong>de urbana de Amato Lusitano<br />
traduz-se em múltiplas representações textuais e<br />
imagéticas materiais e mentais que envolvem processos<br />
de percepção, interpretação e de identificação<br />
muito próprios. Elas expressam interesses,<br />
concorrências e competições dos grupos sociais,<br />
guiando-os nos modos de nomear e de definir aspectos<br />
<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.<br />
Esta dominância amatiana é complementa<strong>da</strong><br />
pela existência, na complexa textuali<strong>da</strong>de toponímica<br />
local, por outras personali<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s<br />
com a medicina que transmitem dimensões e<br />
temporali<strong>da</strong>des mais recua<strong>da</strong>s ou mais próximas.<br />
A toponímia evoca e constrói memórias individuais<br />
que irradiam no colectivo, uma recor<strong>da</strong>ção positiva<br />
e uma exemplari<strong>da</strong>de anunciando um rumo para<br />
as condutas futuras. Essa denominação do espaço<br />
urbano é tarefa e função assumi<strong>da</strong> pelo poder<br />
municipal, ao longo de séculos, que assim traçou<br />
e orientou novas formas de percepção e de representação<br />
simbólica <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Os nomes destes<br />
profissionais foram selecções conscientes que<br />
se elevam no polifónico discurso <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de como<br />
personagens históricas dignas de registo para a<br />
posteri<strong>da</strong>de. Em ca<strong>da</strong> período <strong>da</strong> sua <strong>História</strong>, e<br />
de acordo com interesses <strong>da</strong>s elites políticas predominantes,<br />
houve sempre necessi<strong>da</strong>de em se<br />
inscrever no espaço público um novo imaginário<br />
social e escolher quais os vultos do passado que<br />
interessa reproduzir para as actuais e futuras gerações.<br />
Entramos nos amplos domínios <strong>da</strong>s representações<br />
sociais não só deste grupo sócioprofissional<br />
como, principalmente, <strong>da</strong> utilização<br />
de alguns dos seus membros, familiarizando-os<br />
junto do todo social como factores de equilíbrio e<br />
de constância dos cenários <strong>da</strong>s práticas urbanas.<br />
Será então numa duali<strong>da</strong>de entre o visível e o invisível<br />
que se solidificará a mensagem comunicativa<br />
no imaginário urbano destes registos toponímicos.<br />
Um imaginário apreendido e reproduzido pelo colectivo<br />
mas tecido por diferentes grupos sociais e<br />
poderes em continua<strong>da</strong>s disputas simbólicas para<br />
demarcarem territórios, acções e lugares de exposição<br />
pública. Qualquer prospecção sobre o denso<br />
imaginário urbano, desperta sempre um encontro<br />
com outras matérias e com outros tempos de invisibili<strong>da</strong>des,<br />
de silêncios e de sombras.<br />
MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />
Amato - <strong>da</strong> centrali<strong>da</strong>de aos tempos de amnésia<br />
Disposta na área central de Castelo Branco,<br />
ver<strong>da</strong>deiro lugar de memória <strong>da</strong> urbe contemporânea,<br />
para usarmos uma enunciação cara a Pierre<br />
Nora 3 , a estátua de Amato Lusitano cumprirá hoje<br />
uma efectiva função fomentadora <strong>da</strong> lembrança <strong>da</strong><br />
personali<strong>da</strong>de junto do colectivo? Ou esta representação<br />
de uma <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des científicas do<br />
património cultural europeu, apenas expressa um<br />
desvanecimento <strong>da</strong>s densi<strong>da</strong>des e dimensões deste<br />
notável médico, colocando a sua memória numa<br />
linha situa<strong>da</strong> entre a amnésia e o esquecimento?<br />
Sem dúvi<strong>da</strong> que a figura de Amato Lusitano compõe<br />
e estrutura uma determina<strong>da</strong> construção imagética<br />
e identitária <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. É, sem hesitação, uma<br />
presença referencial e referencia<strong>da</strong> que se materializa,<br />
e se expressa, na aplicação do nome do célebre<br />
médico, em várias situações. Nos últimos anos,<br />
estendeu-se uma redundância identificativa amatiana<br />
por to<strong>da</strong> a geografia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, difundindo-se e<br />
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