ardentes, no dizer do sublime poeta, são o sacrossanto e tradicional Cruzeiro que...– Não é não!– Psiu!– ...o símbolo mais...– Não é não!– Apoiados!– Fora!– Psiu!... Psiu!...– ...mais su-sublime e maravilhoso da nossa ama-mada pátria é aquele misterioso Cruzeirolucilante que...– Não é não!– ...ve-vedes com...– Nam sculhamba!– ...suas... qua... tro claras lantejoulas de prat...– Não é não!– Não é não! que outros gritavam também.Com tanta bulha anal o mulato entrupigaitou e todos os presentes animados pelo “Não énão!” do herói estavam com muita vontade de fazer um chinfrim. Porém Macunaíma tremia tãotiririca que nem percebeu. Pulou em riba da estátua e principiou contando a história do Pai doMutum. E era assim:– Não é não! Meus senhores e minhas senhoras! Aquelas quatro estrelas lá é o Pai doMutum! juro que é o Pai do Mutum, minha gente, que pára no campo vasto do céu!... Isso foino tempo em que os animais já não eram mais homens e sucedeu no grande mato Fulano. Erauma vez dois cunhados que moravam muito longe um do outro. Um chamava Camã-Pabinquee era catimbozeiro. Uma feita o cunhado de Camã-Pabinque entrou no mato por amor de caçarum bocado. Estava fazendo e topou com Pauí-Pódole e seu compadre o vagalume Camaiuá. EPauí-Pódole era o Pai do Mutum. Estava trepado no galho alto da acapu, descansando. Vai, ocunhado do feiticeiro voltou pra maloca e falou pra companheira dele que tinha topado comPauí-Pódole e seu compadre Camaiuá. E o Pai do Mutum com seu compadre num tempomuito de dantes já foram gente que nem nós mesmos. O homem falou mais que bem que tinhaquerido matar Pauí-Pódole com a sarabatana porém não alcançara o poleiro alto do Pai doMutum na acapu. E então pegou na frecha de pracuuba com ponta de taboca e foi pescarcarataís. Logo Camã-Pabinque chegou na maloca do cunhado e falou:– Mana, o que foi que vosso companheiro falou pra você?Então a mana contou tudo pro feiticeiro e que Pauí-Pódole estava empoleirado na acapucom seu compadre o vagalume Camaiuá. No outro dia manhãzinha Camã-Pabinque saiu dopapiri dele e achou Pauí-Pódole piando na acapu. Então o catimbozeiro virou na tocandeiraIlague e foi subindo pelo pau mas o Pai do Mutum enxergou a formigona e soprou um pio forte.
Bateu um ventarrão tamanho que o feiticeiro despencou do pau, caindo nas capituvas daserrapilheira. Então virou na tacuri Opalá menorzinha e foi subindo outra vez, porém Pauí-Pódole tornou a enxergar a formiga. Soprou e veio um ventinho brisando que sacudiu Opalánas trapoerabas da serrapilheira. Então Camã-Pabinque virou na lavapés chamada Megue,pequetitinha, subiu na acapu, ferrou o Pai do Mutum bem no furinho do nariz, enrolou ocorpico e trazendo o não-se-diz entre os ferrões, juque! esguichou ácido-fórmico aí. Chi! minhagente! Isso Pauí-Pódole abriu num vôo esparramado com a dor e espirrou Megue longe! Ofeiticeiro nem não pôde sair mais do corpo de Megue, do susto que pegou. E cou mais essapraga da formiguinha lavapés pra nós... Gente!“Pouca saúde e muita saúva,os males do Brasil são.”já falei... No outro dia Pauí-Pódole quis ir morar no céu pra não padecer mais com as formigasda nossa terra, fez. Pediu pro compadre vagalume alumiar o caminho na frente com aslanterninhas verdes bem acesas. O vagalume Cunavá sobrinho do outro foi na frente alumiandocaminho pra Camaiuá e pediu pro mano que fosse na frente alumiando pra ele também. Omano pediu pro pai, o pai pediu pra mãe, a mãe pediu pra toda a geração, o chefe-de-polícia e oinspetor do quarteirão e muitos muitos, uma nuvem de vagalumes foram alumiando caminhouns pros outros. Fizeram, gostaram de lá e sempre uns atrás dos outros nunca mais voltaram docampo vasto do céu. É aquele caminho de luz que daqui se enxerga atravessando o espaço.Pauí-Pódole então avoou pro céu e cou lá. Minha gente! aquelas quatro estrelas não éCruzeiro, que Cruzeiro nada! É o Pai do Mutum! É o Pai do Mutum! minha gente! É o Pai doMutum, Pauí-Pódole que pára no campo vasto do Céu!... Tem mais não.Macunaíma parou fatigado. Então se ergueu do povaréu um murmurejo longo de felicidadefazendo relumear mais ainda as gentes, os pais-dos-pássaros os pais-dos-peixes os pais-dosinsetosos pais-das-árvores, todos esses conhecidos que param no campo do céu. E era imenso ocontentamento daquela paulistanada mandando olhos de assombro pras gentes, pra todos essespais dos vivos brilhando morando no céu. E todos esses assombros de-primeiro foram gentedepois foram os assombros misteriosos que zeram nascer todos os seres vivos. E agora são asestrelinhas do céu.O povo se retirou comovido, feliz no coração cheio de explicações e cheio das estrelas vivas.Ninguém não se amolava mais nem com dia do Cruzeiro nem com as máquinas repuxosmisturadas com a máquina luz elétrica. Foram pra casa botar pelego por debaixo do lençolporque por terem brincado com fogo aquela noite, na certa que iam mijar na cama. Foram todosdormir. E a escuridão se fez.Macunaíma parado em riba da estátua cara sozinho ali. Também estava comovido. Olhoupra altura. Que Cruzeiro nada! Era Pauí-Pódole se percebia bem daqui... E Pauí-Pódole estavarindo pra ele, agradecendo. De repente piou comprido parecendo trem-de-ferro. Não era tremera piado e o sopro apagou todas as luzes do parque. Então o Pai do Mutum mexeu uma asa
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pegou, Macunaíma fez um esforço h
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No outro dia o boi estava podre. En
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Macunaíma se arrastou até a taper
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caqueando a muiraquitã nas barriga
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tanto penar na terra sem saúde e c
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Acabou-se a história e morreu a vi
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1 º PREFÁCIOEste livro carece dum
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em que trabalho porém não tenho c
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PREFÁCIOEvidentemente não tenho a
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fenômeno complexo que o torna sint
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A RAIMUNDO MORAESMeu ilustre e semp
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