A mesma historiadora, em artigo intitulado Brasil Marrano: As pesquisas atuais, fazum levantamento dos trabalhos que já foram desenvolvidos e que estão sendoimplementados sobre o assunto no Brasil. Em seu texto, destaca os estudos sobre osmarranos em Pernambuco e Bahia no século XVI e início do XVII e também sobre aspesquisas a respeito do criptojudaísmo na Paraíba. Além destes locais, tambémdestacam-se pesquisas sobre os cristãos novos em Minas Gerais e Rio de Janeiro.FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOSAlém do aporte teórico da micro-história, alguns pesquisadores do marranismo têmprocurado desenvolver uma teoria da persistência cultural que se interessa pelo papeldas mulheres na preservação de características étnicas e culturais que estão em risco deextinção.Assim, a casa do criptojudeu pode ser considerada como um centro de resistência ondea mulher procurava contrapor-se à influência hegemônica do cristianismo dominante. Amorte da vida institucional judaica em 1492 deixou o universo judaico masculino semsua estrutura de funcionamento: sem a Sinagoga, a Yeshiva (casa de estudos) e sem asorganizações comunitárias. Ao contrário, as mulheres, cuja religiosidade nunca tinhadependido de um centro fora de casa mas, tradicionalmente, acendiam a vela de Shabata cada Sexta Feira ao pôr do sol, preparavam a refeição de Shabat, assavam a matsah eobservavam as leis dietéticas, viram agora estas observâncias se tornarem o maiorsímbolo do criptojudaísmo. Jacobs (2002).Cecil Roth (2001, p. 123) assim explica a participação das mulheres na religiãocriptojudaica:O sexo fraco era tanto ou mais firme na observância do que oshomens. No primeiro período inquisitorial na Espanha, somosinformados como as mulheres eram a maioria dos poucos quemantinham o judaísmo até ao fim, e assim morriam como verdadeirasmártires. É significativo que as mulheres tivessem parte decisiva nainiciação ao judaísmo em vários casos conhecidos, mostrassemfamiliaridade especial com as orações, e fossem, em vários casos,particularmente meticulosas na observância. Foi pelas mães e pelasesposas que foi presidido e inspirado o círculo marrano do México, naprimeira metade do século XVII. Por fim tornou-se costume que amulher actuasse como a guia espiritual dos grupos marranos. É umamanifestação notável da posição vital ocupada pela mulher na vidajudaica.Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 86
A importância das mulheres no desenvolvimento do criptojudaísmo foi tal que osinquisidores identificaram nas mulheres um dos alvos principais de suas perseguições.Gorenstein (2007, p. 75) aprofunda assim esta constatação:Os Inquisidores consideravam as mulheres como um dos maioresperigos para a sociedade católica, uma vez que acreditavam que oJudaísmo, a religião dos antepassados dos cristãos-novos, eratransmitido às novas gerações pelo sangue, pela memória feminina eaté mesmo através do leite materno.Muito ligado a este fato está a prática disseminada entre os cristãos novos daendogamia. Entre as mulheres cristãs novas fluminenses do século XVIII, pesquisadaspor Lina Gorenstein, 63,82% casaram-se com homens da própria família. Segundo oestudo:É possível ver nesse comportamento vários significados: proteção dopatrimônio familiar, proteção do segredo do criptojudaísmo e umreflexo da discriminação a que estavam submetidos: os cristãos-velhosnão procuravam o casamento com os cristãos-novos, que traria a‘mancha de sangue’ para suas famílias, e ao mesmo tempo, levavamos cristãos-novos a se reunirem em sua própria comunidade.Gorenstein (2007, p. 74).Assim, a chamada Sociologia do Segredo de Georg Simmel, um sociólogo judeu doséculo XIX, tem sido utilizada como horizonte teórico que pode auxiliar noentendimento do marranismo.A importância da teoria de Georg Simmel para o estudo do marranismo pode serdivisada a partir de alguns parágrafos de sua autoria. Primeiro, veja-se a naturezahistórica e sociológica do segredo:A evolução histórica da sociedade se manifesta em muitas partes, pelofato de muitas coisas que antes eram públicas, entrarem na esferaprotetora do segredo; e inversamente, muitas coisas que antes eramsecretas, chegarem a prescindir desta proteção, tornando-semanifestas. É uma evolução do espírito que se assemelha a outra emvirtude da qual, atos que antes se realizam conscientemente, descemdepois ao nível inconsciente e mecânico, enquanto ao contrário, o queantes era inconsciente e instintivo, ascende à consciência e àvisibilidade. Como esta evolução perpassa as diversas formações davida privada e da vida pública? Como leva a estados cada vez maisadequados levando-se em conta que por um lado o segredo, torpe eindiferenciado começa a se estender demais e por outro só mais tardePonta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 87
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