da Terra e manda Emoron-Pódole dar o sossego do sono deste mundo pra todas essas coisasque podem ter sossego porque não possuem pensamento que nem nós. Taína-Cã é indivíduotambém... Relumeava lá no campo vasto do céu e a lha mais velha do morubixaba Zozoiaça datribo carajá, solteirona chamada Imaerô falou assim:– Pai, Taína-Cã relumeia tão bonito que eu quero me amulherar com ele.Zozoiaça riu bem por causa que não podia dar Taína-Cã de casamento pra lha velha não.Vai, de-noite veio descendo o rio uma piroga de prata, um remeiro saltou dela, bateu no poial efalou pra Imaerô:– Eu sou Taína-Cã. Escutei vosso pedido e vim numa piroga de prata. Casa comigo porfavor!– Sim, ela fez contentíssima.Deu a rede pro noivo e foi dormir com a mana mais nova se chamando Denaquê.No outro dia quando Taína-Cã pulou da rede todos se sarapantaram. Era um corocaenrugado enrugado, tremelicando tanto feito a luz da estrela Papaceia. Vai, Imaerô falou:– Cai fora, coroca! Vê lá si vou casar com velho! Pra mim há-de ser um moço mui brabomucudo e de nação carajá!Taína-Cã cou jururu jururu e principiou imaginando na injustiça dos homens. Porém afilha mais nova do morubixaba Zozoiaça teve pena do coroca e falou:– Eu caso com você.Taína-Cã brilhou de gozo. Ficaram ajustados. Denaquê preparando o enxoval cantava noitee dia:– Amanhã por estas horas, furrum-fum-fum...Zozoiaça respondia:– Eu também com vossa mãe, furrum-fum-fum...Depois que se acabaram os dedos das vossas mãos, papagaio, que são de espera pra noivo, narede trançada por Denaquê se brincou dança de amor, furrum-fum-fum.Nem bem o dia estava rompendo a barra, Taína-Cã pulou da rede e falou pra companheira:– Vou derrubar mato pra fazer roçado. Agora você ca no mocambo e nunca não vai na roçame espiar.– Sim, ela fez.E cou na rede, matutando gozada naquele velhinho esquisito que dera pra ela a noite maisgostosa de amor que a gente imagina.Taína-Cã derrubou mato, botou fogo em todos os macurus de formiga e preparou a terra.Naquele tempo inda a nação carajá não conhecia as plantas boas. Era só peixe e bicho quecarajá engolia.Na outra madrugada Taína-Cã falou pra companheira que ia buscar sementes pra semear erepetiu a proibição. Denaquê cou deitada na rede inda um bocado, matutando nas gostosuras
valentes das noites de amor que o bom do coroca dava pra ela. E foi fiar.Taína-Cã deu uma chegadinha no céu, foi até o corgo Berô, fez oração e botando umaperna em cada barreira do corgo esperou assuntando a água. Daí a pouco vieram vindo no pêloda agüinha as sementes do milho cururuca, o fumo, a maniveira, todas essas plantas boas.Taína-Cã apanhou o que passava, desceu do céu e foi no roçado plantar. Estava trabucando naSol quando Denaquê apareceu. Era por causa que ela de sodosa quis ver o companheiro dandogostosuras tão valentes pra ela nas noites de amor. Denaquê deu um grito de alegria. Taína-Cãnão era coroca não! Taína-Cã era mas um rapaz muito brabo mucudo e de nação carajá.Fizeram um macio de fumo e de maniva e brincaram pulado na Sol.Quando voltaram pro mocambo muito se rindo um pro outro, Imaerô ficou tiririca. Gritou:– Tainã-Cã é meu! Foi pra mim que ele veio do céu!– Sai azar! que Tainã-Cã falou. Quando eu quis você não quis, pois agora brinque-se!E trepou na rede com Denaquê. Imaerô desinfeliz suspirou assim:– Deixe estar jacaré, que a lagoa há-de secar!...E saiu gritando pelo mato. Virou na ave araponga que grita amarelo de inveja no quiriri domato diurno.Desde então por causa da bondade de Taína-Cã é que carajá come mandioca e milho epossui fumo pra se animar.E tudo o que Carajá carecia, Taína-Cã ia no céu e voltava trazendo. Pois não é que deDenaquê, de ambiciosa, deu pra namorar com todas as estrelinhas do céu! Deu sim, e Taína-Cãque é a Papaceia enxergou tudo. Isso, até se orvalhou de tão triste, foi pegando nos teréns e foiseembora pro vasto campo do céu. Ficou lá, trouxe mais nada não. Si a Papaceia continuassetrazendo as coisas do outro lado de lá, céu era aqui, nosso todinho. Agora é só do nosso desejo.Tem mais não.O papagaio dormia.Uma feita janeiro chegado Macunaíma acordou tarde com o pio agourento do tincuã. Noentanto era dia feito e a cerração já entrara pro buraco... O herói tremeu e apalpou o feitiço quetrazia no pescoço, um ossinho de piá morto pagão. Procurou o aruaí, desaparecera. Só o galocom a galinha brigando por causa duma aranha derradeira. Fazia um calorão parado tão imensoque se escutava o sininho de vidro dos gafanhotos. Vei, a Sol, escorregava pelo corpo deMacunaíma, fazendo cosquinhas, virada em mão de moça. Era malvadeza da vingarenta só porcausa do herói não ter se amulherado com uma das lhas da luz. A mão de moça vinha eescorregava tão de manso tão! no corpo... Que vontade nos músculos pela primeira vezespetados depois de tanto tempo! Macunaíma se lembrou que fazia muito não brincava. Águafria diz que é bom pra espantar as vontades... O herói escorregou da rede, tirou a penugem deteia vestindo todo o corpo dele e descendo até o vale de Lágrimas foi tomar banho num sacadoperto que os repiquetes do tempo-das-águas tinham virado num lagoão.Macunaíma depôs com delicadeza os legornes na praia e se chegou pra água. A lagoa estava
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planta é que a gente cura muita do
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No outro dia bem cedo o herói pade
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tempo. Chorava muito tempo. As lág
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No outro dia Macunaíma pulou cedo
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tecedeira inesquecível. Macunaíma
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Maanape sabia do perigo e murmurou:
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Maanape gostava muito de café e Ji
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uma muiraquitã com forma de jacar
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Que o tatu prepare a covaDos seus d
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descuidàmos do nosso talismã, por
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ao gosto dos nativos, mordendo os h
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desejava saber as línguas da terra
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Bateu um ventarrão tamanho que o f
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