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Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

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Ás mui queridas súbditas nossas, Senhoras Amazonas.Trinta de Maio de Mil Novecentos e Vinte e Seis,São Paulo.Senhoras:Não pouco vos surpreenderá, por certo, o endereço e a literatura desta missiva. Cumpre-nos,entretanto, iniciar estas linhas de saùdade e muito amor, com desagradável nova. É bemverdade que na boa cidade de São Paulo – a maior do universo, no dizer de seus prolixoshabitantes – não sois conhecidas por “icamiabas”, voz espúria, sinão que pelo apelativo deAmazonas; e de vós, se arma, cavalgardes ginetes belígeros e virdes da Hélade clássica; e assimsois chamadas. Muito nos pesou a nós, Imperator vosso, tais dislates da erudição, porém heis deconvir conosco que, assim, cais mais heróicas e mais conspícuas, tocadas por essa plátinarespeitável da tradição e da pureza antiga.Mas não devemos esperdiçarmos vosso tempo fero, e muito menos conturbarmos vossoentendimento, com notícias de mau calibre; passemos pois, imediato, ao relato dos nossos feitospor cá.Nem cinco sóis eram passados que de vós nos partíramos, quando a mais temerosa desditapesou sobre Nós. Por uma bela noite dos idos de maio do ano translato, perdíamos a muiraquitã;que outrém grafara muraquitã, e, alguns doutos, ciosos de etimologias esdrúxulas, ortografammuyrakitan e até mesmo muraqué-itã, não sorriais! Haveis de saber que esse vocábulo, tãofamiliar ás vossas trompas de Eustáquio, é quasi desconhecido por aqui. Por estas paragens muicivis, os guerreiros chamam-se polícias, grilos, guardas-cívicas, boxistas, legalistas,mazorqueiros, etc.; sendo que alguns desses termos são neologismos absurdos – bagaço nefandocom que os desleixados e petimetres conspurcam o bom falar lusitano. Mas não nos sobra jávagar para discretearmos “sub tegmine fagi”, sobre a língua portuguesa, também chamadalusitana. O que vos interessará mais, por sem dúvida, é saberdes que os guerreiros de cá nãobuscam mavórticas damas para o enlace epitalámico; mas antes as preferem dóceis e facilmentetrocáveis por pequeninas e voláteis folhas de papel a que o vulgo chamará dinheiro – o“curriculum vitae” da Civilização, a que hoje fazemos ponto de honra em pertencermos. Assim apalavra muiraquitã, que fere já os ouvidos latinos do vosso Imperador, é desconhecida dosguerreiros, e de todos em geral que por estas partes respiram. Apenas alguns “sujeitos deimportáncia em virtude e letras”, como já dizia o bom velhinho e clássico frei Luís de Souza,citado pelo doutor Rui Barbosa, ainda sobre as muiraquitãs projectam as suas luzes, paraaquilatá-las de medíocre valia, originárias da Ásia, e não de vossos dedos, violentos no polir.Estávamos ainda abatido por termos perdido a nossa muiraquitã, em forma de sáurio,quando talvez por algum inuxo metapsíquico, ou, qui lo sá, provocado por algum libidosaùdoso, como explica o sábio tudesco, doutor Sigmund Freud, (lede Fróide), se nos deparou emsonho um arcanjo maravilhoso. Por ele soubemos que o talismã perdido, estava nas dilectasmãos do doutor Venceslau Pietro Pietra, súbdito do Vice-Reinado do Peru, e de origem

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