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caderno 23 - História da Medicina

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MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />

A CRIANçA NO TEMpO DE AMATO LUSITANO,<br />

UMA ANÁLISE hISTORIOgRÁfICA DAS CENTúRIAS DE CURAS MEDICINAIS<br />

Preâmbulo<br />

Tal como é exposto e de igual modo sublinhado,<br />

na palestra inaugural por mim proferi<strong>da</strong> em<br />

2007, nas XIX Jorna<strong>da</strong>s de <strong>Medicina</strong> <strong>da</strong> Beira Interior,<br />

subordina<strong>da</strong> ao tema<br />

A Criança - aproximações<br />

várias sob o ponto de vista<br />

histórico, aí destaco o<br />

papel subalterno e periférico<br />

que, historicamente,<br />

a criança sempre deteve<br />

na família e na socie<strong>da</strong>de,<br />

independentemente<br />

<strong>da</strong> classe social donde<br />

provinha.<br />

Desde sempre e<br />

quase até aos nossos<br />

dias, a criança e to<strong>da</strong> a<br />

infância, no geral, não<br />

eram ver<strong>da</strong>deiramente<br />

úteis nem relevantes para<br />

o social <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> quotidiana.<br />

Havia uma anulação tácita <strong>da</strong> infância. A criança<br />

seria um pequeno adulto em fase de transição,<br />

sendo trata<strong>da</strong> como tal - um ser imperfeito, sem<br />

identi<strong>da</strong>de que depressa se haveria de transfigurar.<br />

Vestiam-nas como adultos sendo inseri<strong>da</strong>s sem restrições<br />

no mundo dos crescidos podendo participar<br />

e colaborar, de igual modo, nas cerimónias e ritos<br />

envolvendo a morte, com os adultos. As tarefas domésticas<br />

instituíam uma forma comum de educação<br />

e trabalho iniciático para ricos e pobres nos caminhos<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O conceito de criança bem-educa<strong>da</strong><br />

não existia no século XVI pela possibili<strong>da</strong>de tácita<br />

aceite dos castigos corporais.<br />

A infância era uma curta etapa <strong>da</strong> existência,<br />

sem grande valor aquisitivo para o comportamento<br />

e subsistência familiar, encara<strong>da</strong> como uma vi<strong>da</strong> em<br />

suspenso ou de uma morte pré-anuncia<strong>da</strong>, sendo<br />

apenas inevitável, a criança imagina<strong>da</strong> como ser<br />

sem alma, tornar-se o mais cedo possível adulta 3 ,<br />

e assim, valer-se a si própria,<br />

se entrementes não<br />

desaparecesse pelos<br />

motivos mais dispares:<br />

morte natural, infanticídio,<br />

inanição, incúria, desleixo,<br />

abandono, inércia<br />

afectiva e moral por parte<br />

dos pais e família, epidemias<br />

ou outro tipo de<br />

acidentes e maus-tratos.<br />

As taxas de mortali<strong>da</strong>de<br />

infantil eram elevadíssimas.<br />

A morte dos filhos<br />

era encara<strong>da</strong> naturalmente,<br />

sem angústia nem tristeza,<br />

quase como uma<br />

f a t a l i -<br />

d a d e<br />

divina do destino. Era frequente,<br />

certos pais, persistirem na atitude<br />

medieval de grande indiferença<br />

pela i<strong>da</strong>de, ao oferecerem os filhos<br />

como promessa ao diabo.<br />

Só a partir dos séculos XVII<br />

e XVIII, o colégio irá dedicar-se<br />

de modo especial à educação e<br />

formação dos jovens, através <strong>da</strong>s<br />

autori<strong>da</strong>des eclesiásticas, homens<br />

de lei e pelos recém-chegados,<br />

reformadores moralistas.<br />

A <strong>Medicina</strong> é tão antiga<br />

como a natureza humana, assim<br />

desde sempre acompanha a his-<br />

João-Maria Nabais *<br />

“Houve povos sem médicos 1 mas nunca houve povos sem <strong>Medicina</strong> 2 ” (Plínio)<br />

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