mesmo de pensões ou “zona estragada”; sobrelevando notar que a derradeira destas expressõesnão caberia, por indina, nesta notícia sobre as coisas de São Paulo, não fora o nosso anseio desermos exacto e conhecedor. Porém si, como vós, formam essas queridas senhoras um clan demulheres, muito de vós se apartam no físico, no género de vida e nos ideais. Assim vos diremosque vivem á noute, e se não dão aos afazeres de Marte nem queimam o destro seio, mas aMercúrio cortejam tão somente; e quanto aos seios, deixam-nos evolverem, á feição degigantescos e ácidos pomos, que, si lhes não acrescentam ao donaire, servem para numerosos eárduos trabalhos de excelente virtude e prodigiosa excitação.Ainda lhes difere o físico, tanto ou quanto monstruoso, bem que de amável monstruosidade,por terem elas o cérebro nas partes pudendas, e, como tão bem se diz em linguagemmadrigalesca, o coração nas mãos.Falam numerosas e mui rápidas línguas; são viajadas e educadíssimas; sempre todasobedientes por igual, embora ricamente díspares entre si, quais loiras, quais morenas, quaisfossem maigres, quais rotundas; e de tal sorte abundantes no número e diversidade, que muitonos preocupa a razão, o serem todas e tantas, originais dum país somente. Acresce ainda que atodas se lhes dão o excitante, embora injusto, epiteto de “francesas”. A nossa desconança é queessas damas não se originaram todas da Polónia, porém que faltam á verdade, e são iberas,itálicas, germánicas, turcas, argentinas, peruanas, e de todas as outras partes férteis de um eoutro hemisfério.Muito estimaríamos que compartilhásseis da nossa desconança, senhoras Amazonas; e queconvidasseis também algumas dessas damas para demorarem nas vossas terras e Império nosso,por que aprendais com elas um moderno e mais rendoso género de vida, que muito fará avultaros tesoiros do vosso Imperador. E mesmo, si não quiserdes largar mão da vossa solitária Lei,sempre a existéncia de algumas centenas dessas damas entre vós, muito nos facilitará o “modusin rebus”, quando for do nosso retorno ao Império do Mato Virgem, cujo este nome, aliás,proporíamos se mudasse para Império da Mata Virgem, mais condizente com a lição dosclássicos.Todavia para terminar negócio tão principal, hemos por bem advertir-vos dum perigo queessa importação acarretara, si não aceitásseis alguns doutores possantes nos limites do Estado,enquanto dele estivermos apartado. Com serem essas damas mui fogosas e livres; bem puderapesar-lhes em demasia o seqüestro inconseqüente em que viveis, e, por não perderem elas assciéncias e segredos que lhes dão o pão, bem poderiam ir ao extremo de utilizarem-se das bestasferas, dos bogios, dos tapires e dos solertes candirus. E muito mais ainda nos pesaria áconsciéncia e sentimento nobre do dever, que vós, súbditas nossas, aprendásseis com elas certasabusões, tal como foi com as companheiras da gentil declamadora Safô na ilha rósea de Lesbos– vícios esses que não suportam crítica á luz das possibilidades humanas, e muito menos oescalpelo da rígida e sã moral.Como vedes, assaz hemos aproveitado esta demora na ilustre terra bandeirante, e si não
descuidàmos do nosso talismã, por certo que não poupàmos esforços nem vil metal, poraprendermos as coisas mais principais desta eviterna civilização latina, por que iniciemos,quando for do nosso retorno ao Mato Virgem, uma série de milhoramentos, que, muito nosfacilitarão a existéncia, e mais espalhem nossa prosápia de nação culta entre as mais cultas doUniverso. E por isso agora vos diremos algo sobre esta nobre cidade, pois que pretendemosconstruir uma igual nos vossos domínios e Império nosso.É São Paulo construída sobre sete colinas, á feição tradicional de Roma, a cidade cesárea,“capita” da Latinidade de que provimos; e beija-lhe os pés a grácil e inquieta linfa do Tiêtê. Aságuas são magnícas, os ares tão amenos quanto os de Aquisgrana ou de Anverres, e a área tãoa eles igual em salubridade e abundáncia, que bem se poderá armar, ao modo no doscronistas, que de três AAA se gera espontaneamente a fauna urbana.Cidade é belíssima, e grato o seu convívio. Toda cortada de ruas habilmente estreitas etomadas por estátuas e lampiões graciosíssimos e de rara escultura; tudo diminuindo com astúciao espaço de forma tal, que nessas artérias não cabe a população. Assim se obtém o efeito dumgrande acúmulo de gentes, cuja estimativa pode ser aumentada á vontade, o que é propício áseleições que são invenção dos inimitáveis mineiros; ao mesmo tempo que os edis dispõem delargo assunto com que ganhem dias honrados e a admiração de todos, com surtos de eloqüénciado mais puro estilo e sublimado lavor.As ditas artérias são todas recamadas de ricocheteantes papeizinhos e velívolas cascas defruitos; e em principal duma níssima poeira, e mui dançarina, em que se despargemdiariamente mil e uma espécimens de vorazes macróbios, que dizimam a população. Por essaforma resolveram, os nossos maiores, o problema da circulação; pois que tais insectos devoramas mesquinhas vidas da ralé e impedem o acúmulo de desocupados e operários; e assim seconservam sempre as gentes em número igual. E não contentes com essa poeira ser erguidapelo andar dos pedestrianistas e por urrantes máquinas a que chamam “automóveis” e“eléctricos” (empregam alguns a palavra Bond, voz espúria, vinda certamente do inglês),contractaram os diligentes edis, uns antropóides, monstros hipocentáureos azulejos emonótonos, a que congloba o título de Limpeza Pública; que “per amica silentia lunae”, quandocessa o movimento e o pó descansa inócuo, saem das suas mansões, e, com os rabos girantes amodo de vassouras cilíndricas, puxadas por muares, soerguem do asfalto a poeira e tiram osinsectos do sono, e os concitam á actividade com largos gestos e grita formidanda. Estes afazeresnocturnos são discretamente conduzidos por pequeninas luzes, dispostas de longe em longe, demaneira a permanecer quasi total a escuridade, não perturbem elas os trabalhos de malfeitores eladrões.A cópia destes se nos agura realmente excessiva; e temos que são a única usança que não secoaduna com nosso temperamento, ordeiro e pacíco de seu natural. Porém, longe de nósqualquer reproche aos administradores de São Paulo, pois sabemos muito bem que aos valerosospaulistas, são aprazíveis tais malfeitores e suas artes. São os paulistas gente ardida e avalentoada,
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carrapatos e dormiu. Tarde chegando
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gaiola enada no braço dele ia bate
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pegou, Macunaíma fez um esforço h
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No outro dia o boi estava podre. En
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Macunaíma se arrastou até a taper
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valentes das noites de amor que o b
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caqueando a muiraquitã nas barriga
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tanto penar na terra sem saúde e c
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Acabou-se a história e morreu a vi
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1 º PREFÁCIOEste livro carece dum
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em que trabalho porém não tenho c
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PREFÁCIOEvidentemente não tenho a
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fenômeno complexo que o torna sint
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A RAIMUNDO MORAESMeu ilustre e semp
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Texto de quarta capaTEXTO DE QUARTA