10.07.2015 Views

Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

Macunaíma - Comunicação, Esporte e Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Uma feita os quatro iam seguindo por um caminho no mato e estavam penando muito desede, longe dos igapós e das lagoas. Não tinha nem mesmo umbu no bairro e Vei, a Sol,esapando por entre a folhagem, guascava sem parada o lombo dos andarengos. Suavam comonuma pajelança em que todos tivessem besuntado o corpo com azeite de piquiá, marchavam. Derepente Macunaíma parou riscando a noite do silêncio com um gesto imenso de alerta. Osoutros estacaram. Não se escutava nada porém Macunaíma sussurrou:– Tem coisa.Deixaram a linda Iriqui se enfeitando sentada nas raízes duma samaúma e avançaramcautelosos. Já Vei estava farta de tanto guascar o lombo dos três manos quando légua e meiaadiante Macunaíma escoteiro topou com uma cunhã dormindo. Era Ci, Mãe do Mato. Logoviu pelo peito destro seco dela, que a moça fazia parte dessa tribo de mulheres sozinhas parandolá nas praias da lagoa Espelho da Lua, coada pelo Nhamundá. A cunhã era linda com o corpochupado pelos vícios, colorido com jenipapo.O herói se atirou por cima dela pra brincar. Ci não queria. Fez lança de echa tridenteenquanto Macunaíma puxava da pajeú. Foi um pega tremendo e por debaixo da copadareboavam os berros dos briguentos diminuindo de medo os corpos dos passarinhos. O heróiapanhava. Recebera já um murro de fazer sangue no nariz e um lapo fundo de txara no rabo. Aicamiaba não tinha nem um arranhãozinho e cada gesto que fazia era mais sangue no corpo doherói soltando berros formidandos que diminuíam de medo os corpos dos passarinhos. Anal sevendo nas amarelas porque não podia mesmo com a icamiaba, o herói deitou fugindo chamandopelos manos:– Me acudam que sinão eu mato! me acudam que sinão eu mato!Os manos vieram e agarraram Ci. Maanape trançou os braços dela por detrás enquantoJiguê com a murucu lhe dava uma porrada no coco. E a icamiaba caiu sem auxílio nassamambaias da serrapilheira. Quando cou bem imóvel, Macunaíma se aproximou e brincoucom a Mãe do Mato. Vieram então muitas jandaias, muitas araras vermelhas tuins coricasperiquitos, muitos papagaios saudar Macunaíma, o novo Imperador do Mato-Virgem.E os três manos seguiram com a companheira nova. Atravessaram a cidade das Floresevitaram o rio das Amarguras passando por debaixo do salto da Felicidade, tomaram a estradados Prazeres e chegaram no capão de Meu Bem que ca nos cerros da Venezuela. Foi de lá queMacunaíma imperou sobre os matos misteriosos, enquanto Ci comandava nos assaltos asmulheres empunhando txaras de três pontas.O herói vivia sossegado. Passava os dias marupiara na rede matando formigas taiocas,chupitando golinhos estalados de pajuari e quando agarrava cantando acompanhado pelos sonsgotejantes do cotcho, os matos reboavam com doçura adormecendo as cobras os carrapatos osmosquitos as formigas e os deuses ruins.De-noite Ci chegava rescendendo resina de pau, sangrando das brigas e trepava na rede queela mesmo tecera com fios de cabelo. Os dois brincavam e depois ficavam rindo um pro outro.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!