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Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

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medo do frio, isto é, se arreceia de uma civilização, de uma cultura de clima moderado europeu.E Macunaíma, como num pressentimento, retira o dedão, não se atira n’água. O herói se salvaessa primeira vez. E a água mexida pelo dedão do herói se entrança de novo num tecido de ouroe prata, escondendo a visagem da Uiara-dona-Sancha. A qual é dona Sancha pra ser européia,pois Vei, em vez de se utilizar duma das suas lhas, europeíza o seu instrumento de vingança.Ela percebe que, sem o europeísmo a que se acostumou, Macunaíma não se enganava. Vei nãodesanima e pra enm vencer acaba se servindo de um argumento exatamente tropical. Peganum chicote de calor e dá uma lambada no herói. Este não resiste mais. Se atira na água fria,preferindo os braços da iara ilusória. E vai ser devorado pelos bichos da água, botos, piranhas.Ainda consegue voltar à praia, mas é um frangalho de homem. Como agora? sem umaperna, sem isto e mais aquilo, e sem principalmente a muiraquitã que lhe dá razão-de-ser,poderá se organizar, se reorganizar numa vida legítima e funcional?... Não tem maispossibilidade disso. Desiste de ir viver com Delmiro Gouveia, o grande criador. Desiste de ir praMarajó, único lugar do Brasil em que caram traços duma civilização superior. Lhe falta oamuleto nacional, não conseguirá mais vencer nada. Então ele prefere ir brilhar do brilho inútildas estrelas.MÁRIO DE ANDRADENOTA DA EDIÇÃOFragmento de Notas Diárias, publicado em Mensagem (Quinzenário de Literatura e Arte), a. 2, nº 26. Belo Horizonte, 20 jul.1943, p. 1.

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