O bichinho caiu em Campinas. A tatorana caiu por aí. A bola caiu no campo. E foi assimque Maanape inventou o bicho-do-café, Jiguê a lagarta-rosada e Macunaíma o futebol, trêspragas.No outro dia, com o pensamento sempre na Marvada, o herói percebeu que xetrara mesmoduma vez e nunca mais que podia aparecer na rua Maranhão porque agora Venceslau PietroPietra já o conhecia bem. Imaginou imaginou e ali pelas quinze horas teve uma idéia. Resolveuenganar o gigante. Enou um membi na goela, virou Jiguê na máquina telefone e telefonou praVenceslau Pietro Pietra que uma francesa queria falar com ele a respeito da máquina negócios.O outro secundou que sim e que viesse agorinha já porque a velha Ceiuci tinha saído com asduas filhas e podiam negociar mais folgado.Então Macunaíma emprestou da patroa da pensão uns pares de bonitezas, a máquina ruge, amáquina meia-de-seda, a máquina combinação com cheiro de casca-sacaca, a máquina cintaaromada com capim cheiroso, a máquina decoletê úmida de patchuli, a máquina mitenes, todasessas bonitezas, dependurou dois mangarás nos peitos e se vestiu assim. Pra completar indabarreou com azul de pau campeche os olhinhos de piá que se tornaram lânguidos. Era tantacoisa que cou pesado mas virou numa francesa tão linda que se defumou com jurema ealfinetou um raminho de pinhão paraguaio no patriotismo pra evitar quebranto. E foi no paláciode Venceslau Pietro Pietra. E Venceslau Pietro Pietra era o gigante Piaimã comedor de gente.Saindo da pensão Macunaíma topou com um beija-or com rabo de tesoura. Não gostou dacagüira não e pensou abandonar o randevu porém como promessa é dívida fez um esconjuro eseguiu.Lá chegado encontrou o gigante no portão, esperando. Depois de muitos salamalequesPiaimã tirou os carrapatos da francesa e levou-a pra uma alcova lindíssima com esteios deacaricoara e tesouras de itaúba. O assoalho era um xadrez de muirapiranga e pau-cetim. Aalcova estava mobiliada com as famosas redes brancas do Maranhão. Bem no centro havia umamesa de jacarandá esculpido arranjada com louça branco-encarnada de Breves e cerâmica deBelém, dispostas sobre uma toalha de rendas tecidas com bra de bananeira. Numas baciasenormes originárias das cavernas do rio Cunani fumegava tacacá com tucupi, sopa feita com umpaulista vindo dos frigorícos da Continental, uma jacarezada e polenta. Os vinhos eram umPuro de Ica subidor vindo de Iquitos, um Porto imitação, de Minas, uma caiçuma de oitentaanos, champanha de São Paulo bem gelada e um extrato de jenipapo famanado e ruim comotrês dias de chuva. E inda havia dispostos com arte enfeitadeira e muitos recortados de papel osesplêndidos bombons Falchi e biscoitos do Rio Grande empilhados em cuias dum pretobrilhante de cumaté com desenhos esculpidos a canivete, provindas de Monte Alegre.A francesa sentou numa rede e fazendo gestos graciosos principiou mastigando. Estava commuita fome e comeu bem. Depois tomou um copo de Puro pra rebater e resolveu entrar noassunto de chapéu-de-sol aberto. Foi logo perguntando si o gigante era verdade que possuía
uma muiraquitã com forma de jacaré. O gigante foi lá dentro e voltou com um caramujo namão. E puxou pra fora dele uma pedra verde. Era a muiraquitã! Macunaíma sentiu um frio pordentro de tanta comoção e percebeu que ia chorar. Mas disfarçou bem perguntando si o gigantenão queria vender a pedra. Porém Venceslau Pietro Pietra piscou faceiro dizendo que vendidanão dava a pedra não. Então a francesa pediu suplicando pra levar a pedra de emprestado pracasa. Venceslau Pietro Pietra mais uma vez piscou faceiro falando que de emprestado não dava apedra também não.