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24 | Outlook | Sábado, 5.12.2009 BEST OF One for the road Normalmente, as grandes casas do Vinho do Porto apenas declaram Vintage três vezes por década. Se as razões são climáticas ou comerciais, pouco i mporta. O 2007, que agora nos chega, é um ano para celebrar OPortoVintageéotopodegama dos rubies (envelhecimento não oxidativo, logo focados na pureza dos frutos violetas) comooPortoColheitaéotopo de gama dos Tawnies (envelhecimentooxidativo,emtonéisdemadeira, que mais rapidamente amaciam os vinhos, que resultam focados em tons de mel e tostados). Vintage é a palavra inglesa para colheita, o que não ajuda a diminuir as confusões. OPortoVintage,aindavaleapenarepeti- -lo, é uma das jóias da coroa que são os vinhos fortificados portugueses. Feito apenas com as melhores uvas de um único ano em que as circunstâncias climáticas sejam excepcionais, é um vinho encorpado e retinto, de um violeta quase preto, que é engarrafado entre o segundo e o terceiro ano após a vindima. Pode ser consumido desde logo, mas agradece a longa e cuidada guarda em condições apropriadas de baixa temperatura, humidade relativamente alta, sem luz e sem vibrações. Os melhores vinhos têm vida de décadas, durante a qual vão perdendo devagar a sua cor violeta, e ganhando tonalidades primeiro vermelhas, depois castanhas, depois ambarinas, e finalmente de mel, premiado com laivos esverdeados e, se estamosjápertodacentenadeanos,amarelos vivos e brilhantes. A esta mudança de cor corresponde um amaciardopaladar,aadstringênciaeagressividade vão-se dissolvendo no tempo, a fruta vai mudando de tom, dos primários dos mirtilos e amoras para frutas mais suaves como ameixas e romãs, aparecendo aos poucos os frutos secos como avelãs e nozes, especiarias, compotas suaves, cacau, chocolate, café, caramelo, e por vezes tons herbáceos de mato, casca de árvore, ervas do monte.Na boca o vinho evolui de uma enorme concentração em novo, cheio de volume, taninos, corpo espesso, sabores doces e frutados, para uma progressiva integração das componentes, com o álcool a integrar- -se melhor no vinho, a acidez e os taninos a fornecer a estrutura que seguram o vinho e asseguram o bom envelhecimento, ainda com as características cada vez mais salientes de complexidade e multi-dimensionalidade. Um vinho destes mostra complexidade pela enorme variedade de componentes integradas, muitas vezes quase indistinguí- QUINTA DO VESÚVIO SYMINGTON FAMILY ESTATES > O Grupo Symington não passa despercebido nas classificações. Tem marcas que rivalizam umas com as outras, entre as Graham’s, Dow’s e Warre’s, e outras menos conhecidas, mais vocacionadas para o mercado inglês, mas onde se encontram pérolas a bons preços, como a Smith Woodhouse ou a Quarles Harris. De 2007, saliento o Quinta do Vesúvio, propriedade mítica junto a Numão. Mostra no aroma muita fruta em passa, também ameixas e ginjas, especiarias, pimenta, traços minerais. Complexo e elegante, muito sofisticado e tenso. A boca é sedosa, densa, muito fina, com taninos elegantes e muito bem envolvidos no vinho. Final longo, muito refinado. veis, e mostra multi-dimensionalidade pelas sensações que fornece nos órgãos sensitivos. Largo na boca quando se espalha e nos invade de diferentes percepções nas papilas gustativas,profundoquandocadanovainspiração nos revela uma nova característica antes escondida por outras, longo, quando após o engolirmos a sensação que deixa na boca se prolonga por muitos segundos ou mesmo minutos. Normalmente, as grandes casas do Vinho do Porto apenas declaram Vintage três vezes por década. Se as razões são climáticas ou comerciais é um pouco relevante, que estas tradições têm séculos e são para manter. Nos anos Off-Vintage as casas lançam o que se tem chamado “single quinta,” vinhos onde se encontra uma boa relação qualidade preço. Após as declarações generalizadas de 2000 e 2003, tivemos recentemente a pompa e circunstância da declaração de 2007. Ao contráriodosanosmaisquentes,ondeamaturaçãodasuvasfavoreceovinhodoPorto,o Verão frio e suave de 2007 parece ter favorecido os vinhos de mesa. No entanto, provados os Vintages de 2007, encontra-se neles uma frescura, fruto da boa acidez e da lenta maturação das uvas, que os torna muito afáveisesedutoresdesdejá.Commaisde60casas a declarar Vintage (rigorosamente aprovados pelo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto), é uma declaração generalizada e um ano clássico. Os suspeitos do costume fizeram outra vez os melhores vinhos: o Grupo Symington(Graham’s,Dow’s,Warre,etc.)e Fladgate Partnership (Taylor’s, Fonseca, etc.). Estas grandes casas dispõem de grande variedade de origens de vinhos de onde podem extrair os melhores lotes. Mas houve surpresas, com algumas quintas a mostrarem grande qualidade. Só o tempo dirá se esta vai ser uma colheita para evoluir durante muitas décadas, como as míticas 1963, 1970, 1977, 1985, 1994. Agora, é altura de comprar o mais cedo possível, para apanhar os melhores preços. Provar logo, que estes vinhos mostram pouco num período que pode ir dos 5 aos 12 anos após a vindima. Depois, ir abrindo pacientemente as garrafas, decantá-las por causa do grosso depósito (com o qual se temperam óptimos estufados de carne ou cogumelos), e combiná-las com queijos ou frutos secos, sempre com boa companhia. LUÍS ANTUNES QUINTA DA ROMANEIRA 2007 > Desenhado por António Agrellos, o enólogo da Quinta do Noval, este vinho vem de uma quinta que passa do underdog para uma das estrelas da declaração, rivalizando com o próprio Quinta do Noval (este ano não houve Vintage Nacional, a micro cuvée de uma vinha de pé franco, ou seja, com cepas sem porta- -enxerto americano), e a um excelente preço. No nariz mostra bonita fruta como amoras e outras indistintas, minerais como alcatrão, especiarias doces e finas, esteva. Muito complexo, com profundidade e frescura. Muito fino na boca, elegante e estruturado, com muita densidade mas mantendo alevezaefrescura,esemperder nada da estrutura. Longo, com chocolate preto, especiarias, fino, requintado. FONSECA 2007 QUINTA AND VINEYARD BOTTLERS > O Vintage Fonseca aparece quase sempre no topo das classificações de Vintages. Este 2007 não é excepção. É um vinho tenso, com um cheiro complexo e compacto, onde aparecem em crescendo as especiarias, fruta preta canforada, chocolate, alfarroba. Na boca também se nota que o vinho precisa de tempo e arejamento para abrir. Mostra-se firme e grave, com excelente densidade, taninos muito educados, que lhe dão uma textura sedosa e sedutora. Tem final muito longo, saboroso e com boa complexidade.
