INTRODUÇÃOEstudos a respeito do criptojudaísmo têm sido desenvolvidos nos Estados Unidos,Portugal, França e na América Latina. Apesar de nossa historiografia contar comalguns destacados estudiosos que se dedicam ao tema da inquisição na Américaportuguesa, o marranismo tem sido um tema pouco explorado, notabilizando-se apenasAnita Novinsky com seu grupo de pesquisa e Ronaldo Vainfas. Porém, o Nordestebrasileiro destacou-se como importante palco do desenrolar de uma epopéiasubterrânea, a história dos cristãos-novos que desenvolveram estratégias para manter naclandestinidade sua identidade judaica. Algumas práticas e costumes características domarranismo ajudaram a consolidar a cultura popular no Nordeste brasileiro e umacosmovisão ou universo simbólico peculiar se formou na região. Um olhar atento paraa cultura popular do interior do Nordeste brasileiro é capaz de revelar uma influênciaconstituinte do marranismo, praticado às escondidas.CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MARRANISMOA - FORMAÇÃO DE REDES COMERCIAIS E DE AUXÍLIO MÚTUOJacques Attali, em seu Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo, após descrever a opressão dosjudeus na Península Ibérica ao final do século XV e a subseqüente diáspora sefardita,analisa a situação econômica do mundo nesta passagem de século. Mostra como emFlandres se concentrou a atividade econômica do período. Em Bruges, encontravam-sealguns mercadores judeus, a exemplo de Juan Luis Vives (1492-1540). Tambémmenciona a importância de Antuérpia que, segundo ele, tornou-se “a capital daeconomia mundial”. Atalli (2003, p. 315).Os poucos judeus conversos que se arriscaram a viver nestas regiões foram bastanteperseguidos, inclusive sendo denunciados como judaizantes com o fito de atrapalharseus negócios, como foi o caso de Diego Mendes, em 1532. Segundo informa Atalli(2003, p. 315) os judeus de Antuérpia importavam de Portugal anualmente em torno de300 mil ducados em especiarias. No entanto, no decorrer do século XVI, Amsterdãassume a liderança econômica do mundo. A partir de 1593, com a independência dasProvíncias Unidas, é para lá que se dirige importante fluxo de marranos. Destes, em1609, vinte e quatro participam na criação da Bolsa de Amsterdã, juntamente comPonta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 74
outros setecentos acionistas. Os judeus então residentes na Holanda mantém relaçõescomerciais com Espanha e Portugal mas, segundo Jacques Atalli, a prosperidade dosmesmos é apenas aparente. Isto pode ser comprovado pela informação de que “em1683, apenas 200 judeus holandeses (entre os quais dois asquenazes) num total de cincomil são proprietários de suas casas.” Atalli (2003, p. 322)A participação dos judeus na exploração das Américas permitiu a constituição de“extraordinárias redes mascaradas entre judeus e marranos instalados em todos os paísesda cristandade.” Atalli (2003, p. 322). Formaram-se dois grupos de mercadores paracontrolar o comércio de especiarias do Oriente com a Europa. As mercadorias trazidaspelo ‘contrato indiano’ do Oriente até Lisboa eram revendidas aos negociantes do‘contrato europeu’ que, por sua vez, faziam o comércio com o resto da Europa.Segundo Atalli (2003, p. 322) “os judeus mascarados estão presentes nos dois‘contratos’, amplamente organizados por mercadores conversos a partir de Bordeaux eAntuérpia e, a seguir, de Amsterdã e Londres.”Apesar de admitir a pequena participação dos judeus na Companhia das ÍndiasOrientais, criada em função dos conflitos dos holandeses com Espanha e Portugal,Atalli (2003) demonstra o papel central que aos poucos os judeus marranos passaram aexercer dentro da Companhia das Índias Ocidentais, formada em 1621 para lutar contraos espanhóis pelo domínio comercial do Atlântico. Apesar de uma participaçãoincipiente no início, a partir de 1633 os conversos dos Países Baixos se envolvemfirmemente na luta contra os espanhóis e portugueses, através das ações da Companhia.Quando da instalação dos holandeses em Recife, a participação dos judeus marranostorna-se tão significativa que, em 1652, “a principal fonte de renda da comunidade deAmsterdã é a taxa que ela recebe sobre a renda das partes judaicas no seio daCompanhia.” Atalli (2003, p. 324).Calcula-se que, em 1648, a população européia do Brasil holandês era de cerca de 12mil habitantes; destes, 1450 eram judeus que haviam chegado da Hungria, Polônia,Turquia, Marrocos, Espanha, Portugal, Holanda e Alemanha. O movimento comercialem Pernambuco era tão grande que permanentemente 100 navios faziam a ligação entreRecife e Amsterdã. Atalli (2003, p. 329).O interessante é que, apesar da Guerra dos holandeses com Portugal, as redes marranasconseguem que comerciantes judeus de origem ibérica sediados em Amsterdã recebamdo Porto, norte de Portugal, várias mercadorias, inclusive caixotes de açúcar,provenientes da América portuguesa. Atalli (2003, p. 329).Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 75
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