O Partido com Paredes de Vidro - Partido Comunista Português
O Partido com Paredes de Vidro - Partido Comunista Português
O Partido com Paredes de Vidro - Partido Comunista Português
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Álvaro Cunhal<br />
<strong>com</strong>petência. Mas a <strong>com</strong>petência para <strong>de</strong>cidir não significa necessariamente<br />
autorida<strong>de</strong>.<br />
A autorida<strong>de</strong> no nosso <strong>Partido</strong> consiste numa concepção,<br />
numa prática e numa realida<strong>de</strong> extraordinariamente mais ricas<br />
e mais profundas do que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão.<br />
Sem dúvida que aos organismos e aos dirigentes cabe <strong>de</strong>cidir<br />
na esfera das suas <strong>com</strong>petências. Sem dúvida que as <strong>de</strong>cisões<br />
tomadas são para cumprir. Mas esta realida<strong>de</strong> respeita mais<br />
às <strong>com</strong>petências e à disciplina do que à real autorida<strong>de</strong>.<br />
O facto <strong>de</strong> um organismo ou um dirigente tomar uma<br />
<strong>de</strong>cisão e essa <strong>de</strong>cisão ser cumprida não significa só por si autorida<strong>de</strong>.<br />
Quando uma <strong>de</strong>cisão é tomada, o trabalho directivo não<br />
consiste em proclamar a <strong>de</strong>cisão e exigir o seu cumprimento em<br />
nome da autorida<strong>de</strong>.<br />
Só em circunstâncias verda<strong>de</strong>iramente excepcionais é legítimo<br />
invocar o argumento da autorida<strong>de</strong> em vez da explicação<br />
e do convencimento.<br />
Quando sistemática, a invocação do argumento da autorida<strong>de</strong><br />
impe<strong>de</strong> o <strong>de</strong>bate construtivo, priva o <strong>Partido</strong> da contribuição<br />
dos militantes, entrava a reflexão e ten<strong>de</strong> a fomentar a falsa<br />
i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o mais responsável tem sempre razão.<br />
No seu <strong>de</strong>senvolvimento, tais tendências criam condições<br />
para situações <strong>de</strong> irresponsabilida<strong>de</strong> e, no extremo limite, preconceitos<br />
<strong>de</strong> infalibilida<strong>de</strong>. Não reforçam antes enfraquecem a<br />
autorida<strong>de</strong>.<br />
São sintomas, não da força e consistência da autorida<strong>de</strong> mas<br />
da sua fraqueza, a insistência em que essa autorida<strong>de</strong> existe, a<br />
valorização repetida dos méritos dos organismos <strong>de</strong> direcção e<br />
dos dirigentes, os balanços <strong>de</strong>feituosos da activida<strong>de</strong>, apresentando<br />
os êxitos e ocultando <strong>de</strong>ficiências e erros.<br />
É uma falsa autorida<strong>de</strong>, que não resiste ao sopro <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia<br />
interna, a autorida<strong>de</strong> imposta <strong>com</strong>o regra hierárquica,<br />
<strong>com</strong>o seguidismo inconsciente, <strong>com</strong>o disciplina <strong>de</strong> carácter<br />
administrativo. São <strong>de</strong> <strong>com</strong>bater e <strong>de</strong> banir, on<strong>de</strong> quer que apareçam,<br />
quaisquer manifestações <strong>de</strong> abuso da autorida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
142