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Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

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Rodrigues, um Hartt, um Roquette Pinto, e mais umas três centenas de contadores do Brasil,dum e de outro fui tirando tudo o que me interessava. Além de ajuntar na ação incidentescaracterísticos vistos por mim, modismos, locuções, tradições ainda não registradas em livro,fórmulas sintáticas, processos de pontuação oral, etc. de falas de índio, ou já brasileiras, temidase refugadas pelos geniais escritores brasileiros da formosíssima língua portuguesa.Copiei, sim, meu querido defensor. O que me espanta e acho sublime de bondade é osmaldizentes se esquecerem de tudo quanto sabem, restringindo a minha cópia a Koch-Gruenberg, quando copiei todos. E até o sr. na cena da Boiúna. Confesso que copiei, copiei àsvezes textualmente. Quer saber mesmo? Não só copiei os etnógrafos e os textos ameríndios,mais ainda, na Carta pras icamiabas, pus frases inteiras de Rui Barbosa, de Mário Barreto, doscronistas portugueses coloniais, e devastei a tão preciosa quão solene língua dos colaboradoresda Revista de Língua Portuguesa. Isso era inevitável pois que o meu... isto é, o herói de Koch-Gruenberg, estava com pretensões a escrever um português de lei. O sr. poderá me contradizerarmando que no estudo etnográco do alemão, Macunaíma jamais teria pretensões a escreverum português de lei. Concordo, mas nem isso é invenção minha pois que é uma pretensãocopiada de 99 por cento dos brasileiros! Dos brasileiros alfabetizados.Enm, sou obrigado a confessar duma vez por todas: eu copiei o Brasil, ao menos naquelaparte em que me interessava satirizar o Brasil por meio dele mesmo. Mas nem a idéia desatirizar é minha pois já vem desde Gregório de Matos, puxa vida! Só me resta pois o acaso dosCabrais que por terem em provável acaso descoberto em provável primeiro lugar o Brasil, oBrasil pertenceu a Portugal. Meu nome está na capa do Macunaíma e ninguém o poderá tirar.Mas só por isso apenas o Macunaíma é meu. Fique sossegado. E certo de que tem em mim umquotidiano admirador.MÁRIO DE ANDRADENOTA DA EDIÇÃOCarta-aberta publicada por Mário de Andrade no Diário Nacional, a. 5, nº 1.262. São Paulo, domingo, 20 set. 1931, p. 3.

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