social, principalmente as que estão no campo da informalidade, há certa resistência dosdepoentes em comentar sua profissão.No caso dos barbeiros, foi notória a análise da importância de sua profissãoacompanhada da reflexão de sua inserção na sociedade. Como o fez José Gonçalves dosSantos, quando disse que os profissionais não sabem que ele (...) é um profissionaldigno da sociedade. Procurado pela sociedade. Um profissional muito aceito pelasociedade. Advogado, médico, engenheiro, todo mundo procura um barbeiro. Sejaanalfabeto, seja semi-analfabeto.O que percebemos durante o registro dessas narrativas de vida é que existe um grupo deprofissionais que possuem uma identidade bem definida. São barbeiros que passarampor experiências parecidas. Estamos falando de uma geração de barbeiros das maisvelhas de Aracaju, que tem como característica comum, em suas narrativas, aidealização do passado, acompanhada por uma idéia de decadência da profissão, quandonão da afirmação de que o oficio está em vias de extinção. Numa das entrevistasconcedidas, o barbeiro Luiz Francisco dos Santos demonstra essa idéia:antigamente o barbeiro se destacava. Tinha um barbeiro em tal lugar:“Fulano é barbeiro!” (...) Pois! Mulher de rico, em Aracaju tem cursode cabeleireiro. E corta cabelo em casa. (...) Na frente [de cada casa]bota uma cadeira. (...) todo dia ganha dez ou vinte reais por dia, jáganhou seiscentos reais por mês. Pra quem tá desempregado não temjeito como empregar valeu.Essa característica pode ser resultado de uma não identificação dessas pessoas com asmudanças do tempo e do meio profissional em que vivem. O mundo está passando porrápidas transformações, que não são acompanhadas por alguns profissionais maisvelhos. Vejamos uma passagem da narrativa de vida de José Gonçalves dos Santos:[barbeiro] Tá em extinção. Quando essa (...) Geração que tem, acabar, já foi. Esse queresta, quando terminar, já vem novos métodos de trabalho, tudo diferente... Pra quem éantigo... Vai estranhar muito.Sendo assim, quatro são as questões principais acerca da realidade atual dos barbeiros,que apontam para uma crise de identidade profissional.A primeira é a respeito das transformações no mundo do trabalho, mais especificamenteao avanço tecnológico que introduz novos tipos de ferramentas de trabalho, que, por suavez, alteram o significado do oficio de barbeiros. Isso pode ser observado na citaçãoabaixo do barbeiro Luiz:Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 118
Ói, a gente trabalhava com isso [com navalha]! E aqui é couro[assentador]. Que é pra amolar. Se não souber amolar e se tiver barbaruim passa e: “Ô rapaz, essa navalha tá ruim.” Aí passa tcha, tcha,tcha, tcha. Agora não, você pega uma bandinha de gilete... e bota [nanavalheta]. Faz sua barba. Ou corta seu cabelo. Quando acabar joga aí.Pega uma outra nova e bota. Com uma gilete atende dois freguês.Barbeiro ruim é que não sabe amolar navalha.Pela passagem acima, percebemos que Luiz define barbeiro pelo trabalho com anavalha. Saber amolar uma navalha é imprescindível para que se possa trabalhar debarbeiro. Sendo assim, se não há mais necessidade de navalha, pois ela foi substituídapelo navalhete, que tem lâminas substituíveis, como podemos definir um barbeiro, jáque o instrumento que os identifica foi substituído? Estamos falando de um profissionalque tem como marca o trabalho manual. O trabalhador torna-se em peça humana queacompanha a máquina. Sua tarefa resume-se em manter a máquina em funcionamentoque tem, como conseqüência, a eliminação não só das mãos, mas também dos próprioshomens (AUED, 1999, p.31). A utilização de aparelhos elétricos, como o secador e amáquina de cortar cabelo, revela as mudanças no modo de trabalhar dos barbeiros, quesão obrigados a reinventar suas formas artesanais. Histórias de vida que parecemconfirmar que a profissão está passando por um período de transição, por metamorfoses.A luta entre o velho e o novo impele a que os primeiros sejamquebrados, e ela encontra arrefecimento quando novos costumes sãoinstituídos. Mas até que isto se efetive impõe-se uma significativatransição histórica. Para sobreviverem, os personagens sociaisreinventam formas artesanais, disseminam práticas de outros temposhistóricos. (AUED, 1999, p.9).A segunda questão se refere ao problema do desemprego, lembrada por Damascena:Eu atribuo à concorrência [a decadência da profissão]. Meu irmão,tem milhares e milhares de salões por aí. Ói, não tem base né. Vocêtirou um curso, fez um curso hoje, dois a três meses. (...) [Bota] osalão aí lá se vai ele trabalhar com você, mesmo que não saiba. Aí vaifazer o que, vai cobrar dez? Vai cobrar dois, três mil réis. Porque aliamassa um, entorta outro né? Pra acabar de aprender. (...) Ô! Não tememprego né. Você vê uns meninos aí, os rapazinhos novos, bom detrabalhar, fazer outra coisa, vai trabalhar de barbeiro. Ói! Home aí nãotem no mundo quem acabe mais.Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 119
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