Refletindo sobre estas redes secretas de marranos, Wachtel (2002, p. 275) explica aposição da América portuguesa na economia política dos marranos. Diz ele:Os conversos que emigravam para o Novo Mundo eram, na suamaioria, de origem portuguesa, como sabemos, e daí o papel essencialdo Brasil na difusão e perpetuação do marranismo no continenteamericano. A colônia lusitana funcionava como uma placa giratória,da qual os fluxos migratórios se prolongavam ou para o norte, nadireção das Caraíbas e do México, ou para o sul, na direção do Rio daPrata e do Peru (...). A essa posição central se junta o interessesuplementar do episódio do Brasil holandês, breve, é certo (de 1630 a1654), mas que no contexto do marranismo se reveste de um particularsignificado com a criação, no Recife, da primeira comunidadeoficialmente judaica da América.Na opinião de Nathan Wachtel as redes de solidariedade estabelecidas através doscontinentes pelos cristãos novos de Lisboa, Sevilha ou Antuérpia com “judeus novos”de Livorno, Veneza, Salonica, Amsterdã eram de natureza familiares ou comerciais.Wachtel (2002, p. 21). E Poliakov (1996, pp. 200 e 201) esclarece melhor a naturezadestas redes de marranos:Durante o século XVI, os ousados homens de negócios portuguesesenxameiam por todas as partes do mundo conhecido e, pioneiros docapitalismo em marcha, tecem uma rede de novas relações mercantis.Eles não se expatriam unicamente para fugir à Inquisição e poderjudaizar em paz, conforme imaginou uma historiografia ingênua; masé igualmente errado, no estudo de seus périplos e de seusempreendimentos, fazer abstração de sua condição e negligenciar suascrenças, como tenta fazer hoje em dia uma erudição demasiadosofisticada. Ao final de contas, o negócio, através de vários desvios,podia alimentar uma fé sem dúvida bastante arrefecida nos coraçõesde numerosos grandes exportadores e mercadores.De fato, cumpre não esquecer o papel que desempenhou na vidacomercial de então os vínculos de parentesco e de clã. Ser marrano,era ser também afiliado a uma vasta sociedade secreta de proteção eauxílio mútuo; voltar, mais tarde, a Salonica ou a Amsterdam, aojudaísmo aberto era também agregar-se a um poderoso consórciocomercial, e essas naturalizações sui generis podiam ser seguidas denotáveis revivals religiosos.B - O DIA-A-DIA DO MUNDO MARRANOEntender o cotidiano de pessoas que são forçadas a viver uma religião secreta não étarefa fácil para quem tem o privilégio de vivenciar uma identidade minimamenteintegrada nos padrões da sociedade dominante. Alguns autores expressaram oPonta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 76
significado da experiência cotidiana dos marranos. Por exemplo, Novinsky (2006, p153) afirmou: “Cristãos-novos armaram-se de estratégias clandestinas que passaram degeração em geração. A sociedade ibérica ficou dividida em dois mundos, um visível eoutro secreto.”Em função disto, uma realidade que precisa ser conhecida pelos estudiosos do assunto éque:Não houve um marranismo, mas muitos marranismos, que diferiam deuma região para outra, em uma mesma família, entre pais e filhos.Mas o que deve ser salientado nos estudos referentes à imigração doscristãos novos para o Novo Mundo é a especificidade, que o fenômenomarrano adquiriu no Brasil, tanto como grupo religioso quanto comosocial. Isso não elimina o fato de alguns traços e costumes da culturaoriginal terem se mantido, por mais forte que haja sido o sincretismo ea originalidade da resposta brasileira. (NOVINSKY, 1992, p XIX).Algumas profissões foram costumeiramente exercidas por cristãos novos. Em funçãodisto, Omegna (1969) relacionou em seu livro as profissões que “diabolizavam”, postoque exercidas com proeminência pelos judeus. Estas profissões foram a medicina, aprática dos empréstimos a juros, a intelectualidade, a arte da impressão, o clero, asatividades fazendárias e o comércio. Na explicação do autor as discriminações contraos que exerciam estas profissões eram feitas como uma forma deliberada de eliminar acompetição ou como uma maneira de reduzir o status social destes que inspiravaminveja.Mas não somente nestas atividades notórias os cristãos novos se empregaram.Novinsky (1992, pp. 65 e 69) traça um perfil abrangente das ocupações destes:No Brasil em construção, o cristão-novo experimentou de tudo; foi odesbravador do sertão, lavrador, mecânico, mestre de açúcar, soldado,‘peruleiro’ e até fidalgo, senhor de engenho e capitão-mor.... Os cristãos-novos se dedicavam à mercancia, tanto para Portugalcomo para Flandres e França e muitos eram senhores de engenho edonos de muitas fazendas. (...) Grande parte dos cristãos novos aquiresidentes se dedicavam ao cultivo da terra, o que vem contradizeropiniões generalizadas sobre a inabilidade e inaptidão do cristão novopara a agricultura.Este quadro é completado por Assis (2006, p. 183): “... Muitos cristãos-novosocupavam cargos de importância para os interesses colonizatórios – ouvidores da VaraEclesiástica, mestres de latim e aritmética, senhores de engenho, religiosos,Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 77
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