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caderno 23 - História da Medicina

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Memória futura - 2011, ano de Amato<br />

Está por demais referenciado e demonstrado a<br />

importância <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des ju<strong>da</strong>icas e cristã-nova<br />

de origem portuguesa na formulação e consignação<br />

<strong>da</strong> ciência moderna. A listagem de nomes é tão extraordinária<br />

como exemplar nos vários ramos <strong>da</strong> ciência<br />

(Pedro Nunes), na filosofia (Bento de Espinoza (1632-<br />

1677), na marinhagem (Fernando de Noronha) e, nomea<strong>da</strong>mente,<br />

na medicina com Mestre José Vizinho,<br />

Isaac Abravanel, Leão Hebreu, Abraão Zacuto, Garcia<br />

de Orta, João Rodrigues de Castelo Branco, Francisco<br />

Sanches, Estêvão Rodrigues de Castro, etc., o<br />

que releva a contribuição dos judeus sefarditas, para<br />

a <strong>Medicina</strong> e a Ciência do Século de Ouro português.<br />

Também, o nosso Amato Lusitano, através de<br />

um estilo de narrativa muito própria, evidenciando<br />

por vezes alguma audácia, revela-nos de maneira<br />

simples e numa linguagem de escrita objectiva, as<br />

centenas de casos clínicos (ou curas, como se dizia<br />

à época) que ia observando e tratando, ao longo de<br />

uma vi<strong>da</strong>, pelos muitos locais por onde peregrinou<br />

e clinicou, criteriosamente regista<strong>da</strong>s, nas Sete Centúrias<br />

<strong>da</strong>s Curas <strong>Medicina</strong>is - escrita na língua latina<br />

dos humanistas do Renascimento. Estas cogitações<br />

e demais comentários, permitem-nos espreitar<br />

e avaliar, como seria a natureza humana, na Europa<br />

do século XVI. Para lá dos aspectos meramente médicos,<br />

dão-nos uma ideia dos hábitos alimentares,<br />

ritmos do quotidiano no dia-a-dia, conflitos e tensões<br />

religiosas, económicas e políticas, além <strong>da</strong>s<br />

particulari<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s hierarquias sociais, como se<br />

observássemos, privilegia<strong>da</strong>mente, através de uma<br />

escotilha, de uma qualquer máquina do tempo,<br />

dispostos a descobrir e a partilhar com Amato, as<br />

maravilhas dum mundo novo que ia sendo revelado<br />

perante os nosso olhar atónito como se há muito<br />

esperássemos esta janela de oportuni<strong>da</strong>de.<br />

A importância própria, intrínseca e incontornável<br />

<strong>da</strong>s Centúrias tem a ver com o interesse histórico<br />

que ain<strong>da</strong> nos induz à leitura e atrai, tanto do ponto<br />

de vista médico como clínico e terapêutico. Amato<br />

Lusitano, médico físico (designação por si usa<strong>da</strong> na<br />

dedicatória que faz a Cosme de Médicis na Centúria<br />

I) seguindo a linha tradicional dos ver<strong>da</strong>deiros contadores<br />

de histórias, arte tão antiga de exprimir ocorrências<br />

e factos reais (ou fictícios), vai empregar a<br />

expressão última <strong>da</strong> palavra escrita, para descrever<br />

de modo, sui generis, as Curas - ver<strong>da</strong>deiros retalhos<br />

MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de um médico -, quase to<strong>da</strong>s elas basea<strong>da</strong>s<br />

nas múltiplas experiências pessoais e profissionais<br />

por que passou, ao longo dum périplo de vi<strong>da</strong> tão<br />

sofri<strong>da</strong> como resigna<strong>da</strong> mas intensamente cosmopolita.<br />

Ele percorre a sua Diáspora de judeu errante,<br />

num tempo especialmente conturbado <strong>da</strong> <strong>História</strong><br />

de Portugal e <strong>da</strong> Europa, onde ocorrem uma série<br />

de mutações históricas e sociais, convulsões religiosas,<br />

descobertas e novos conceitos de demografia<br />

que se sucedem a um ritmo alucinante, prefigurando<br />

a transição para uma nova era, pela ascensão <strong>da</strong><br />

burguesia com o Renascimento.<br />

Em to<strong>da</strong> a sua obra, o Homem tem um papel<br />

central, com os seus medos, fantasias, ambições,<br />

crenças e incertezas, onde a vi<strong>da</strong> e a morte caminham<br />

lado a lado. Mas como não podia deixar de<br />

ser, embora sendo referente a um tempo de vi<strong>da</strong><br />

antigo, hoje, passados quinhentos anos, continua a<br />

estimular o nosso imaginário e a enriquecer a curiosi<strong>da</strong>de<br />

do nosso saber.<br />

Amato Lusitano perseguido em boa parte <strong>da</strong><br />

sua vi<strong>da</strong> pelo seu ju<strong>da</strong>ísmo, este grande caminhante<br />

europeu, acaba os seus dias em Salónica em<br />

1568. Como homem de fé e de ciência deve e podese<br />

considerar, um exemplo de ci<strong>da</strong>dão do mundo!<br />

No ano de 2011, comemora-se o 500º aniversário<br />

do nascimento deste eminente médico<br />

e humanista. Esperamos nós que esta efeméride,<br />

não se resuma a um simples colóquio regional em<br />

circuito fechado, com os mesmos de sempre, mas<br />

que tenha uma ver<strong>da</strong>deira dimensão supranacional,<br />

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