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Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

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caqueando a muiraquitã nas barrigadas. Foi uma sangueira mãe escorrendo sobre a terra e tudoficou tinto de sangue. Era a boca-da-noite.Macunaíma campeava campeava. Achou os dois brincos achou os dedões achou as orelhas osnuquiiris o nariz, todos esses tesouros e prendeu todos nos lugares deles com sapé e cola depeixe. Porém a perna e a muiraquitã não achou não. Tinham sido engolidos pelo MonstroUrurau que não morre com timbó nem pau. O sangue coalhara negro cobrindo a praia e olagoão. E era de-noite.Macunaíma campeava campeava. Soltava gritos de lamentação encurtando com a bulha otamanho da bicharada. Nada. O herói varava o campo, saltando na perna só. Gritava:– Lembrança! Lembrança da minha marvada! não vejo nem ela nem você nem nada!E pulava mais. As lágrimas pingavam dos olhinhos azuis dele sobre as orzinhas brancas docampo. As orzinhas tingiram de azul e foram os miosótis. O herói não podia mais, parou.Cruzou os braços num desespero tão heróico que tudo se alargou no espaço pra conter o silênciodaquele penar. Só um mosquitinho raquitiquinho infernizava inda mais a disgra do herói,zumbindo fininho: “Vim di Minas... vim di Minas...”Então Macunaíma não achou mais graça nesta terra. Capei bem nova relumeava lá nagupiara do céu. Macunaíma cismou inda meio indeciso, sem saber si ia morar no céu ou na ilhade Marajó. Um momento pensou mesmo em morar na cidade da Pedra com o enérgicoDelmiro Gouveia, porém lhe faltou ânimo. Pra viver lá, assim como tinha vivido era impossível.Até era por causa disso mesmo que não achava mais graça na Terra... Tudo o que fora aexistência dele apesar de tantos casos tanta brincadeira tanta ilusão tanto sofrimento tantoheroísmo, anal não fora sinão um se deixar viver; e pra parar na cidade do Delmiro ou na ilhade Marajó que são desta terra carecia de ter um sentido. E ele não tinha coragem pra umaorganização. Decidiu:– Qual o quê!... Quando urubu está de caipora o de baixo caga no de cima, este mundo nãotem jeito mais e vou pro céu!Ia pro céu viver com a marvada. Ia ser o brilho bonito mas inútil porém de mais umaconstelação. Não fazia mal que fosse brilho inútil não, pelo menos era o mesmo de todos essesparentes, de todos os pais dos vivos da sua terra, mães, pais manos cunhãs cunhadas cunhatãs,todos esses conhecidos que vivem agora do brilho inútil das estrelas.Plantou uma semente do cipó matamatá, lho-da-luna, e enquanto o cipó crescia agarrounuma itá pontuda e escreveu na laje que já fora jabuti num tempo muito de dantes:NÃO VIM NO MUNDO PARA SER PEDRAA planta já tinha crescido e se agarrava numa ponta de Capei. O herói capenga enou agaiola dos legornes no braço e foi subindo pro céu. Cantava triste:“Vamos dar a despedida,– Taperá,Talequal o passarinho,

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