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4 Económico — Weekend Sábado 5 Dezembro 2009 OPINIÃO Copenhaga tem de ser o fim do princípio MARTIN WOLF Colunista do Financial Times A Cimeira de Copenhaga sobre as alterações climáticas vai ficar aquém do desejado. Mas será que isso tem alguma importância? Sim e não. Sim porque é imperativo agir. Não porque a haver um acordo não será o mais adequado. Não vai ser fácil lidar com as alterações climáticas. É fundamental conseguirmos atingir as metas eficaz e eficientemente. As novas delongas devem, pois, ser usadas para alcançar estes objectivos. Em minha opinião, justifica-se uma acção determinada e resoluta. Opinião esta controversa. Os cépticos avançam dois contra-argumentos: primeiro, a ciência que sustenta as alterações climáticas é extremamente incerta; segundo, os custos excedem os benefícios. Isto não basta, porém, para argumentar que a ciência é incerta. Dados os riscos, temos de ter a certeza de que a ciência está errada antes de acatarmos a opinião dos cépticos. Quando descobrirmos que está errada será, talvez, tarde de mais para agirmos eficazmente. Não podemos repetir experiências com apenas um planeta. Felizmente, a evidência diz-nos que os custos da acção não deverão ser proibitivos. O Banco Mundial defende no último RelatóriosobreoDesenvolvimentoMundialqueos custos de restrições mais rigorosas sobre as emissões seriam modestos. No que respeita aos benefícios, sublinho a importância de se evitar uma catástrofe climática. Ora, não temos o direito de correr tais riscos. Não obstante, os cépticos prestam-nos um serviço inestimável ao recordarem-nos que é fundamental prosseguir com a monitorização dos desenvolvimentos climáticos actuais. Mas não só. Também nos lembram que agir tem custos e que alguns deles – manter milhares de milhões de pessoas na miséria, por exemplo – seriam inaceitáveis. Felizmente, como realça o Banco Mundial, as emissões dos pobres são ínfimas. A redução nas emissões que se obteria substituindo a frota americana de veículos utilitários desportivos (SUV) por automóveis que obedecem aos padrões europeus de economia de combustível, permitiria cobrir as emissões resultantes do fornecimento de energia eléctrica a quem não tem acesso à mesma actualmente, isto é, a cerca de 1,6 mil milhões de pessoas. Agir justifica-se e, muito provavelmente, o custo da acção não será proibitivamente oneroso. O desafio será, apesar disso, imenso. Segundo o relatório sobre as Perspectivas Energéticas Mundiais da Agência Internacional de Energia (AIE), teríamos de “descarbonizar” o crescimento para podermos cingir as concentrações atmosféricas de “equivalente de CO2” a 450 partes por milhão (ppm), isto é, o nível consistente com um aumento da temperatura média global na ordem dos 2ºC. Teríamos, pois, de fazer tudo – reduzir a procura, expandir as renováveis, investir na energia nuclear, desenvolver a captura e armazenamento de carbono, substituir o carvão pelo gás e proteger as florestas – para atingir esse objectivo. Como nos temos portado até aqui? Mal, muito mal. Enquanto falamos, debatemos, discutimos, os níveis de emissões aumentam. A recessão também ajudou, no entanto, não podemos nem devemos depender do “armagedão económico”. Segundo a AIE, as emissões de CO2 passaram de 20,9 gigatoneladas (Gt) em 1990 para 28,8 Gt em 2007. No “cenário de referência” da AIE, as emissões de CO2 deverão ascender a 34,5 Gt em 2020 e a 40,2 Gt em 2030, o que corresponde a uma taxa média de crescimento de 1,5% ao ano no referido período. Os países em desenvolvimento e emergentes “serão responsáveis pelo crescimento projectado de emissões resultantes do consumo de energia até 2030”, sendo que a China responde por 55%desseaumentoeaÍndiapor18%. Se não alterarmos esta tendência o quanto antes, os custos inerentes à redução da temperatura serão muito mais onerosos ou, no pior dos casos, proibitivos. Para a AIE, se o objectivo é limitar a concentração de gases com efeito de estufa para 450 ppm, então, teremos de somar, por cada ano perdido – isto é,forada“rota”queénecessárioseguir– 500 mil milhões de dólares ao custo global estimado de 10.500 biliões de dólares. Estes custos resultam da vida particularmente longa dos activos de capital usados na produção de energia e da vida ainda mais longa do CO2 na atmosfera. O cenário alternativo é muito diferente: em vez das 40,2 Gt de emissões resultantes do consumo de energia em 2030 teríamos apenas26,4Gt.Odiferencialégrande.AEuropean Climate Foundation, o maior financiador de iniciativas que visam mudar as políticas europeias para o clima, refere num breve artigo que os progressos alcançados nos contactos preparatórios da Cimeira de Copenhaga não bastam*. As propostas em cima da mesa são modestas e insuficientes, mesmo numa perspectiva optimista. Isto é, ficam