Weekend 1195 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico
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Victor Fernandes<br />
Director do “Expansão”<br />
O triângulo virtuoso<br />
Sendo uma das figuras geométricas mais interessantes,<br />
o triângulo caracteriza-se por ter três<br />
vértices. Cada um deles pode formar um ângulo de<br />
amplitude diferente como o triângulo isósceles<br />
onde um dos ângulos tem noventa graus e os outros<br />
dois têm cada um quarenta e cinco graus. No<br />
entanto, é a soma de todos eles que dá os cento e<br />
oitenta graus do triângulo.<br />
Angola, Brasil e Portugal estão – neste findar de<br />
década do início do século XXI – cada vez mais empenhados<br />
no fortalecimento das relações entre os<br />
três países lusófonos. Em bom rigor ainda se<br />
fazem as trocas comerciais um pouco à margem<br />
de uma definição estratégica clara. Tratam-se<br />
apenas de iniciativas empresariais de internacionalização<br />
de alguns grupos económicos por um<br />
lado, ou então da importação de matérias-primas<br />
e produtos acabados por outro. Mas o que dizer de<br />
uma hipotética união económica entre estes três<br />
países? Cada um deles representa uma relação com<br />
um mercado económico de milhares de dólares e<br />
milhões de consumidores.<br />
Échegadaaalturadepelomenos<br />
estes três países -Portugal, Angola<br />
e Brasil - assumirem como<br />
estrategicamente importante a<br />
criação de um triângulo económico.<br />
Angola, que se vai afirmando neste momento<br />
como uma potência ao nível regional na zona da<br />
África Austral, tendo a SADCC como instrumento de<br />
trabalho e de garantia da manutenção de uma visão<br />
e de um rumo para aquela zona do continente, regista<br />
nesta altura taxas de crescimento absolutamente<br />
notáveis. O Brasil, que é um dos países do<br />
mundo onde a crise financeira que abalou o mundo<br />
vai ter uma recuperação mais rápida, possui algumas<br />
das maiores empresas do globo na sua área de<br />
actividade. E também está ligado a um dos mercados<br />
mais pujantes e mais densamente povoados da<br />
América, o Mercosul. No outro lado do vértice do<br />
triângulo vem Portugal. Ponta de entrada para o velho<br />
continente, a Europa, representa hoje um acesso<br />
a um mercado de milhões de consumidores e de<br />
grande industrialização e tecnologia de ponta.<br />
A ideia não é de hoje e tem sido mais ou menos<br />
discutida nas várias reuniões em sede da CPLP, mas<br />
pensoqueéchegadaaalturadepelomenosestes<br />
três países assumirem como estrategicamente importante<br />
a criação deste triângulo económico que<br />
pode e deve ser muito virtuoso. ■<br />
PUB<br />
EDITORIAL<br />
O orçamento mais difícil<br />
O Orçamento do Estado para 2010 vai ser mais importante do que<br />
se previa, pelo menos em função dos dados que são hoje<br />
conhecidos e que foram negados durante meses pelo Governo<br />
numa gestão política das expectativas levada ao limite do aceitável.<br />
A situação de desequilíbrio das contas públicas, não só pelo nível de<br />
défice público, mas sobretudo pela dimensão da dívida pública que,<br />
segundo o FMI, vai atingir os 100% do PIB, é de tal forma grave que<br />
a sua correcção tem de começar já, imediatamente. Sem demoras.<br />
Se a necessidade de corrigir as contas públicas já é, por si só, um<br />
problema, ou se quisermos, um desafio, a necessidade de o fazer<br />
num contexto de crise económica, com mais despesa e menos<br />
receita e com a necessidade de apoiar a economia e as empresas, é<br />
uma tarefa hercúlea. E, valha a verdade, todos falam, incluindo o<br />
Governo, mas “ninguém os vê a fazer nada”, parafraseando os Gato<br />
Fedorento. Pelo contrário, todos falam na correcção das contas<br />
públicas, mas o que se vê é a apresentação de propostas para mais<br />
despesa ou menos receita. Vamos por partes: seria uma tragédia<br />
para a economia portuguesa um eventual aumento de impostos,<br />
como sugere o Fundo monetário Internacional. Além de induzir um<br />
novo travão à actividade económica, que está longe, muito longe,<br />
de ser a necessária, o aumento de impostos induziria mesmo um<br />
incentivo negativo à fuga aos impostoseàevasão fiscal, tal é<br />
objectivamente o nivel de carga fiscal no país e, mais do que isso, a<br />
percepção dos portugueses de que pagam impostos a mais,<br />
