10.07.2015 Views

Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

fenômeno complexo que o torna sintomático.Quanto às intenções que bordaram o esquerzo, tive intenções por demais. Só não quero éque tomem Macunaíma e outros personagens como símbolos. É certo que não tive intenção desintetizar o brasileiro em Macunaíma nem o estrangeiro no gigante Piaimã. Apesar de todas asreferências guradas que a gente possa perceber entre Macunaíma e o homem brasileiro,Venceslau Pietro Pietra e o homem estrangeiro, tem duas omissões voluntárias que tiram porcompleto o conceito simbólico dos dois: a simbologia é episódica, aparece por intermitênciaquando calha pra tirar efeito cômico e não tem antítese. Venceslau Pietro Pietra e Macunaímanem são antagônicos, nem se completam e muito menos a luta entre os dois tem qualquer valorsociológico. Se Macunaíma consegue retomar a muiraquitã é porque eu carecia de fazer elemorrer no Norte. E é impossível de se ver na morte do gigante qualquer aparência desimbologia. As próprias alusões, sem continuidade ao elemento estrangeiro que o gigante faznascer, concorrem pra minha observação do sintoma cultural do livro: é uma complacênciagozada, uma acomodação aceita tão conscientemente que a própria mulher dele é uma caaporae a lha vira estrela. Me repugnaria bem que se enxergasse em Macunaíma a intenção minhadele ser o herói nacional. É o herói desta brincadeira, isso sim, e os valores nacionais que oanimam são apenas o jeito dele possuir o “Sein” de Keyserling a signicação imprescindível ameu ver, que desperta empatia. Uma signicação não precisa de ser total pra ser profunda. E épor meio de “Sein” (ver o prefácio do tradutor em Le Monde qui Naît) que a arte pode ser aceitadentro da vida. Ele é que fez da arte e da vida um sistema de vasos comunicantes, equilibrandoo líquido que agora não turtuveio em chamar de lágrima.Outro problema do livro que careço explicar é da imoralidade. Palavra que seria falsoconcluir pela imoralidade e pela porcariada mesmo que está aqui dentro, que me comprazo comisso. Quando muito admito que concluam que me comprazo... com o brasileiro. Uma coisa fácilde constatar é a constância da porcaria e da imoralidade nas lendas de primitivos em geral e noslivros religiosos. Não só aceitei mas acentuei isso. Não vou me desculpar falando que as flores domal dão horror do mal não. Até que despertam muito a curiosidade... Minha intenção aí foivericar uma constância brasileira que não sou o primeiro a vericar, debicá-la numa caçoadacomplacente que a satiriza sem tomar um pitium moralizante. Macunaíma anal afrouxou enum esforço... de herói, se acaba ver peixe, pela... boca. Mas me repugnava servir de mendoimpra piazotes e velhotes. Empreguei todos os calmantes possíveis: a perífrase, as palavrasindígenas, o cômico, e um estilo poético inspirado diretamente dos livros religiosos. Creio queassim pude restabelecer a paz entre os homens de boa vontade.E resta a circunstância da falta de caráter do herói. Falta de caráter no duplo sentido deindivíduo sem caráter moral e sem característico. Está certo. Sem esse pessimismo eu não seriaamigo sincero dos meus patrícios. É a sátira dura do livro. Heroísmo de arroubo é fácil de ter.Porém o galho mais alto dum pau gigante que eu saiba não é lugar propício pra gente dormirsossegado.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!