– Você imagina então que vou cedendo assim com duas risadas, francesa? Qual!– Mas eu estou querendo tanto a pedra!...– Vá querendo!– Pois tanto se me dá como se me dava, regatão!– Regatão uma ova, francesa! Dobre a língua! Colecionador é que é!Foi lá dentro e voltou carregando um grajau tamanho feito de embira e cheinho de pedra.Tinha turquesas esmeraldas berilos seixos polidos, ferragem com forma de agulha, crisólitapingo-d’água tinideira esmeril lapinha ovo-de-pomba osso-de-cavalo machados facões echasde pedra lascada, grigris rochedos elefantes petricados, colunas gregas, deuses egípcios, budasjavaneses, obeliscos mesas mexicanas, ouro guianense, pedras ornitomorfas de Iguape, opalas doigarapé Alegre, rubis e granadas do rio Curupi, itamotingas do rio das Garças, itacolumitos,turmalinas de Vupabuçu, blocos de titânio do rio Piriá, bauxitas do ribeirão do Macaco, fósseiscalcáreos de Pirabas, pérolas de Cametá, o rochedo tamanho que Oaque o pai do Tucano atiroucom a sarabatana lá do alto daquela montanha, um litóglifo de Calamare, tinha todas essaspedras no grajau.Então Piaimã contou pra francesa que ele era um colecionador célebre, colecionava pedras.E a francesa era Macunaíma, o herói. Piaimã confessou que a jóia da coleção era mesmo amuiraquitã com forma de jacaré comprada por mil contos da imperatriz das icamiabas lá naspraias da lagoa Jaciuruá. E tudo era mentira do gigante. Vai, ele sentou na rede mui rente dafrancesa, muito! e falou murmuriando que com ele era oito ou oitenta, não vendia nãoemprestava a pedra mas porém era capaz de dar... “Conforme...” O gigante estava mas eraquerendo brincar com a francesa. Quando por causa do jeito de Piaimã o herói entendeu o quesignicava o tal de “conforme”, cou muito inquieto. Matutou: “Será que o gigante imagina quesou francesa mesmo!... Cai fora, peruano senvergonha!” E saiu correndo pelo jardim. O gigantecorreu atrás. A francesa pulou numa moita pra se esconder porém estava uma pretinha lá.Macunaíma cochichou pra ela:– Caterina, sai daí sim?Caterina nem gesto. Macunaíma já meio impinimado com ela, cochichou:– Caterina, sai daí que sinão te bato!A mulatinha ali. Então Macunaíma deu um bruto dum tapa na peste e cou com a mãogrudada nela.
- Page 2 and 3: MACUNAÍMA,O HERÓI SEM N EN HU M C
- Page 4 and 5: DedicatóriaA Paulo Prado
- Page 6 and 7: A RAIMUNDO MORAESNOTAS DIÁRIASText
- Page 9 and 10: 1 Macunaíma1 MACUNAÍMA
- Page 11 and 12: trapoerabas da serrapilheira, ele b
- Page 13 and 14: 2 Maioridade2 MAIORIDADE
- Page 15 and 16: Macunaíma estava muito contrariado
- Page 17 and 18: - Culumi faz isso não, meu neto, c
- Page 19 and 20: Ci, Mãe do Mato3 CI, MÃE DO MATO
- Page 21 and 22: Ficavam rindo longo tempo, bem junt
- Page 23 and 24: planta é que a gente cura muita do
- Page 25 and 26: No outro dia bem cedo o herói pade
- Page 27 and 28: - Si... si... si a boboiúna aparec
- Page 29 and 30: tempo. Chorava muito tempo. As lág
- Page 31 and 32: No outro dia Macunaíma pulou cedo
- Page 33 and 34: tecedeira inesquecível. Macunaíma
- Page 35 and 36: Maanape sabia do perigo e murmurou:
- Page 37 and 38: imaginando que carecia da máquina
- Page 39: Maanape gostava muito de café e Ji
- Page 43 and 44: da cidade de Serra no Espírito San
- Page 45 and 46: 7 Macumba7 MACUMBA
- Page 47 and 48: Tia Ciata cantava o nome do santo q
- Page 49 and 50: pintada na cara, com as alças da c
- Page 51 and 52: Lá no palácio da rua Maranhão em
- Page 53 and 54: Macunaíma ia seguindo e topou com
- Page 55 and 56: Que o tatu prepare a covaDos seus d
- Page 57 and 58: dobra interior dos dedos dos pés.
