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12 Económico — Weekend Sábado 5 Dezembro 2009 ECONOMIA Fabricantes de sapatos satisfeitos com reforço das medidas anti-dumping Apesar de satisfeitos, os empresários consideram que o prazo de 15 meses é insuficiente. Daqui a um ano estarão de novo a fazer pressão junto da UE. Elisabete Felismino elisabete.felismino@economico.pt Os empresários do sector do calçado estão satisfeitos coma prorrogação por mais 15 meses das medidas anti-dumping por parte da Comissão Europeia para o calçado de couro oriundo da China e do Vietname. Os dois países continuam assim obrigados a pagar taxas de 16,5% para o calçado chinês e de 10% para o calçado vietnamita para entrar no mercado europeu. “É bastante positiva para a indústria portuguesa, sobretudo num contexto de impasse porque está a passar a nossa economia”, diz o presidente do grupo Kyaia, Fortunato Frederico. “Obviamente que achamos que podiam ter ido mais além naquestãodoprazo,masa verdade é que assim ganhamos alguma folga para nos organizarmos e depois quando o prazo estiver prestes a terminar logo vemos o que podemos voltar a fazer”, acrescentou o mesmo responsável. Já Eugénio Faria, da empresa Jefar, uma das maiores do sector, considera que “esta é uma boa medida e uma boa notícia para o sector, uma vez que acaba por beneficiar a indústria de calçado portuguesa”, que concorre com a chinesa e vietnamita. Mas a satisfação por parte dos empresários do calçado não é total, uma vez que consideramqueaComissãodeviae podia ter ido mais além na TRÊS PERGUNTAS A... ALFREDO JORGE Director Executivo da Associação do Calçado “O calçado da China e Vietnam chegam com um preço artificial” Que impacto tem a prorrogação das medidas anti-dumping para o sector em Portugal? O impacto é significativo porque questão do prazo uma vez que o limite legal para este tipo de medidas é de cinco anos. Mais. Os empresários invocam que daquiaumanoestarãodenovo a argumentar junto da Comissão Europeia por novo prolongamento de prazo. A Apiccaps, associação do sector, acredita que o prazo de alargamento de 15 meses resultou de uma solução de compromisso entre os produtores de calçado, onde está Portugal, e os importadores, onde estão os países nórdicos. as importações de calçado da China e do Vietname chegam à Europacomumpreço artificialmente baixo. Ou seja, há aqui uma distorção da concorrência. Mas esta medida é sobretudo o reconhecimento da sã concorrência e do comércio justo. Porém, consideramos que 15 meses é um período insuficiente, e nem se percebe porque em situações semelhantes sempre foram adoptados os cinco anos máximos permitidos por lei. Porque considera que No fundo, os empresários viram satisfeitas as suas reivindicações com a comissão a reconhecer por um lado a prática de dumping e, por outro, que essa prática implica prejuízo para os produtores europeus. Alfredo Jorge, director executivo da Associação de Calçado é peremptório sobre esta matéria: “Estas medidas que tudo indica entram em vigor a 2 de Janeiro de 2010 vão vigorar até Março ou Abril de 2011, o que quer dizer que em Dezembro do próximo ano andaremos mais uma vez a ouvir as partes interessadas no sentido de voltar a argumentar junto da Comissão Europeia”. E o director executivo da Apiccaps acrescenta: “Penso que não se foi mais além porque é digamos que um compromisso entre os produtores de calçado [Portugal, Espanha, Itália, França] e os importadores [os países nórdicos]”. Resposta chinesa Da parte do governo chinês a resposta não se fez esperar. Segundo a imprensa daquele país, quer os grupos comerciais, quer o governo chinês estão insatisfeitos com a proposta da Comissão Europeia em prolongar o prazo das medidas antidumpingsobreossapatosde courodaChinaedoVietname por mais 15 meses. Um representante do governo chinês chega mesmo a adiantar que se for aprovada esta medida prejudica os interesses mútuos da ChinaedaUE.