sobretudo tendo em conta o que recebem do Estado em troca.<br />
Fechado este caminho, esperemos..., torna-se absolutamente<br />
fundamental reduzir a despesa. Exactamente, o Estado precisa de<br />
gastar menos e não apenas de gastar menos em percentagem do<br />
PIB. E isso tem de ser conseguido em simultâneo com a<br />
manutenção de apoios transitórios à economia nesta fase de crise,<br />
apoios selectivos, mas transparentes.<br />
José Sócrates tem razão quando afirma que o Parlamento não<br />
pode, nem deve, criar um ‘orçamento azul’ ou um ‘orçamento<br />
sombra’ e, ao mesmo tempo, aprovar a proposta de orçamento que<br />
o Governo vai apresentar para 2010. Dos dois caminhos, a oposição<br />
vai ter de escolher um, sob pena de bloquear o país. No entanto,<br />
José Sócrates tem também de dar os sinais, mais, tem de tomar as<br />
medidas concretas para mostrar que vai reequilibrar as contas<br />
públicas. Se não o fizer, estará a cavar a sua sepultura política, mas,<br />
pior, estará a cavar a sepultura económica e social do país.<br />
Entendam-se, por favor<br />
A maior empresa industrial do país vive uma guerra accionista que<br />
ameaça o seu futuro e, logo, tem consequências muito negativas<br />
para a economia portuguesa e para as empresas, pequenas, médias<br />
e grandes, com quem trabalha. A Cimpor vive uma espécie de<br />
repetição da crise accionista que atingiu o Millennium bcp,<br />
curiosamente com alguns dos mesmos accionistas, factio<br />
comprovado pela decisão conhecida esta semana de concentrar em<br />
Bayão Horta as funções de charmain e de presidente executivo da<br />
empresa. Todos os accionistas têm a responsabilidade, têm mesmo<br />
a obrigação de se enterem, mas há um accionista com<br />
responsabilidades particulares: a Caixa Geral de Depósitos entrou<br />
na Cimpor para estabilizar a empresa. é, pois, isso que tem de fazer.<br />
Mais e mais leis<br />
Portugal não tem falta de leis. Não é pela diferença entre crimes<br />
de corrupção para acto lícito ou ilícito que este crime é ou não<br />
combatido com mais força em Portugal. O problema está na<br />
aplicação da lei, na qualidade dos processos. E isto tem muito mais<br />
a ver com meios dados à investigação policial e da PGR do que<br />
com leis. Ou, até, mais com a forma como a sociedade encara a<br />
corrupção. Sem sanção social, não há lei que valha no combate à<br />
corrupção. Porque desta decorre a intolerância para com este<br />
crime e a denúncia, essencial para o estancar.<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 3<br />
A melhor<br />
notícia<br />
da semana<br />
FRANCISCO FERREIRA DA SILVA<br />
Subdirector<br />
A dois dias do início da Conferência<br />
de Copenhaga sobre as<br />
alterações climáticas e a forma<br />
de as combater, a melhor notícia<br />
da semana é, sem sombra de<br />
dúvida, aquela que hoje publicamos<br />
sobre a decisão da Renault-Nissan<br />
instalar uma fábrica<br />
de baterias para automóveis<br />
eléctricos em Portugal.<br />
Com um investimento previsto<br />
de 250 milhões de euros, a nova<br />
fábrica ficará situada em Aveiro<br />
e deverá criar 200 postos de<br />
trabalho, a partir de 2012.<br />
É uma boa notícia porque representa<br />
uma aposta numa tecnologia<br />
amiga do ambiente,<br />
mas também porque significa<br />
um novo projecto de investimentoestrangeirononosso<br />
país com a correspondente<br />
criação de emprego. Além disso,<br />
este investimento é encarado<br />
como uma âncora para outros<br />
projectos nesta área de negócio<br />
nascente e onde várias<br />
marcas automóveis estão a<br />
apostar, perspectivando-a<br />
comoumaáreapotencialdeexportações<br />
futuras.<br />
Esta iniciativa encaixa ainda<br />
na iniciativa do Governo fomentar<br />
a instalação de uma<br />
rede de 1.300 postos de abastecimento<br />
de carros eléctricos<br />
no nosso país até ao final de<br />
2011. Mas também nos incentivos<br />
à mobilidade sustentável,<br />
através de subsídios à aquisição<br />
de veículos eléctricos por<br />
particulares.<br />
A aposta nos automóveis<br />
eléctricos faz parte de uma estratégia<br />
virada para o ambiente e<br />
para as energias renováveis,<br />
onde o nosso país tem uma posição<br />
de relevo a nível internacional.<br />
Posição que deverá ser reforçada<br />
nos próximos anos com<br />
a instalação de novos parques<br />
eólicos e a construção de oito<br />
novas barragens. ■