– Agora que te engulo, comadre!E correu atrás da onça parda. Foi uma chispada mãe por esses matos que chii! os passarinhosse tornaram pequetitinhos pequetitinhos de medo e a noite levou um susto tamanho que couparalítica. Por isso que quando faz dia em riba das árvores, dentro do mato é sempre noite. Acoitada não pode mais andar...Quando Palauá correu légua e meia olhou pra trás fatigada. A tigre preta vinha perto. Vai,Palauá chegou num morro chamado Ibiraçoiaba e topou com uma bigorna gigante, aquela umaque pertencia à fundição de Afonso Sardinha no princípio da vida brasileira. Junto da bigornaestavam quatro rodas esquecidas. Então Palauá amarrou elas nos pés pra poder deslizar semmuito esforço e, como se diz: desatou o punho da rede outra vez, uma chispada mãe! A onçaengoliu num átimo légua e meia de terreno porém isso vinha que vinha acochada pela tigre.Faziam um barulhão tamanho que os passarinhos estavam pequetitinhos pequetitinhos de medoe a noite mais pesada por causa que não podia andar. E a bulha inda era assombrada pelosgemidos do noitibó... Noitibó é Pai da Noite, moços, e chorava a miséria da filha.Bateu fome em Palauá. A tigre na cola dela. Mas Palauá nem não podia mais correr assimcom o estômago nas costas, vai, em de mais longe quando passou pela barra do Boipeba onde ocuisarrúim morou, viu um motor perto e engoliu o tal. Nem bem motor caiu na barriga da onçaque a pobre criou força nova e chispou. Fez légua e meia e olhou pra trás. Isso a tigre pretavinha feita pra cima dela. Estava uma escureza que só vendo por causa da malinconia da noite ebem na frente dum feixo a onça deu uma trombada temível no derrame dum morrete, que porum triz, era uma vez Palauá! Vai, ela abocanhou dois vagalumões e seguiu com eles nos dentespra alumiar caminho. Nem bem fez outra légua e meia olhou pra trás. A tigre junto. Era porcausa que a onça parda cheirava muito e a peste da cega tinha faro de perdigueiro. Vai, Palauáingeriu um purgante de ólio de mamona, pegou numa lata da essência chamada gasolina,despejou no x e lá foi fuomfuom! fuom! que nem burro peidorreiro por aí. A bulha foi tamanhaque nem se escutou o tinido assombrado dos pratos partidos do morro do Assobio ali. A tigrepreta cou toda atrapalhada por causa que era cega e não cheirava mais a catinga da comadre.Palauá correu mais muito e olhou prá trás. Não enxergou a tigre. Também nem não podia maiscorrer com as fuças fumegando de quentura. Tinha ali perto um bananal macota com um pauêna faixa porque Palauá já tinha chegado no porto de Santos. Vai, a bicha derramou águacansada no focinho e desesquentou. Depois cortou uma folha açu de banana-go e se escondeubotando ela por riba feito capote. Dormiu assim. A tigre preta que era muito feroz até passoupor ali, onça nem pio. E a outra passou não presenciando a comadre. Então de medo a onçanunca mais que largou de tudo o que tinha ajudado ela a fugir. Anda sempre com roda nos pés,motor na barriga, purgante de ólio na garganta, água nas fuças, gasolina no osso-de-Pai-João,os dois vagalumões na boca e o capote de folha de banana-go cobrindo, ai ai! prontinha prachispar. Principalmente si pisa nalguma correição da formiga chamada táxi e alguma trepando
no pelame luzido morde a orelha dela, qual! chispa que nem Deus!... E inda tomou nomeestranho pra disfarçar mais. É a máquina automóvel.Mas por causa que bebeu água cansada Palauá teve estupor. Possuir automóvel de seu é terestupor em casa, moços.Dizem que mais tarde a onça pariu uma ninhada enorme. Teve lhos e lhas. Uns machosoutros fêmeas. Por isso que a gente fala “um forde” e fala “uma chevrolé”...Tem mais não.Macunaíma parou. Chorava comoção pela boca dos moços. Sobre as águas a fresca boiavade barriga pro ar. O rapaz mergulhou a cabeça pra disfarçar a lágrima e trouxe um tambiú nosdentes rabejando danadinho. Repartiu a comida com a moça. Então lá na porta da casa umaonça fíate abriu a goela e urrou pra lua:– Baúa! Baúa!Se escutou uma bulha formidável e tomou conta do ar um pitium sufocando. Era VenceslauPietro Pietra que chegava. O motorista se ergueu logo e a criada também. Estenderam a mãopra Macunaíma, convidando:– Seu gigante chegou de viagem, vamos todos saber como está?Fizeram. Encontraram Venceslau Pietro Pietra na porta-da-rua conversando com repórter.O gigante riu pros três e falou pro motorista:– Vamos lá dentro?– Pois não!Piaimã possuía orelhas furadas por causa dos brincos. Enou uma perna do rapaz na orelhadireita, a outra na esquerda e foi carregando o moço nas costas. Atravessaram o parque eentraram na casa. Bem no meio do hol de acapu mobiliado com sofás de cipó-titica feitos porum judeu alemão de Manaus, se via um buraco enorme tendo por cima um cipó de japecangafeito balanço. Piaimã sentou o moço no cipó e perguntou pra ele si queria balançar um bocado.O moço fez que sim. Piaimã balançou balançou, de repente deu um arranco. Japecanga temespinho... Os espinhos entraram na carne do chofer e principiou escorrendo sangue no buraco.– Chega! já estou satisfeito! que o chofer gritava.– Balança que vos digo! secundava Piaimã.Sangue escorrendo. A caapora companheira do gigante estava lá embaixo do buraco e osangue pingava numa tachada de macarrão que ela preparava pro companheiro. O rapaz gemiano balanço:– Ah, si eu possuísse meu pai e minha mãe a meu lado não estava padecendo nas mãos destemalvado!...Então Piaimã deu um arranco muito forte no cipó e o rapaz caiu no molho da macarronada.Venceslau Pietro Pietra foi buscar Macunaíma. O herói já estava se rindo com a criadinha.O gigante falou pra ele:– Vamos lá dentro?
