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Os últimos e piores dias de Cassiano – “desfrutando” amargamente da indiferença dofilho Remígio – não são menos agonizantes que os de dona Senhora, induzida à loucurae à morte precoce, nem os da culpa de Arcanja por não ter conseguido ajudar a tia, nemos da posterior morte tuberculosa de Arcanja, nem os da asma e da mágoa de ManéPiaba em continuar servindo na Fazenda Varginha. Todas essas vidas solitárias quecompõem as vozes atormentas de Cartilha do silêncio são a imagem de um ciclofamiliar que se fecha e finda-se, assim como findaram-se inúmeras famílias tradicionaisBrasil a dentro.De modo que, se pensarmos o patriarcalismo no âmbito de uma cultura que aindaimpera no interior do Brasil, presente na constituição das famílias e, mais ainda, sepensarmos nos antagonismos de uma sociedade contemporânea que conserva os valoresde uma sociedade colonial/patriarcal, face aos novos valores da sociedade moderna, quecoloca a mulher como parte integrante das pequenas mas importantes transformaçõessociais, a contribuição de uma leitura que coloque em perspectiva tanto a cultura dopatriarcado quanto as pequenas mas significativas rupturas no seio dessa prática social,é de salutar importância.A relevância dessa leitura – que coloca as históricas práticas sociais, familiares eculturais em perspectiva – tanto confirma que “o texto literário não é uma materialidadetextual intocável, mas uma prática altamente cultural” (cf. WILLIAMS, 1979), quantoporque basicamente confirma a experiência da maioria dos leitores, para os quais aliteratura deve ser analisada como parte constitutiva da cultura e da sociedade. Afinal,como se sabe, em se tratando de literatura, a crítica especializada teoriza sobre as obrasliterárias, mas cabe aos leitores, destes mesmos textos de ficção, o veredicto final.Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 57

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