Influenciados por fortes tendências apologéticas, o discurso oficial vem objetivandoobscurecer essas alternativas libertárias insistindo em disseminar que a “unificaçãocivilizatória” não encontrou qualquer tipo de refutação devido ao caráter pacífico (lê-seresignativo) desses grupos étnicos, idealizando como fatídica e legítima a superioridadeenganosa. Deste modo, exemplos de sublevações põem em risco a manutenção docontrole na medida em que evidenciam as causas e conseqüências da dominaçãohistórica, sendo potencialmente capazes de instigar indesejáveis insurgências populares,tão necessárias e inevitáveis.Transgredindo essas imposições através de suas complementárias diversidades criativas,o povo brasileiro (já reconhecido como tal), desenvolveu variadas expressõescontrariando lógicas normativas em suas cotidianas manifestações espaciais, artísticas,iconográficas, religiosas, corporais, culinárias e lingüísticas, por exemplo. Asrepresentações populares tradicionais denominadas pela academia, meios decomunicação de massa e instituições oficiais como folclóricas, que sumarizam taismanifestações supracitadas, são sintomáticas desse processo de reinvenção libertáriacapaz de reproduzir até mesmo esquemas e ditames repressores, mas a partir depercepções contrárias a essas mesmas lógicas, reconfigurando-os com criticidade,ironia, teor contestatório e/ou espontaneidade criativa próprias do imaginário popularem sua organicidade.2. A indianidade não perdidaAgentes co-participantes dessa gênese transformadora, os povos indígenas vêmcontribuindo de modo determinante na invenção de signos e expressões popularesenriquecendo-as com seus simbolismos da cultura material e imaterial, linguagens,criatividades estéticas e cosmo-visões marcadas por sentidos de reciprocidade ecomplementaridade, dentre outros. De maneira geral, a cultura popular brasileira vemrepresentando a imagem do indígena sob diferentes perspectivas, desde maneirasenaltecedoras às mais pejorativas e caricaturescas, sendo esta última a predominante atéa contemporaneidade.Sem pretender traçar caracterizações homogeneizantes e buscando valorizar aseloqüentes linguajes e concepções expressas pelos seus próprios criadores, pretendemoslevantar novas problemáticas e proposições críticas, principalmente, no que se refere àvisibilidade dos povos indígenas e às suas respectivas respostas (negando falsasPonta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 62
interpretações de passividade) perante a sociedade envolvente, discernindo causas econseqüências das intolerâncias que se reproduzem continuamente e que distância aindamais a respeitabilidade e convivência salutar entre as culturas, num país onde ainda tãolargamente são propalados discursos de aceitação e livre união das alteridades.A proposta aqui desenvolvida usa como referências elucidativas desses processoshíbridos algumas das diversas manifestações populares permeadas por elementos dasculturas indígenas adaptadas às diferentes condições geo-culturais do Brasil, a exemplode folguedos, narrativas, ternos e expressões rítmicas musicais e corporais como oMaracatu, Cacumbi, Caboclinhos, Cavalo-Marinho, Lambe-Sujos e Caboclinhos,Bumba-Meu-Boi, Carimbó, Pastoris, Reisados e o Cateretê; festas profonas e/oureligiosas, como as juninas, os carnavais, cavalhadas e folias de reis; mitologias elendas, como as da Vitória Régia, Boitatá, Caipora, Matinta Perêra, a do Boto Cor-de-Rosa, Curupira, Yara (Uiara), Boiúna (Cobra Norato); representações iconográficaspresentes nos signos das cores e estilos de indumentárias; nas concepções espaciais,como a idéia de “fechar uma roda”; nas linguagens gestuais; nas produções e usoscotidianos de cultura material, a exemplo de uma panela de barro decorada que, por suavez, está associada a criações culinárias também marcadas por referenciais étnicosexpressivos. Numa perspectiva fenomenológica 15 , transcendendo às conceitualizaçõesunilaterais, herméticas e fragmentadas, sem pretender cair em descrições simplistas, estátentativa de análise deixa em aberto as possibilidades quanto aos exemplos pela própriamultiplicidade e dinâmica do imaginário popular.Apreendendo os complexos culturais como sistemas de signos eestímulos, entendidos como fenômenos de comunicação, percebe-seque “a semiologia mostra-nos no universo de signos, sistematizado emcódigos e léxicos, o universo das ideologias, que se refletem nosmodos pré-constituídos da linguagem. (ECO, 1997, p. 85)A partir de representações estéticas, o simbolismo produzido por uma determinadacomunidade se corporifica, de modo a canalizar as relações sociais em sua diversidadede conhecimentos, tradições, valores, comportamentos, equilíbrios, contradições,discrepâncias, transições e conflitos. A eloqüência e inteligibilidade dos símbolos15 A partir da fenomenologia pode-se explicitar um certo grupo de fenômenos e ordenálosde acordo com suas relações (SAUER, 1998, p. 19).Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 63
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