cerca de um terço aquém das reduções necessárias até 2020 para podermos fixar um limite de 450 ppm de equivalente de CO2. Pretendia-se que Copenhaga fosse a linha de partida do novo caminho a seguir, mas é muito provável que isso não aconteça, uma vez que nem a administração americana nem os países em desenvolvimento estão dispostos a assumir compromissos vinculativos. Copenhaga parece, pois, o fim do princípio. É praticamente consensual que o mundo deve agir. É consensual que a retórica poucos frutos deu até agora. É tempo de agir – se não em Copenhaga o quanto antes. Infelizmente, isto não significa que daí “ A redução nas emissões que se obteria substituindo a frota americana de veículos utilitários desportivos (SUV) por automóveis que obedecem aos padrões europeus de economia de combustível, permitiria cobrir as emissões resultantes do fornecimento de energia eléctrica a quem não tem acesso à mesma actualmente, isto é, a cerca de 1,6 mil milhões de pessoas. A cimeira de Copenhaga começa na próxima segunda-feira, na capital dinamarquesa. Sobre a mesa está a negociação de um ecordo pós-Quioto. possa emergir o acordo ideal. As políticas a aplicar devem ser o mais eficazes e eficientes possível. Que quer isto dizer? Enuncio de seguida três critérios. Primeiro, precisamos de preços para o carbono plausíveis para um planeamento a longoprazo.Comoéóbvio,nãopoderãoser fixos para sempre. Terão de ser ajustados em função das circunstâncias. Porém, terão de ser muito mais estáveis do que são actualmente no mercado de licenças de emissões da União Europeia. A meu ver, é mais apelativa a solução de um imposto do que o modelo ‘cap and trade’. Segundo, importa distinguir entre quem paga a factura e onde se processa a redução
“ Precisamos de preços para o carbono plausíveis para um planeamento a longo prazo. Como é óbvio, não poderão ser fixos para sempre. de emissões. Esta deve ter lugar onde a eficiência for maior. Razão pela qual as emissões dos países em desenvolvimento têm de ser incluídas, embora os custos devam recair sobre os países mais ricos. Não só porque podem suportar o ónus financeiro, mas porque foram eles quem produziu o grosso das emissões passadas. Terceiro, e último, é preciso desenvolver e aplicar inovação às tecnologias mais relevantes, assim como atribuir subsídios em larga escala à inovação**. Resolver o problema das alterações climáticas é o maior desafio colectivo que a Humanidade alguma vez teve de enfrentar. O êxito desta demanda depende de uma acção dispendiosa e concertada entre numerosos países para podermos dar resposta a uma ameaça distante em nome daqueles que ainda não nasceram, sob a inevitável incerteza dos custos da inacção. Chegámos, contudo, a um ponto em que existe um amplo consenso sobre a naturezadaameaçaeotipodepolíticasquedevemos adoptar para lidar com este problema. PoderemosnãochegaraumacordoemCopenhaga,masé hora de decidirmos. Ou agimos depressa ou ficaremos a saber se os cépticos têm razão. A prevalecer a inacção, como parece provável, espero que eles tenham razão. Mas duvido que assim seja. ■ * “Taking stock”, 17 de Novembro de 2009, www.project-catalyst.info ** “No green growth without innovation”, www.bruegel.org Exclusivo Financial Times Tradução de Ana Pina Sábado 5 Dezembro 2009 Weekend — Económico 5 Scanpix Denmark/Reuters RELAÇÃO HISTÓRICA ENTRE AS EMISSÕES E O PRODUTO ECONÓMICO Emissões de CO2 resultantes do consumo de energia (Gt). 35 30 25 20 15 10 5 0 0 Revolução Utilização sustentável industrial de energia* 1750 2050 1 10 2007 100 Revolução energética e ambiental 2030 1 000 * Partindo do pressuposto de que se mudam as políticas para se estabilizarem as emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera nas 450ppm de equivalente de CO2 Fonte: AIE; Banco Mundial; Point Carbon CENÁRIOS DE POUPANÇA DE EMISSÕES (À ESCALA MUNDIAL) Emissões de CO2 resultantes do consumo de energia (Gt). 42 38 34 30 26 2010 2015 Cenário de referência Cenário 450* 2020 2025 2030 Fim de utilização Centrais eléctricas 10 000 Renováveis Biocombustíveis Nuclear Captura e armazenamento de carbono (CAC) * Partindo do pressuposto de que se mudam as políticas para se estabilizarem as emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera nas 450ppm de equivalente de CO2 Fonte: AIE; Banco Mundial; Point Carbon POUPANÇA NOS SUV CONTRA ELECTRICIDADE Emissões (milhões de toneladas de CO2). 200 150 100 50 0 Redução substituindo SUV americanos pelos padrões europeus de economia de combustível Fonte: AIE; Banco Mundial; Point Carbon Aumento fornecendo electricidade básica a 1,6 mil milhões de pessoas, actualmente sem acesso PREÇO DAS LICENÇAS DE EMISSÕESDAUE Contrato de Dezembro de 2009. (€ por tonelada) 30 25 20 15 10 5 2006 Fonte: AIE; Banco Mundial; Point Carbon 2009
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