■ 15 meses é um prazo insuficiente? Considero que 15 meses é insuficiente na medida em que não acredito que findo esse período a China e o Vietname reveja a sua posição face aos preços. Repare que os preços na Europa não aumentaram o que aconteceu foi que as margens dos produtores foram diminuindo pelo que o preço não se reflectiu no consumidor final. Quanto às categorias abrangidas pensa que estas CALENDÁRIO 17 de Dezembro Depois da proposta da Comissão Europeia, será a vez do comité dos representantes permanentes debater o prolongamento das medidas anti-dumping para a China e Vietname. 22 de Dezembro O Conselho Europeu reúne para deliberar definitivamente, e tudo leva a crer que aprove, a recomendação da Comissão Europeia. 2 de Janeiro Caso não surjam nas duas datas anteriores nenhuns entraves, é esta a altura da publicação da decisão final dos estados membros. deveriam ser alargadas? Para Portugal as categorias abrangidas são suficientes, uma vez que representam entre 65% a 80% do calçado português. Numa primeira fase não se tinha incluído o calçado de criança, mas numa fase posterior optou-se por introduzir também esse segmento e incluiu-se também o território de Macau, pois verificava-se que havia um grande fluxo oriundo da China e do Vietname que passava via Macau. ■ O calçado que chega à Europa vindo da China e do Vietnam é vendido ao preço abaixo do custo. As medidas anti-dumping tentam esbater estas diferenças.
Jason Lee/Reuters Sábado 5 Dezembro 2009 Weekend — Económico 13 Calçado português custa o dobro do asiático O sector do calçado respira de alívio com as medidas antidumping. Elisabete Felismino elisabete.felismino@economico.pt A Comissão Europeia, depois de ter comprovado que as empresas vietnamitas e chinesas exportavam para a Europa a preços mais baixos do que o preço de custo, decidiu impor taxas de 10% e 16,5% respectivamente sobre os produtos provenientes dessas países. Esta medida de protecção foi adoptada em 2006 e agora, três anos depois, a Comissão Europeia reconhece de novo as práticas de dumping por estes dois países. A situação é tanto mais preocupante na medida em que as importações chinesas aumentaram 99,86% em quantidade para os 1.763 milhões de pares de sapatos, e 96,47% em valor para os 5.789 milhões de euros. Já no que toca ao Vietname, as exportações daquele país cresceram 74% para os 2,054 milhões de pares e 56% para os 8 mil milhões de euros. No calçado de couro, o aumento foi ainda mais significativo, tendo a China exportado 1.759 milhões de euros correspondentes 182 milhões de pares. Já o Vietname exportou 288 milhões de pares no valor de 2.836 milhões de euros. O Vietname colocava na Europa calçado a um preço médio de 9,85 euros, enquanto que o produto oriundo da China era colocado no mercado a um preço médio de 9,63 euros. A situação é tanto mais preocupante na medida em que o calçado português é colocado no mercado a um preço médio de 19,99 euros, ou seja, mais do dobro do que o oriundo dos mercados asiáticos. Em causa está pois um sector que tem 1.381 empresasedáempregoapertode 36 mil pessoas, sendo ainda responsável por 1,3 mil milhões de euros nas exportações. O sector do calçado tem estado debaixo dos holofotes, com a situação periclitante de duas importantes empresas do sector, como são a Investvar e a Rhode. As duas empresas que já foram consideradas as maiores do sector estão a braços com uma importante crise, estando mesmo a um passo de poderem fechar portas e deixar no desemprego mais de 1.600 trabalhadores. ■ Os sapatos que chegam da China e do Vietname pagam taxas por praticarem preços abaixo do custo. EXPORTAÇÕES 1,3 mil milhões O sector do calçado é responsável por 1,3 mil milhões de euros, correspondentes a 64,7 milhões de sapatos. Nº EMPRESAS 1.381 O sector tinha 1.448 empresa em 2006. Em 2008, o número de empresas decresceu para 1381. EMPREGO 35.767 Osectorteveoseuaugeem número de empregados em 2004 quando atingiu os 40.255. Quatro anos depois registava menos 4.488 empregos. PRODUÇÃO 1,4 mil milhões A indústria produz 67,689 milhões de pares de sapatos, responsáveis por um valor de 1,4 milhões de euros.
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