- Page 2 and 3:
MACUNAÍMA,O HERÓI SEM N EN HU M C
- Page 4 and 5:
DedicatóriaA Paulo Prado
- Page 6 and 7:
A RAIMUNDO MORAESNOTAS DIÁRIASText
- Page 9 and 10:
1 Macunaíma1 MACUNAÍMA
- Page 11 and 12:
trapoerabas da serrapilheira, ele b
- Page 13 and 14:
2 Maioridade2 MAIORIDADE
- Page 15 and 16:
Macunaíma estava muito contrariado
- Page 17 and 18:
- Culumi faz isso não, meu neto, c
- Page 19 and 20:
Ci, Mãe do Mato3 CI, MÃE DO MATO
- Page 21 and 22:
Ficavam rindo longo tempo, bem junt
- Page 23 and 24:
planta é que a gente cura muita do
- Page 25 and 26:
No outro dia bem cedo o herói pade
- Page 27 and 28:
- Si... si... si a boboiúna aparec
- Page 29 and 30:
tempo. Chorava muito tempo. As lág
- Page 31 and 32:
No outro dia Macunaíma pulou cedo
- Page 33 and 34:
tecedeira inesquecível. Macunaíma
- Page 35 and 36:
Maanape sabia do perigo e murmurou:
- Page 37 and 38:
imaginando que carecia da máquina
- Page 39 and 40:
Maanape gostava muito de café e Ji
- Page 41 and 42:
uma muiraquitã com forma de jacar
- Page 43 and 44:
da cidade de Serra no Espírito San
- Page 45 and 46:
7 Macumba7 MACUMBA
- Page 47 and 48:
Tia Ciata cantava o nome do santo q
- Page 49 and 50:
pintada na cara, com as alças da c
- Page 51 and 52: Lá no palácio da rua Maranhão em
- Page 53 and 54: Macunaíma ia seguindo e topou com
- Page 55 and 56: Que o tatu prepare a covaDos seus d
- Page 57 and 58: dobra interior dos dedos dos pés.
- Page 59 and 60: Ás mui queridas súbditas nossas,
- Page 61 and 62: condescendéncias, os brincos e pas
- Page 63 and 64: descuidàmos do nosso talismã, por
- Page 65 and 66: ao gosto dos nativos, mordendo os h
- Page 67 and 68: 10 Pauí-Pódole10 PAUÍ-PÓDOLE
- Page 69 and 70: desejava saber as línguas da terra
- Page 71 and 72: Bateu um ventarrão tamanho que o f
- Page 73 and 74: 11 A velha Ceiuci11 A VELHA CEIUCI
- Page 75 and 76: - Eu menti.Todos os vizinhos caram
- Page 77 and 78: - O quê! quem que é desconhecido!
- Page 79 and 80: tanta água.- Vam’bora, gente!E t
- Page 81 and 82: - Minha lhinha nova, entrega já me
- Page 83 and 84: margem do São Francisco emporcalha
- Page 85 and 86: 12 Tequeteque, Chupinzão e a injus
- Page 87 and 88: Os manos levaram um susto.- Que foi
- Page 89 and 90: O ticotico era pequetitinho e o chu
- Page 92 and 93: 13 A piolhenta do Jiguê13 A PIOLHE
- Page 94 and 95: atentar o herói.- Gente! adeus, ge
- Page 96 and 97: um por um e por isso os piolhos aum
- Page 98 and 99: 14 Muiraquitã14 MUIRAQUITÃ
- Page 100 and 101: Por isso que o Pai do Sono inda exi
- Page 104 and 105: Macunaíma estendeu os braços suss
- Page 106 and 107: 15 A pacuera de Oibê15 A PACUERA D
- Page 108 and 109: vinha a cantiga peguenta das uiaras
- Page 110 and 111: - É de paz!Então a porta se abriu
- Page 112 and 113: - Gardez cette date: 1927! Je viens
- Page 115 and 116: 16 Uraricoera16 URARICOERA
- Page 117 and 118: carrapatos e dormiu. Tarde chegando
- Page 119 and 120: gaiola enada no braço dele ia bate
- Page 121 and 122: pegou, Macunaíma fez um esforço h
- Page 123 and 124: No outro dia o boi estava podre. En
- Page 125 and 126: Macunaíma se arrastou até a taper
- Page 127 and 128: valentes das noites de amor que o b
- Page 129 and 130: caqueando a muiraquitã nas barriga
- Page 131 and 132: tanto penar na terra sem saúde e c
- Page 133: Acabou-se a história e morreu a vi
- Page 136 and 137: 1 º PREFÁCIOEste livro carece dum
- Page 138 and 139: em que trabalho porém não tenho c
- Page 140 and 141: PREFÁCIOEvidentemente não tenho a
- Page 142 and 143: fenômeno complexo que o torna sint
- Page 144 and 145: A RAIMUNDO MORAESMeu ilustre e semp
- Page 146 and 147: NOTAS DIÁRIASEspecial para Mensage
- Page 148 and 149: Texto da orelhaTEXTO DA ORELHAÀs m
- Page 150 and 151: Copyright © 2008Herdeiros de Mári
- Page 152:
Texto de quarta capaTEXTO DE QUARTA