1. A gênese de uma NaçãoA partir de concepções societárias engendradas pelo invasor ávido por conquistas efortunas, desenvolveu-se no território hoje conhecido como Brasil um processo deconfluência entre três matrizes étnicas: a do colonizador europeu, a do indígena nativo ea do negro africano, cada qual com seus multiculturalismos internos. Esse “povo novo”(RIBEIRO, 1995, p.19) formou-se através de relações eminentementes híbridas quetransformaram seus aspectos culturais germinais, criando identidades particulares eintercambiantes dinamizadas nas circunstâncias da colonização.Esse panorama regulado a partir de premissas civilizatórias foi sintomático do modelosócio-econômico então vigente na Europa, fundamentado na lógica mercantilista deexpansão territorial e de apropriação de espaços, onde a escravização e a exploração daspopulações autóctonas (assim como do contingente africano recém-chegado) e dosrecursos naturais disponíveis em suas terras, serviram de sustentáculo para oenriquecimento das nações metropolitanas européias. Em nossa perspectiva de análise,isto se aplica, sobretudo, à Espanha e Portugal que, a partir do século 15, encontravamseem difusão geopolítica em nível intercontinental atrelada ao emergente modo deprodução capitalista, desenvolvendo esquemas práticos de gestão do território e demanutenção do domínio sobre esses espaços potencialmente lucrativos ocupados naAmérica. Neste contexto, a conquista era necessária e oportuna na medida em queengendrava os projetos nacionalistas desses Estados europeus em franco processo deconsolidação.Dentre variadas maneiras os ideais nacionalistas são fundamentados em símbolos ediscursos que criam e recriam enfáticas representações identitárias associadas a umimaginário coletivo no qual esferas políticas, econômicas e culturais se articulamestrategicamente na constituição material e imaterial do território nacional e suasociedade, logo, de suas auto-afirmações. Sendo assim, como conseqüência dosmecanismos de dominação aplicados durante o processo formador do Brasil, numaperspectiva de longa duração, edificou-se um Estado-Nação à luz de uma ideologia deunificação étnica que, de fato, tinha como projeto a constituição de uma civilizaçãodeterminada por arquétipos culturais europeus, escamoteando evidentes e profícuasdiferenças étnicas, como também, desigualdades sociais, conflitos e resistências.Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 60
Delineava-se, assim, uma camada intermediária de sensações –distanciamento, descontinuidade, clivagem etc. – que iam balizando asmanifestações do cotidiano, em meio às quais ia se formando algo quepoderíamos pensar como uma mentalidade colonial, esboço de umafugidia identidade nacional em gestação. (NOVAIS, 1997, p. 29)A liberdade e a aceitação recíproca entre os participantes dessa diversidade foramsuprimidas pelo autoritarismo e intolerância que deram caráter oficial ao crescentesubjulgamento das idéias e expressões populares 14 relegadas a um nível de inferioridadee “primitivismo”. Contudo, este mesmo sistema ordenador, utilizou-se do paradoxalideário da unidade correspondente a tentativa de homogeneização territorial, política ecultural, direcionada pela supressão de qualquer tendência que visasse a composição deuma sociedade autoconsciente dos seus aspectos culturais formadores constituídoshistoricamente e das problemáticas sociais em que está inserida. Subjacente a estahipotética uniformidade cultural brasileira manipulada ideologicamente pelas elites,observam-se as inúmeras estratégias repressivas contra qualquer tipo de sublevaçãoantidespótica, visando impossibilitar qualquer alteração no status quo estruturalmentehierarquizado. Destarte, a legitimidade do poder estatal torna-se questionável na medidaem que este corrobora para a progressiva assimetria social e seus respectivos conflitos.Nesse campo ideológico, os detentores do poder criaram paradigmas falsos de“democracia racial e social”. Aos que estão às margens das decisões foi delegado opapel de resignar-se perante esta ordem, propagada como um sistema sagrado eirreversível, mas que privilegia tão somente valores de uma minoria que imprime adinâmica ao conjunto.Refutando essa lógica dominante na construção histórica da nação brasileira, destacamseos contínuos e diversos mecanismos de resistências desenvolvidos pelos gruposindígenas e afro-descendentes (que, em suas interações, compõem a maior parcela nos“empréstimos” criativos das expressões populares) contra tais ditames conservadoresem diferentes momentos e regiões do país em contínua formação, possibilitando o seuuso político e ideológico em distintos contextos sociais como importantes referênciaspara a conscientização e transformação dessas coletividades secularmente oprimidas.14 Reconhecidas aqui como as manifestações sócio-culturais (re)criadas e vividas no cotidiano pelosagentes históricos alheios ao sistema hegemônico dominante.Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 61
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