- Page 59 and 60: Ás mui queridas súbditas nossas,
- Page 61 and 62: condescendéncias, os brincos e pas
- Page 63 and 64: descuidàmos do nosso talismã, por
- Page 65 and 66: ao gosto dos nativos, mordendo os h
- Page 67 and 68: 10 Pauí-Pódole10 PAUÍ-PÓDOLE
- Page 69 and 70: desejava saber as línguas da terra
- Page 71 and 72: Bateu um ventarrão tamanho que o f
- Page 73 and 74: 11 A velha Ceiuci11 A VELHA CEIUCI
- Page 75 and 76: - Eu menti.Todos os vizinhos caram
- Page 77 and 78: - O quê! quem que é desconhecido!
- Page 79 and 80: tanta água.- Vam’bora, gente!E t
- Page 81 and 82: - Minha lhinha nova, entrega já me
- Page 83 and 84: margem do São Francisco emporcalha
- Page 85 and 86: 12 Tequeteque, Chupinzão e a injus
- Page 87 and 88: Os manos levaram um susto.- Que foi
- Page 89 and 90: O ticotico era pequetitinho e o chu
- Page 92 and 93:
13 A piolhenta do Jiguê13 A PIOLHE
- Page 94 and 95:
atentar o herói.- Gente! adeus, ge
- Page 96 and 97:
um por um e por isso os piolhos aum
- Page 98 and 99:
14 Muiraquitã14 MUIRAQUITÃ
- Page 100 and 101:
Por isso que o Pai do Sono inda exi
- Page 102 and 103:
- Agora que te engulo, comadre!E co
- Page 104 and 105:
Macunaíma estendeu os braços suss
- Page 106 and 107:
15 A pacuera de Oibê15 A PACUERA D
- Page 108 and 109:
vinha a cantiga peguenta das uiaras
- Page 110 and 111:
- É de paz!Então a porta se abriu
- Page 112 and 113:
- Gardez cette date: 1927! Je viens
- Page 115 and 116:
16 Uraricoera16 URARICOERA
- Page 117 and 118:
carrapatos e dormiu. Tarde chegando
- Page 119 and 120:
gaiola enada no braço dele ia bate
- Page 121 and 122:
pegou, Macunaíma fez um esforço h
- Page 123 and 124:
No outro dia o boi estava podre. En
- Page 125 and 126:
Macunaíma se arrastou até a taper
- Page 127 and 128:
valentes das noites de amor que o b
- Page 129 and 130:
caqueando a muiraquitã nas barriga
- Page 131 and 132:
tanto penar na terra sem saúde e c
- Page 133:
Acabou-se a história e morreu a vi
- Page 136 and 137:
1 º PREFÁCIOEste livro carece dum
- Page 138 and 139:
em que trabalho porém não tenho c
- Page 140 and 141:
PREFÁCIOEvidentemente não tenho a
- Page 142 and 143:
fenômeno complexo que o torna sint
- Page 144 and 145:
A RAIMUNDO MORAESMeu ilustre e semp
- Page 146 and 147:
NOTAS DIÁRIASEspecial para Mensage
- Page 148 and 149:
Texto da orelhaTEXTO DA ORELHAÀs m
- Page 150 and 151:
Copyright © 2008Herdeiros de Mári
- Page 152:
Texto de quarta capaTEXTO DE QUARTA