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WILLIAMS, 1979), neste artigo, ao analisarmos Cartilha do silêncio a partir de umaperspectiva cultural, estamos simplesmente considerando o sujeito representado tantocomo portador de valores, que estão em processo de construção, quanto como alguémdentro de padrões culturais, nos quais homens e mulheres estão inseridos.Essas tradições ou determinações culturais são – nas condições da narrativa e darealidade que o texto literário em foco representa – timidamente modificadas mais pelaforça das necessidades imediatas do cotidiano dos narradores-personagens e pelamanutenção dos vestígios de uma condição sócio-econômica, do que propriamente poruma postura transformadora dos seres envoltos numa trama sócio-familiar. Aqui não senega o caráter irrequieto e contestador de dona Senhora, mesmo nos moldes da primeirametade do século XX, e de Arcanja já no início da segunda metade do século XX, mas asupremacia da pressão social calando vozes e ceifando vidas – uma vez que não só aconsciência do indivíduo determina sua realidade, mas as realidades institucionais –família, por exemplo – também determinam a consciência do indivíduo.Em Cartilha do silêncio, as vozes caladas evidenciam tanto a determinação damaterialidade político-social à realidade de cada indivíduo, quanto o aspecto ideológicodeste texto de ficção, no sentido estrito, e da literatura no sentido mais amplo; afinal,considerada em si, a função social da literatura independe da vontade ou daconsciência dos autores e consumidores de literatura. Decorre da próprianatureza da obra, da sua inserção no universo dos valores culturais, masquase sempre tanto o artista quanto o público estabelecem certos desígniosconscientes, que passam a formar a camada de significação da obra. O artistaquer atingir um determinado fim, o leitor quer que lhe mostre umdeterminado ponto da realidade. Todo este lado voluntário da criação e darecepção ocorre para uma função específica da obra que se poderia chamarde função ideológica (CANDIDO, 2000, p.46).Dentro do caráter ideológico do texto literário, as estruturas sociais de mando edesmando, do autoritarismo propriamente dito, estão bem representadas na obra, umavez que o poder do patriarcado aparece logo em um dos primeiros episódios danarrativa, no qual Romeu Barroso – numa postura autêntica de senhor feudal – chega aproibir a esposa Rosário de usar o próprio nome e, a partir dessa primeira castração,passa a exigir que todos a chamem de Senhora, simplesmente dona Senhora, esposa emulher anulada na construção de sua identidade.Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 50

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