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Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

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2 º PREFÁCIOEste livro de pura brincadeira escrito na primeira redação em seis dias ininterruptos de rede,cigarros e cigarras na chacra de Pio Lourenço perto do ninho da luz que é Araraquara, analresolvi dar sem mais preocupação. Já estava me enquizilando... Jamais não tive tanto comodiante dele a impossibilidade de ajuizar dos valores possíveis duma obra minha.Não sei ter humildades falsas não e se publico um livro é porque acredito no valor dele. Oque reconheço é que muitas vezes publico uma coisa ruim em si, por outros valores que podemresultar dela. É o caso por exemplo do poder de ensaios de língua brasileira, tão díspares entresi, tão péssimos alguns. Não me amolo que sejam péssimos e mesmo que minha obra toda tenhaa transitoriedade precária da minha vida. O que me interessa mesmo é dar pra mim o destinoque as minhas possibilidades me davam. E que tenho sido útil: as preocupações, as tentativas, asamizades e até as repulsas (dinâmicas?) que tenho despertado provam bem. Principalmentedisso vem o orgulho tamanho que possuo e me impede completamente qualquer manifestaçãode vaidade. Eu não me contentei em desejar a felicidade, me fiz feliz.Ora este livro que não passou dum jeito pensativo e gozado de descansar umas férias,relumeante de pesquisas e intenções, muitas das quais só se tornavam conscientes no nascer daescrita, me parece que vale um bocado como sintoma de cultura nacional.Me parece que os melhores elementos duma cultura nacional aparecem nele. Possuipsicologia própria e maneira de expressão própria. Possui uma losoa aplicada entre otimismoao excesso e pessimismo ao excesso dum país bem onde o praceano considera a Providênciacomo sendo brasileira e o homem da terra pita o conceito da pachorra mais que fumo. Possuiaceitação sem timidez nem vanglória da entidade nacional e a concebe tão permanente e unidaque o país aparece desgeogracado no clima na ora na fauna no homem, na lenda, na tradiçãohistórica até quanto isso possa divertir ou concluir um dado sem repugnar pelo absurdo. Falarem “pagos” e “querências” em relação às terras do Uraricoera é bom. Além disso possuicolaboração estrangeira e aproveitamento dos outros, complacente, sem temor, e sobretudo semo exclusivismo de todo ser bem nascido pras idéias comunistas. O próprio herói do livro que tireido alemão de Koch-Grünberg, nem se pode falar que é do Brasil. É tão ou mais venezuelanocomo da gente e desconhece a estupidez dos limites pra parar na “terra dos ingleses” como elechama a Guiana Inglesa. Essa circunstância do herói do livro não ser absolutamente brasileirome agrada como o quê. Me alarga o peito bem, coisa que antigamente os homens expressavampelo “me enche os olhos de lágrimas”.Agora: não quero que imaginem que pretendi fazer deste livro uma expressão de culturanacional brasileira. Deus me livre. É agora, depois dele feito, que me parece descobrir nele umsintoma de cultura nossa. Lenda, história, tradição, psicologia, ciência, objetividade nacional,coopeeração acomodada de elementos estrangeiros passam aí. Por isso que malicio nele o

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