atentar o herói.– Gente! adeus, gente! Vou pra Europa que é milhor! Vou em busca de Venceslau PietroPietra que é o gigante Piaimã comedor de gente! que o herói discursava.E toda a choferada abraçava Macunaíma se despedindo. O vapor estava ali e Macunaíma jápulara no cais da fonte pra subir a escadinha do piróscafo Conte Verde. Todos os tripulantes nafrente da música acenavam chamando Macunaíma e eram marujos forçudos, eram argentinosníssimos e eram tantas donas lindíssimas pra gente brincar até enjoar com os balangos dasondas.– Desce a escadinha, capitão! que o herói exclamou.Então o capitão tirou o cocar e executou uma letra no ar. E todos, os marujos os argentinosníssimos e as cunhãs lindíssimas pra Macunaíma brincar, todos esses tripulantes soltaram vaiasmacotas caçoando do herói enquanto o navio manobrando sem parar dava a popa pra terra eechava de novo pro fundo da gruta. E todos aqueles tripulantes viraram doentes com erisipasempre caçoando do herói. E quando o piróscafo atravessou o estreito entre a parede da gruta eo bagual de bombordo a chaminezona guspiu uma fumaçada de pernilongos, de borrachudosmosquitos-pólvora mutucas marimbondos cabas potós moscas-de-ura, todos esses mosquitosafugentando os motoristas.O herói sentado no rebordo da fonte penava todo mordido e com mais erisipa, mais, todoerisipelado. Sentiu frio e veio a febre. Então espantou com um gesto os mosquitos e caminhoupra pensão.No outro dia Jiguê entrou em casa com uma cunhatã, fez ela engolir três bagos de chumbopra não ter lho e os dois dormiram na rede. Jiguê tinha se amulherado. Ele era muito valente.Passava o dia limpando a espingarda e aando a lamparina. A companheira de Jiguê todas asmanhãs ia comprar macaxeira pros quatro comerem e se chamava Suzi. Porém Macunaíma queera o namorado da companheira de Jiguê, todos os dias comprava uma lagosta pra ela, punha nofundo do jamaxi e por cima esparramava a macaxeira pra ninguém não maliciar. Suzi era bemfeiticeira. Quando chegava em casa deixava a cesta na saleta e ia dormir pra sonhar. Sonhandoela falava para Jiguê:– Jiguê, meu companheiro Jiguê, estou sonhando que tem lagosta por debaixo da macaxeira.Jiguê ia ver e tinha. Todos os dias era assim e Jiguê tendo amanhecido com dor-de-cotovelodesconou. Macunaíma percebeu a dor do mano e fez uma mandinga pra ver si passava. Pegounuma cuia e de-noite deixou-a no terraço, rezando manso:“Água do céuVem nesta cuia,Paticl vem nesta água,Moposêru vem nesta água,Sivuoímo vem nesta água,
Omaispopo vem nesta água,Os donos da Água enxotem a dor-de-corno!Aracu, Mecumecuri, Paí que venham nesta água,E enxotem a dor-de-corno si o doente beber esta água,Em que estão encantados os Donos da Água!”Deu pra Jiguê beber no outro dia porém não surtiu efeito não e o mano andava muitodesconfiado.Quando Suzi se vestia pra ir na feira, assobiava o fox-trote da moda pro namorado irtambém. O namorado era Macunaíma, ia. A companheira de Jiguê saía e Macunaíma saíaatrás. Andavam brincando por aí e quando chegava a hora da volta já não tinha macaxeira maisna feira. Pois então Suzi disfarçando ia atrás da casa, sentava no jamaxi e puxava uma porção demacaxeira, de dentro do maissó. Todos comiam muito bem, só Maanape resmungava:– Caboclo de Taubaté, cavalo pangaré, mulher que mija em pé, libera nós Dominé! eempurrava a comida.Maanape era feiticeiro. Não queria saber daquela macaxeira não e como andava curtindofome passava o tempo mastigando ipadu pra enganar. De-noite quando Jiguê queria pular narede a companheira dele principiava gemendo, falando que estava empanzinada de tantoengolir caroço de pitomba. Era só pra Jiguê não brincar com ela. Jiguê teve raiva.No outro dia ela foi na feira e assobiou o fox-trote da moda. Macunaíma saiu atrás. Jiguê eramuito valente. Pegou numa mirassanga enorme e foi devagarinho atrás deles. Procurouprocurou e encontrou Suzi com Macunaíma de mãos dadas no Jardim da Luz. Já estavam serindo um pro outro. Jiguê desceu a mirassanga nos dois, levou a companheira pra pensão edeixou o mano fatigado na beira da lagoa entre cisnes.Do outro dia em diante Jiguê é que fazia as compras deixando a companheira presa noquarto. Suzi sem quefazer passava o tempo contrariando a moralidade mas uma feita o santoAnchieta vindo ao mundo passou pela casa dela e por piedade ensinou-a a catar piolhos. Suzipossuía uns cabelos ruivos à la garçonne e sustentava muitos piolhos, muitos! Agora nãosonhava mais que tinha lagosta por debaixo da macaxeira nem não fazia imoralidades. QuandoJiguê partia ela tirava os cabelos e espetando-os no porrete do companheiro, catava piolhos.Mas tinha muitos piolhos, muitos! Então com medo que o companheiro apanhasse ela notrabalho, falou assim:– Jiguê, meu companheiro Jiguê, quando você volta do mercado bate primeiro na porta, batetodos os dias uma porção de tempo pra mim ficar contente e ir cozinhar a macaxeira.Jiguê falou que sim. Todos os dias ia no mercado comprar macaxeira e quando voltava batiademorado na porta. Então a cunhã botava os cabelos na cabeça e ficava esperando Jiguê.– Suzi, minha companheira Suzi, bati uma porção de vezes na porta, será que você alegrou?– Muito! ela fez. E foi cozinhar a macaxeira.E todos os dias era assim. Mas tinha muitos piolhos, muitos! É que ela contava os catados
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trapoerabas da serrapilheira, ele b
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Macunaíma estava muito contrariado
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planta é que a gente cura muita do
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No outro dia bem cedo o herói pade
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- Si... si... si a boboiúna aparec
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tempo. Chorava muito tempo. As lág
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No outro dia Macunaíma pulou cedo
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tecedeira inesquecível. Macunaíma
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Maanape sabia do perigo e murmurou:
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imaginando que carecia da máquina
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Maanape gostava muito de café e Ji
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uma muiraquitã com forma de jacar
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A RAIMUNDO MORAESMeu ilustre e semp
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