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Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

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vinha a cantiga peguenta das uiaras. Vei, a Sol, dava lambadas no costado relumeando suor deMaanape e Jiguê remeiros e no cabeludo corpo em pé do herói. Era um calorão molhadofazendo fogo no delírio dos três. Macunaíma se lembrou que era imperador do Mato-Virgem.Riscou um gesto na Sol, gritando:– Eropita boiamorebo!Logo o céu se escurentou de supetão e uma nuvem ruivor subiu do horizonte entardecendo acalma do dia. A ruivor veio vindo veio vindo e era o bando de araras vermelhas e jandaias, todosesses faladores, era o papagaio-trombeta era o papagaio-curraleiro era o periquito cutapado erao xarã o peito-roxo o ajuru-curau o ajuru-curica arari ararica araraúna araraí araguaí arara-tauamaracanã maitaca arara-piranga catorra teriba camiranga anaca anapura canindés tuinsperiquitos, todos esses, o cortejo sarapintado de Macunaíma imperador. E todos esses faladoresformaram uma tenda de asas e de gritos protegendo o herói do despeito vingarento da Sol. Erauma bulha de águas deuses e passarinhos que nem se escutava mais nada e a igarité meio paravaatordoada. Mas Macunaíma assustando os legornes riscava de quando em vez um gesto diantede tudo e gritava:– Era uma vez uma vaca amarela, quem falar primeiro come a bosta dela! Dem-de-lemchegou!O mundo cava mudo não falando um isto e o silêncio vinha amulegar a mornidão dasombra na igarité. E se escutava lá no longe lá no longe baixinho baixinho o ruidejar doUraricoera. Então dava mais estusiasmo no herói. A violinha repinicava tremida. Macunaímapigarreava atirando gusparadas no rio e enquanto o guspe afundava transformado emmatamatás nojentos, o herói botava a boca no mundo feito maluco sem nem saber o quecantava, assim:“Panapaná pá-panapaná,Panapaná pá-panapanema:Papa de papo na popa,– Maninha,Na beira do Uraricoera!”Depois a boca-da-noite engoliu todas as bulhas e o mundo adormeceu. Tinha só Capei, aLua, enorme de gorda, rechonchuda que nem cara das polacas depois duma noite daquelas,puxavante! quanta sacanagem feliz quanta cunhã bonita e quanto cachiri!... Então Macunaímateve saudades do sucedido na taba grande paulistana. Viu todas aquelas donas de pele alvinhacom quem brincara de marido e mulher, foi tão bom!... Sussurrou docemente: “Mani! Mani!filhinhas da mandioca!”... Deu um tremor comovido no beiço dele que quase a muiraquitã cai norio. Macunaíma tornou a enar o tembetá no beiço. Então pensou muito sério na dona damuiraquitã, na briguenta, na diaba gostosa que batera tanto nele, Ci. Ah! Ci, Mãe do Mato,marvada que tornara-se inesquecível porque zera ele dormir na rede tecida com os cabelos

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