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Não obstante, centremo-nos no objectivo principal<br />
deste trabalho que é o de desenvolver um<br />
esboço do pensamento deste médico no que diz<br />
respeito à Saúde Escolar e, mais propriamente, ao<br />
modo como ele encarava a profissão de médicoescolar<br />
e o seu contributo para a emergência/aparecimento<br />
de novos grupos profissionais no interior <strong>da</strong><br />
paisagem educativa como, por exemplo, as Enfermeiras<br />
Escolares e ain<strong>da</strong> as conexões com o campo<br />
educativo e assistencial.<br />
“O Movimento Higienista em Portugal”<br />
O século XIX ficou marcado pela necessi<strong>da</strong>de<br />
de combater um conjunto de doenças infecto-contagiosas<br />
como a tuberculose, a peste bubónica, o<br />
tétano, entre outras mais ou menos frequentes no<br />
nosso país. Vários foram os autores que, na segun<strong>da</strong><br />
metade de Oitocentos, desenvolveram estudos<br />
ligados a estas doenças e deram um importante<br />
contributo no sentido do seu combate. Muitos desses<br />
trabalhos apontavam para a necessi<strong>da</strong>de de se<br />
expandirem novas mentali<strong>da</strong>des, hábitos e costumes,<br />
no que diz respeito às “noções de higiene e<br />
prática <strong>da</strong> sani<strong>da</strong>de” junto dos diferentes aglomerados<br />
populacionais (Martins, 1999: 52). Este problema<br />
foi realçado por várias vezes e inúmero protagonistas<br />
como por exemplo Ricardo Jorge.<br />
Assim, foi-se enraizando, gradualmente, a necessi<strong>da</strong>de<br />
de cui<strong>da</strong>r do corpo como forma de combate<br />
às doenças, e construiu-se um movimento que<br />
fez com que a Educação tivesse um papel importan-<br />
64<br />
MEDICINA NA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI<br />
te na definição dos hábitos de higiene junto <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s<br />
mais jovens <strong>da</strong> população. Mais uma vez, a<br />
Escola foi vista como a solução possível para a resolução<br />
dos problemas deste Homem em construção.<br />
O movimento higienista e de medicina social<br />
ganhou novos públicos e uma projecção maior na<br />
primeira metade do século XX, influenciando decisivamente<br />
a conduta do homem face a si mesmo e<br />
estabelecendo um conjunto de politicas orientadoras<br />
face aos problemas higienistas em associação<br />
com as práticas educativas.<br />
Os médicos tiveram um importante papel, em<br />
cruzamento com a Educação, na fiscalização dos<br />
diferentes dispositivos formados à época, como a<br />
“Liga Nacional Contra a Tuberculose” onde se destacou,<br />
por exemplo, Miguel Bombar<strong>da</strong> no combate<br />
a esta doença utilizando os meios de divulgação e<br />
informação que tinha ao seu dispor para ir ao encontro<br />
de uma determina<strong>da</strong> “consciência social”<br />
que deveria ser aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> no que diz respeito<br />
aos problemas de higiene.<br />
Efectivamente, os médicos afirmaram-se<br />
como representantes de uma ciência do corpo face<br />
ao sentimento religioso que se impunha, ain<strong>da</strong>, na<br />
primeira metade do século XX.<br />
Convém lembrar que este processo de afirmação<br />
do saber médico só foi possível porque o<br />
contexto político e social em que se vivia o permitiu.<br />
Recordemos que no final do século XIX e principio<br />
do século XX estavam em marcha um conjunto de<br />
ideias liga<strong>da</strong>s ao positivismo que se queria instalar<br />
definitivamente, assim como ideais políticos como o<br />
Republicanismo que haveriam de vingar em 1910.<br />
Esta consciência de cientista do corpo, associa<strong>da</strong><br />
aos médicos, é relevante porque só assim se<br />
compreende como, de modo gradual, entraram em<br />
diferentes instituições <strong>da</strong> época.<br />
Segundo Alcina Martins, “no século XX, os<br />
médicos e as suas organizações juntam-se para se<br />
imporem como guardiões <strong>da</strong> saúde pública, implantando<br />
o movimento higienista e de medicina social,<br />
defendendo a ciência médica, influenciando as decisões<br />
governamentais” (1999: 63).<br />
Apesar <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> figura médica, ao<br />
longo do século XX surgem novos elementos profissionais<br />
ligados ao campo <strong>da</strong> saúde que, depois, se<br />
cruzarão com o campo educacional: o caso <strong>da</strong>s Enfermeiras,<br />
especificamente as Enfermeiras Escolares.