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MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />
A CRIANçA NO TEMpO DE AMATO LUSITANO,<br />
UMA ANÁLISE hISTORIOgRÁfICA DAS CENTúRIAS DE CURAS MEDICINAIS<br />
Preâmbulo<br />
Tal como é exposto e de igual modo sublinhado,<br />
na palestra inaugural por mim proferi<strong>da</strong> em<br />
2007, nas XIX Jorna<strong>da</strong>s de <strong>Medicina</strong> <strong>da</strong> Beira Interior,<br />
subordina<strong>da</strong> ao tema<br />
A Criança - aproximações<br />
várias sob o ponto de vista<br />
histórico, aí destaco o<br />
papel subalterno e periférico<br />
que, historicamente,<br />
a criança sempre deteve<br />
na família e na socie<strong>da</strong>de,<br />
independentemente<br />
<strong>da</strong> classe social donde<br />
provinha.<br />
Desde sempre e<br />
quase até aos nossos<br />
dias, a criança e to<strong>da</strong> a<br />
infância, no geral, não<br />
eram ver<strong>da</strong>deiramente<br />
úteis nem relevantes para<br />
o social <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> quotidiana.<br />
Havia uma anulação tácita <strong>da</strong> infância. A criança<br />
seria um pequeno adulto em fase de transição,<br />
sendo trata<strong>da</strong> como tal - um ser imperfeito, sem<br />
identi<strong>da</strong>de que depressa se haveria de transfigurar.<br />
Vestiam-nas como adultos sendo inseri<strong>da</strong>s sem restrições<br />
no mundo dos crescidos podendo participar<br />
e colaborar, de igual modo, nas cerimónias e ritos<br />
envolvendo a morte, com os adultos. As tarefas domésticas<br />
instituíam uma forma comum de educação<br />
e trabalho iniciático para ricos e pobres nos caminhos<br />
<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O conceito de criança bem-educa<strong>da</strong><br />
não existia no século XVI pela possibili<strong>da</strong>de tácita<br />
aceite dos castigos corporais.<br />
A infância era uma curta etapa <strong>da</strong> existência,<br />
sem grande valor aquisitivo para o comportamento<br />
e subsistência familiar, encara<strong>da</strong> como uma vi<strong>da</strong> em<br />
suspenso ou de uma morte pré-anuncia<strong>da</strong>, sendo<br />
apenas inevitável, a criança imagina<strong>da</strong> como ser<br />
sem alma, tornar-se o mais cedo possível adulta 3 ,<br />
e assim, valer-se a si própria,<br />
se entrementes não<br />
desaparecesse pelos<br />
motivos mais dispares:<br />
morte natural, infanticídio,<br />
inanição, incúria, desleixo,<br />
abandono, inércia<br />
afectiva e moral por parte<br />
dos pais e família, epidemias<br />
ou outro tipo de<br />
acidentes e maus-tratos.<br />
As taxas de mortali<strong>da</strong>de<br />
infantil eram elevadíssimas.<br />
A morte dos filhos<br />
era encara<strong>da</strong> naturalmente,<br />
sem angústia nem tristeza,<br />
quase como uma<br />
f a t a l i -<br />
d a d e<br />
divina do destino. Era frequente,<br />
certos pais, persistirem na atitude<br />
medieval de grande indiferença<br />
pela i<strong>da</strong>de, ao oferecerem os filhos<br />
como promessa ao diabo.<br />
Só a partir dos séculos XVII<br />
e XVIII, o colégio irá dedicar-se<br />
de modo especial à educação e<br />
formação dos jovens, através <strong>da</strong>s<br />
autori<strong>da</strong>des eclesiásticas, homens<br />
de lei e pelos recém-chegados,<br />
reformadores moralistas.<br />
A <strong>Medicina</strong> é tão antiga<br />
como a natureza humana, assim<br />
desde sempre acompanha a his-<br />
João-Maria Nabais *<br />
“Houve povos sem médicos 1 mas nunca houve povos sem <strong>Medicina</strong> 2 ” (Plínio)<br />
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