11.07.2015 Views

Edição Completa

Edição Completa

Edição Completa

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

prática material é um processo no qual muitas atividades complexas sãorealizadas”(WILLIAMS, 1979, p.165), inclusive as de ordem políticas e econômicas.É claro que, nessa prática econômica, a superestrutura está presente, pois as idéias queos indivíduos fazem de si próprios e das relações sociais são, em muito, condicionadaspela sua realidade material. Com isso, ao longo do processo histórico das relações detrabalho, o que mais tem ocorrido na sociedade brasileira são os patrões usarem de umasuposta amizade com os empregados para dominá-los e, com isso, negarem-lhes algunsdireitos trabalhistas. Essa prática aparece de maneira tão sutil nas relações sócioeconômicasque, quando um empregador não adota essa forma patriarcal de dominação,o próprio empregado sente-se numa condição desfavorecida e desprestigiada.Nas condições da narrativa Cartilha do silêncio, esse estado de coisas está muito bemcolocado, pois, os empregados acabam sendo a extensão do domínio da casa.Conseqüentemente, da mesma forma que o “chefe” da família se arroga ao direito decontrolar o comportamento das mulheres, também o sentem no similar direito decontrolar a vida dos empregados. Isso só prova que estrutura e superestrutura, economiae sistema de idéias caminham juntos, a ponto de um interagir com o outro, uminfluenciar o outro, ou ainda, um condicionar o outro. Daí, na realidade empírica, osempregados sentirem-se confortáveis dentro de uma relação de suposta amizade entrepatrão e empregado.O texto literário enquanto mediação dessa realidade reproduz essas relações sociaistraçadas pela política da cultura do favor. Não é à toa que o narrador-personagem ManéPiaba sente saudades do tempo em que o patrão Romeu conversava com ele; da mesmaforma, reconhecerá esse tempo na terceira geração, configurada em Remígio Barroso,uma espécie de reestruturador do que sobrou do patrimônio dos Barrosos.No entanto, há de se entender a não adaptação de Cassiano Barroso ao modo de vida datradição desse clã familiar pelo fato de ele ter vivido boa parte da sua juventude fora decasa e numa grande cidade, onde certamente as relações de poder são postas em outraordem: longe da intimidade com os funcionários. Nesse sentido, quando Cassianoretorna à velha casa dos Barrosos, ele o faz como o olhar de um estrangeiro, olhar esseintelectualizado que analisa a tudo e a todos de cima, de uma posição supostamenteprivilegiada de quem teve outras experiências e que, em decorrência disso, está numaposição fronteiriça entre o local e o nacional.Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 53

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!