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Edição Completa

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numa “promessa” de transgressão social, é altamente sugestivo, uma vez que denota aspequenas mudanças ocorridas no seio da sociedade.Como pensar em literatura é também refletir sobre as condições materiais do contextode sua produção e as conseqüentes implicações de uma conjuntura social na obra, valeressaltar a importância do Rio-das-Paridas, local interiorano para onde as narrativasconstruídas por Dantas constantemente se deslocam. Assim, esse lugarejo é, numprimeiro plano da narrativa, a representação de Riachão do Dantas, antes vila e hojecidade das proximidades de Lagarto, região centro-sul de Sergipe. No segundo plano,Rio-das-Paridas configura-se segundo uma localidade como tantas outras do vastoBrasil escravista, em que a política do mais forte – ratificada na figura do pai e dohomem – persiste e compõe um lídimo e restrito universo, onde as tradições sãoimpostas e confirmadas na divisão das classes sociais e na importância da própriafamília, conforme uma instituição milenar de controle que reproduz a estratificaçãosocial de uma sociedade.Segundo a historiografia brasileira, “a família, não o indivíduo, nem tão pouco o Estado,nem nenhuma companhia de comércio, é a força social que se desdobra em política,constituindo-se na aristocracia colonial mais poderosa da América”(FREIRE, 2006,p.81) e na força de organização político-social do Brasil. Instituição essa que, no textofictício em foco, está em crise, assim como também está na sociedade contemporânea e,embora atualmente a família não seja o lugar mais atraente para o indivíduo, aindadetém uma força imprescindível à vida e às lutas travadas dentro e fora de casa para amanutenção do status quo social. Conseqüentemente, nas condições das narrativasconstruídas por Francisco Dantas, mais especificamente, Cartilha do silêncio, verificase,de imediato, os antagonismos de uma sociedade sergipana que oscila entre o pesodos valores coloniais/patriarcais e os valores de uma sociedade moderna, que começa asurgir, colocando, aos poucos e timidamente, a mulher no centro das representações edos interresse econômicos, políticos e sociais.Dentro desse contexto analítico, pensamos a “literatura como uma categoria social ehistórica especializada” (WILLIAMS, 1979, p.58) na medida em que não pode serdissociada da vida sócio-cultural nem das condições materiais de sua produção, maspensada a partir da importância das relações sociais e da vida cultural (cf. WILLIAMS,1979). No entanto, como o conceito de cultura é muito amplo, por envolver quer sejatoda e qualquer prática artística e intelectual, quer seja o modo de vida de um povo (cf.Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 49

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