haverá de revelar suas vantagens em muitas coisas? Até que ponto semodificam as conseqüências da intensidade do segredo em função daimportância maior ou menor do seu conteúdo? Todas estas perguntas,ainda que sejam apenas questões, indicam a importância do segredona estrutura das ações recíprocas humanas. O sentido negativo que seatribui moralmente ao segredo não nos deve induzir ao erro. Osegredo é uma forma sociológica geral que se mantém neutra e acimado valor dos seus conteúdos. Simmel (2008).Ora, a teoria de Simmel também ajuda a esclarecer que, para o cristão novo,criptojudeu, seu estilo de vida, apesar de lhe produzir uma cisão psicológica profunda,posto que em público tinha que professar uma identidade que não correspondia à quevivia na intimidade de seu ser e na privacidade de seu lar, não era de todo desprovido devantagem:O uso do segredo como uma técnica sociológica, como uma forma deação sem a qual em termos do social não se poderiam alcançar certosfins, parece bem claro. Não tão claros são os atrativos e os valoresque a conduta secreta possui, prescindindo ela desta camada desentido pela sua própria forma, mesmo sem levar-se em conta oconteúdo. Logo de saída, a exclusão enérgica dos demais produz umsenso de propriedade, que por sua vez vem com a energia que lhecorresponde. Para muitos temperamentos, a posse não alcança aimportância devida se se limitar a possuir; além disso, precisa daconsciência de que outros têm de menos aquilo que se possui. Éevidente que esta atitude está fundamentada na nossa sensibilidadepara a diferença. Por outro lado, como a exclusão de outros ocorreespecialmente quando se trata de coisas de grande valor, é fácil chegarpsicologicamente à conclusão inversa de que aquilo que se nega amuitos deve ser particularmente valioso. Graças a isto, as maisvariadas espécies de propriedade interior adquirem mediante a formado segredo, um valor característico; o conteúdo do que é silenciadocede em importância ao simples fato de permanecer oculto aosdemais. Simmel (2008).No caso dos cristãos novos, não se pode esquecer que o horizonte último é o risco devida sob a estrutura de delações instaurada pelo Tribunal do Santo Ofício. A prática docriptojudaísmo era crime, heresia, punida com os cárceres da Inquisição e, no limite, asfogueiras dos autos-de-fé. Portanto, o arcabouço teórico para o estudo do marranismonecessariamente precisa dar conta da realidade por meio de indícios, colhidos a partirdos traços que se revelaram do segredo, da realidade oculta que não se revela ao olharnegligente.A natureza do fenômeno diz respeito a uma estrutura mental de longa duração, umacultura que resiste na clandestinidade consubstanciada como uma herança que passa dePonta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 88
geração a geração através do hábito e da tradição oral. Assim, também, os estudos emtorno da memória e seus mecanismos de preservação são imprescindíveis para o seuesclarecimento. Especificamente, se deve fazer menção da memória feminina e atransmissão oral de conhecimentos da tradição criptojudaica, consolidada em orações ealguns poucos rituais sobreviventes.CONCLUSÃOPara efeito de conclusão, um aspecto essencial da produção deste artigo precisa serdestacado, a saber: a sua natureza introdutória. Além de apresentar uma estrutura básicados principais fundamentos para o estudo do marranismo, o texto tem o objetivo deservir de programa de trabalho, devendo cada um de seus componentes ser revisitado àmedida que o estudo seja aprofundado.Sobre os impasses teóricos aqui apresentados, estes talvez se devam ao fato de algumascorrentes de interpretação do marranismo negligenciarem a natureza não dualista dacosmovisão dos anussim. A tal ponto de se admitir uma vertente familiar demanifestação do criptojudaísmo e também uma vertente profissional. A própriainterpretação de Poliakov (1996, p. 201) sobre as redes internacionais de marranos, naverdade redes de solidariedade, demonstrando não ser possível “fazer abstração de suacondição e negligenciar suas crenças”, demonstra como a religiosidade estava integradaem todos os aspectos da existência dos criptojudeus.Por outro lado, a emergência da história cultural na segunda metade do século XX,sobretudo o modelo do paradigma indiciário, trouxe novas perspectivas para o estudo domarranismo, possibilitando uma interpretação do fenômeno que escape ao pensamentoestrutural, inspirado no materialismo histórico e pouco sensível à subjetividade.De um modo geral, julgamos que ficou patente o vasto campo de possibilidades para osestudos do marranismo, especialmente no Nordeste brasileiro, como também a riquezado referencial teórico adeqüado à elucidação conceitual do fenômeno.Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 89
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