daquele órgão de vigilância – órgão que se mantinha em funcionamento em plenoperíodo de transição democrática –, e ao mesmo tempo desativá-lo.A invasão da ASI, na UFC, não parece ter sido um caso isolado. A análise da entrevistade Gisela Mendonça, então presidente do UNE, intitulada a “UNE segue os rastros”,revela que o movimento estudantil se colocava de modo engajado contra o SistemaNacional de Informações e as ASI/AESI. Nota-se, também, que Sergipe não foi umaexceção a esse posicionamento. Lideranças do movimento estudantil universitário, noperíodo e funcionários que atuaram junto a AESI/UFS, confirmam episódio parecido,no qual estudantes descobriram arquivos semelhantes e, como forma de protesto, osdestruíram (CARVALHO, 2008).Não obstante a importância simbólica desses protestos e mesmo a intenção de apagar ostraumas e ressentimentos que esses documentos poderiam suscitar, os registros destesórgãos de segurança e informação configuram-se em importantes fontes de estudo sobreos estudantes, a universidade e a sociedade brasileira, no período.Observa-se, assim, um duplo desmonte desses arquivos junto às Instituições de EnsinoSuperior, no país: - um oficial, ocorrido com o esvaziamento dos arquivos pelasautoridades, e outro social, decorrente dos protestos estudantis contra as reminiscênciasda ditadura. Esses desmontes, por algum tempo, alimentaram a impressão de que sóseria possível trabalhar o assunto através de entrevistas, notas esparsas nos jornais ouacessando arquivos do SNI ou sobre a ditadura localizados no Rio de Janeiro, São Pauloou Brasília.Mas apesar de tudo isso, nos arquivos do Programa de Documentação e PesquisaHistórica – PDPH/DHI/UFS – e no Arquivo Central da UFS, alguns registrossobreviveram e têm sido trabalhados nas últimas décadas: correspondências expedidas erecebidas, atas de conselhos, peças teatrais censuradas, termos de inquérito e relatórios.Limitando-se ao exame da correspondência expedida e recebida, percebe-se que, a partirde 1969 a Divisão de Segurança e Informação – DSI, um dos braços de apoio doSistema Nacional de Informações, elegera como foco de suas preocupações a atuaçãopolítica e/ou cultural dos estudantes universitários. Preocupação que a levaria a montarem 1971, junto à UFS, a Assessoria Especial de Segurança e Informação – AESI –,mais um tentáculo da comunidade de informações e segurança nacional (Resolução nº16/ CONSU, 06 de agosto de 1971).Os primeiros registros dessas correspondências, mantidas entre a reitoria dauniversidade e o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, apontam alguns estudantesPonta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 96
como causadores da “intranqüilidade pública”. E, em anexo, a essa primeiracorrespondência, seguiu uma lista com os nomes dos alunos que participaram daagitação estudantil de 1968 (Of. 26 de fevereiro de 1969). Neste documento,especificamente, aparece o nome de Laura Marinho Tourinho Ribeiro, estudante deHistória, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Logo em seguida, no dia 01 demarço de 1969, o ofício circular nº 10/69/GR, fazendo remissão ao ofício confidencialde 26 de fevereiro daquele ano, solicita que os respectivos diretores das instituições quepassaram a compor a Universidade Federal de Sergipe, no caso as então faculdadesisoladas, naquele momento ainda denominadas de institutos e atualmente denominadasde centros, tomassem providências em relação aos “(...) estudantes constantes nasrelações que acompanharam o ofício CONFIDENCIAL (...)” , comparecendo para tratarde assunto “urgente e inadiável”.O exame desta documentação chama atenção pelo volume de referências feitas aosestudantes universitários, em Sergipe, por esses órgãos. Essa documentaçãopersistentemente recomenda às autoridades vigilância e controle em relação àsexperiências políticas e/ou culturais estudantis. Escovar os contrapelos destadocumentação, parafraseando Walter Benjamin, pode ajudar a entender melhor umaparte dessa história (1994, p.225).Discutindo a bibliografia...instituições viviam sob o acompanhamento dos órgãos