Rebuçados à moda antiga Para satisfazer a própria gulodice ou adoçar a boca a alguém, com um presente personalizado e ori<strong>gina</strong>l, chegaram a Lisboa os rebuçados artesanais da Papabubble. De comer e voltar por mais Oque acontece quando uma pessoa que nunca gostou de rebuçados visita pela primeira vez uma loja de doces artesanais em plena Baixa lisboeta? Entra de pé atrás, mas sai rendida. Os menos cépticos, ou mais gulosos, saem completamente viciados nos pequenos rebuçados de fabrico artesanal (feitos ali mesmo, à frente dos clientes, várias vezes ao dia) de todas as cores e sabores. Na Papabubble Lisboa, instalada numa antiga loja de figurinos na Rua da Conceição, há pedaços de açúcar puro (a base para os rebuçados feitos à moda antiga é água com açúcar e glucose, que coze em lume forte durante mais ou menos meia hora) com sabores para todos os gostos: do tradicional mentol à coca- -cola, mas também piña colada, melancia, banana, maracujá, violeta, maçã, morango, kiwi, lima, limão, canela picante, e por aí fora, até ao limite da ima<strong>gina</strong>ção. “Qual o sabor dos nossos corações?”, desafia o blog papabubblelisboa.blogspot.com, num convite a visitar a loja, no coração da Baixa. Todos do mesmo sabor, vendidos em pequenos saquinhos monocromáticos, ou então todos misturados em boiões de vidro, que se podem trazer à loja para voltar a encher e alimentar o vício. Há também chupa-chupas de vários tamanhos, até ao XXL,esushiderebuçado(limãoeeucalipto) que não dispensa os pauzinhos. Rebuçados para a tosse, rebuçados sem açúcar ou rebuçados de coco e laranja recheados de chocolate serão os próximos lançamentos. Pequenas obras de arte (que podem ser personalizadas e feitas por encomenda) para deixar derreter na boca. O conceito de ‘caramels artesans’ da Papabubble nasceu em Barcelona, em 2004, com o “desejo de recuperar a magia dos rebuçados artesanais” e depressa se expandiu pelo mundo: Tóquio, Amesterdão, Nova Iorque, Seul, Taipé e, desde 21 de Novembro, Lisboa. Durante o tempo em que viveu na capital catalã, Nuno Couceiro tornou-se cliente e fã incondicional da Papabubble. Com experiência no mundo do teatro e da fotografia, decidiu tornar-se ‘candy maker’ (para aprenderaarteeatécnicafeztrêsmilquilos de PAPABUBBLE > Rua da Conceição, 117-119 Tel. 213427026 lisboa@papabubble.com > Segunda a Sábado das 10h30 às 19h30 Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 25 Paula Nunes rebuçado em três meses de formação, entre Barcelona e Amesterdão) e trazer a ideia para Portugal. Além de Nuno, toda a equipa Papabubble está ligada às “artes visuais”, a começar pelo sócio Vasco, que é arquitecto e responsável pela visão mais comercial do projecto. No número 119 da Rua da Conceição, Nuno e Sónia são os artistas de serviço. Mal os ‘candy makers’ começam a juntar “cor e sabor” à substância pastosa, os clientes enchem a loja como que por magia. Surgem imediatamente memórias de infância, quando todos os tostões eram gastos em rebuçados na mercearia do bairro. Ainda a revisitar o passado, os olhos estão pregados nas massas de várias cores (neste caso verde, vermelho e preto, para fazer rebuçados de melancia) que vão ganhando forma na bancada. O processo é complexo e trabalhoso, o resultado é artístico. “É olaria com rebuçado”, define Vasco. Na loja, o espectáculo é seguido com extrema atenção. “Isso come-se?”, pergunta um miúdo que entra na loja para espreitar e sai entretido a provar um rebuçado quente, acabado de fazer. BÁRBARA SILVA
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