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Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

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pintada na cara, com as alças da combinação arrebentadas, estremecia no centro da saleta, jácom as gorduras quase inteiramente nuas. Os peitos dela balangavam batendo nos ombros nacara e depois na barriga, juque! com estrondo. E a ruiva cantando cantando. Afinal a espuminharolou dos beiços desmanchados, ela deu um grito que diminuiu o tamanhão da noite mais, caiuno santo e ficou dura.Passou um tempo de silêncio sagrado. Então tia Ciata se levantou da tripeça que umamazombinha substituiu no sufragante por um banco novo nunca sentado, agora pertencendopra outra. A mãe-de-terreiro veio vindo veio vindo. Ogã vinha com ela. Todos os outrosestavam de-pé se achatando nas paredes. Só tia Ciata veio vindo veio vindo e chegou junto docorpo duro da polaca no centro da saleta ali. A feiticeira tirou a roupa, cou nua, só com oscolares os braceletes os brincos de contas de prata pingando nos ossos. Foi tirando da cuia queogã pegava o sangue coalhado do bode comido e esfregando a pasta na cabeça da babalaô. Masquando derramou o efém verdento em riba, a dura se estorceu gemida e o cheiro iodadoembebedou o ambiente. Então a mãe-de-santo entoou a reza sagrada do Exu, melopéiamonótona.Quando acabou, a fêmea abriu os olhos, principiou se movendo bem diferente de já-hoje enão era mais fêmea era o cavalo do santo, era Exu. Era Exu, o romãozinho que viera ali comtodos pra macumbar.O par de nuas executava um jongo improvisado e festeiro que ritmavam os estralos dos ossosda tia, os juques dos peitos da gorda e o ogã com batidos chatos. Todos estavam nus também ese esperava a escolha do Filho de Exu pelo grande Cão presente. Jongo temível... Macunaímafremia de esperança querendo o cariapemba pra pedir uma tunda em Venceslau Pietro Pietra.Não se sabe o que deu nele de supetão, entrou gingando no meio da sala derrubou Exu e caiupor cima brincando com vitória. E a consagração do Filho de Exu novo era celebrada porlicenças de todos e todos se urarizaram em honra do filho novo do icá.Terminada a cerimônia o diabo foi conduzido pra tripeça, principiando a adoração. Osladrões os senadores os jecas os negros as senhoras os futebóleres, todos, vinham se rojando pordebaixo do pó alaranjando a saleta e depois de batida a cabeça com o lado esquerdo no chão,beijavam os joelhos beijavam todo o corpo do uamoti. A polaca vermelha tremendo rijapingando espuminha da boca em que todos molhavam o mata-piolho pra se benzerem deatravessado, gemia uns roncos regougados meio choro meio gozo e não era polaca mais, eraExu, o jurupari mais macanudo daquela religião.Depois que todos beijaram adoraram e se benzeram muito, foi a hora dos pedidos epromessas. Um carniceiro pediu pra todos comprarem a carne doente dele e Exu consentiu. Umfazendeiro pediu pra não ter mais saúva nem maleita no sítio dele e Exu se riu falando que issonão consentia não. Um namorista pediu pra pequena dele conseguir o lugar de professoramunicipal para casarem e Exu consentiu. Um médico fez um discurso pedindo pra escrever commuita elegância a fala portuguesa e Exu não consentiu. Assim. Anal veio a vez de Macunaíma

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