deinformação, as relações pessoais predominando de modo maisacentuado, as formas de participação sendo substituídas pelosmétodos de cooptação, as forças intermediárias enfraquecidas(1997, p.63)Em Sergipe, como em outros estados, estes órgãos passaram a vigiar as manifestaçõespolíticas e culturais dos estudantes. Encontros, comemorações, passeatas, desfiles,trotes, jornais ou mesmo grupos de estudos e de teatro passaram a ser objeto de atençãodestes órgãos. O país vivia um momento no qual o exercício das liberdades políticas ede expressão, sofria restrições e era crescente o medo e a insegurança causados peloclima de delações. Em descompasso com as diretrizes colocadas pelo Estado quebuscava controlar a sociedade, uma parte da juventude mostrou-se irreverente, criativa edisposta a alternativas. Eles não silenciaram e criticaram a conjuntura política naquelePonta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 97
- Page 2 and 3:
A Revista Eletrônica Ponta de Lan
- Page 7 and 8:
ARTIGOSPonta de Lança, São Crist
- Page 9:
HISTORIOGRAFÍA DE LA GRAN NIVELACI
- Page 12 and 13:
vigilar y proteger el paso (Ruz Lhu
- Page 14 and 15:
Para exaltar aun más las discusion
- Page 18:
epresentan una fase particular del
- Page 21 and 22:
Chichén Itzá: coexistencia y conf
- Page 23 and 24:
sería el epicentro de este sistema
- Page 25 and 26:
6- Palabras finalesEl objetivo de e
- Page 27 and 28:
FLORESCANO, Enrique. El mito de Que
- Page 29 and 30:
Period”. Ancient Mesoamerica 9. C
- Page 31 and 32:
EM CENA O AGON PELA POSSE DA TERRA:
- Page 33 and 34:
mas a terra dadanão se abre a boca
- Page 35 and 36:
forma de organização política; d
- Page 37 and 38:
enesses dessa estrutura social poss
- Page 39 and 40:
1979: XXI). Assim, nas páginas ini
- Page 41 and 42:
CENAS DANTESCAS NO INTERIOR DE MINA
- Page 43 and 44:
As famílias que tinham suas pequen
- Page 45 and 46: crítica que os elementos intrínse
- Page 47 and 48: Patriarcalismo e rupturas em Cartil
- Page 49 and 50: numa “promessa” de transgressã
- Page 51 and 52: É bom lembrar que originalmente do
- Page 53 and 54: prática material é um processo no
- Page 55 and 56: mencionado anteriormente, ocorreu p
- Page 57 and 58: Os últimos e piores dias de Cassia
- Page 59 and 60: LAMBE-SUJO E CABOCLINHOS: UMA LEITU
- Page 61 and 62: Delineava-se, assim, uma camada int
- Page 63 and 64: interpretações de passividade) pe
- Page 66 and 67: afro-descendentes e europeus, pois,
- Page 68 and 69: indígenas à aspectos beligerantes
- Page 70 and 71: da festa, tais como: a presença de
- Page 72 and 73: RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro:
- Page 74 and 75: INTRODUÇÃOEstudos a respeito do c
- Page 76 and 77: Refletindo sobre estas redes secret
- Page 78 and 79: profissionais letrados, médicos, a
- Page 80 and 81: Como se transmitia, de geração em
- Page 82 and 83: um produto elaborado para justifica
- Page 84 and 85: Numa sociedade como a do Brasil col
- Page 86 and 87: A mesma historiadora, em artigo int
- Page 88 and 89: haverá de revelar suas vantagens e
- Page 90 and 91: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASASSIS,
- Page 92 and 93: VELOSO, A. J. Barros. Inquisição
- Page 94 and 95: IntroduçãoEstamos encaminhando a
- Page 98 and 99: momento. As frases colocadas no tro
- Page 100 and 101: torturar os líderes estudantis, en
- Page 102 and 103: Postura não coincidente com a assu
- Page 104 and 105: agitadores provocadores da “intra
- Page 106 and 107: organização do movimento estudant
- Page 108 and 109: Referências bibliográficas:A UNE
- Page 110 and 111: Ponta de Lança, São Cristóvão v
- Page 112 and 113: Ponta de Lança, São Cristóvão v
- Page 114 and 115: Key-words: Work's Social History, O
- Page 116 and 117: vida dos índios. Criar a laboriosi
- Page 118 and 119: social, principalmente as que estã
- Page 120 and 121: Esses jovens que adentram na área
- Page 122 and 123: individualmente, já que se perde u
- Page 124 and 125: FREITAS, Sônia Maria de. História
- Page 126 and 127: Ponta de Lança, São Cristóvão v
- Page 128 and 129: Apesar de permear toda a obra, é n