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Weekend 1195 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico

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18 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

BEST OF<br />

Construção<br />

Pode ler-se como um romance<br />

ou uma lista telefónica, de um fôlego<br />

ou em consultas rápidas. É a história<br />

de Chico Buarque contada pelas<br />

histórias que se escondem atrás<br />

de cada canção sua<br />

Já o encaixotaram em antologias, empacotaram<br />

emhorasdefilme,biografaramemlivro,jápartilharam<br />

o trovador em ‘songbook’, celebraram o<br />

escritoremcolóquios,esmiuçaramocronistaem<br />

debates. Chico Buarque já foi objecto de todos os<br />

olhares possíveis e a sua obra matéria para toda a<br />

espécie de edição - já se publicaram até análises semióticas das<br />

suas canções (não é piada: vale a pena ver o número 7 da revista<br />

“Textos e Pretextos” da Universidade de Lisboa, que lhe foi<br />

inteiramente dedicada). E ainda assim, alguém encontrou espaço<br />

para mais qualquer coisa. Para uma ideia simples que resultou<br />

neste livro que é, ao mesmo tempo, um olhar compreensivo<br />

sobre o autor, um documento sobre quarenta anos<br />

de história do seu país e, claro, mais uma peça de colecção para<br />

militantes da sua obra.<br />

O título é certeiro: “Chico Buarque - Histórias de Canções”.<br />

Porque é disso que se trata. De revolver as razões guardadas nas<br />

133 canções que aqui se incluem, o onde, o quando, o como e,<br />

na medida do possível, o porquê de cada uma delas. Por cada<br />

canção, uma história. O resultado são 360 pá<strong>gina</strong>s que se podem<br />

ler como um romance ou uma lista telefónica – conforme<br />

queiramos uma biografia de Chico na idade adulta ou um manualdeconsultaeapoioàaudiçãodasuamúsica.Aassinaturaé<br />

de Wagner Homem, jornalista que se fez amigo de Chico Buarque<br />

em 1989, quando elaborou o seu primeiro ‘songbook’, e<br />

que desde então tem gerido o site do autor (chicobuarque.com.br)<br />

E foi precisamente daí que a ideia nasceu, quando<br />

Homem percebeu que a pá<strong>gina</strong> onde ia inscrevendo pequenas<br />

histórias e curiosidades associadas às músicas de Chico era, de<br />

longe, a mais lida de todo o portal. E foi desses onze anos de garimpo<br />

acumulado de pequenos detalhes, entre conversas com<br />

o autor, correspondências antigas com parceiros como Vinicius<br />

ou Toquinho e memórias sacadas a músicos e amigos, que<br />

tudo isto nasceu. E parece irrecusável a tentação de descobrir<br />

coisas triviais como quem foi a moça que inspirou a “Morena<br />

dos Olhos de Água”, responder à dúvida metafísica de saber<br />

afinal “O que será que será?”, estudar as fintas com que o poetadriblouacensuraparafazeramensagempassar,ousimplesmente<br />

perceber que não havia mensagem alguma encriptada<br />

naquele verso que sempre nos intrigou.<br />

Certo é que a receita é tão simples quanto eficaz e o livro –<br />

com que a Leya se estreia no mercado brasileiro – já evoluiu<br />

para uma colecção (a obra de Toquinho dará origem ao segundovolumede“HistóriasdeCanções”).Porquenãohánadaque<br />

valha uma boa história e mesmo para quem julga conhecê-la<br />

por dentro parece sobrar sempre um episódio por revelar. Por<br />

exemplo, é do domínio público que a canção “Tanto Mar” teve<br />

duas versões, uma ori<strong>gina</strong>l de 1975, que era uma saudação<br />

emocionada à revolução portuguesa da Primavera anterior, e<br />

uma segunda de 1978, quando Chico, decepcionado com o desenrolardosacontecimentosdesteladodomar,reviuembaixa<br />

o seu entusiasmo. Onde antes se lia “Eu queria estar na festa,<br />

pá”, passou a ler-se “Já murcharam tua festa, pá.” Mas atrás<br />

disso há o delicioso pormenor histórico de uma censura que<br />

nãogostoudequalquerumadasversõeseimpôstesouradasem<br />

ambas. O censor de serviço era Augusto da Costa, antigo titular<br />

da baliza canarinha, sob cuja jurisdição o Brasil sofreu os dois<br />

golos que lhe custaram o campeonato do mundo de futebol<br />

frente ao Uruguai em 1950. Na resposta às rasuras do vigia,<br />

Chico terá respondido apenas: “Porra Agusto, você perde a<br />

copa e ainda vem me aporrinhar?” JOÃO PEDRO OLIVEIRA<br />

São 360 pá<strong>gina</strong>s,<br />

que alternam<br />

entre os textos<br />

e as histórias<br />

associadas a 133<br />

canções de Chico.<br />

Entre a poesia<br />

e a circunstância<br />

que a viu nascer<br />

CHICO BUARQUE<br />

- HISTÓRIAS DE CANÇÕES<br />

–<br />

WAGNER HOMEM<br />

–<br />

DOM QUIXOTE

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