profissionais letrados, médicos, advogados, vereadores, juízes, escrivães, meirinhos ealmoxarifes.”C – A RELIGIOSIDADE MARRANADavid M. Gitlitz que escreveu uma obra de fôlego sobre a religião dos criptojudeus daEspanha, Portugal, México, Peru e Brasil, conforme pesquisou durante quinze anos,caracterizou o sistema de crenças criptojudaicas e detalhou aspectos fundamentais desua religiosidade, tais como superstições, costumes no nascimento, rituais depurificação e higiene, costumes funerários, guarda do sábado, dias santos, orações e leisalimentares.A perspectiva geral que ele traça parte da consideração de que quando os descendentesdos conversos dos judeus da Península Ibérica viram-se isolados do judaísmotradicional e imersos em um mundo de fé cristã, os princípios centrais de sua crençasofreram profundas transformações.Os criptojudeus não possuíam livros judaicos para instruir suas crianças em Hebraico,nem escolas talmúdicas para refinar o entendimento dos adultos e nem sessões deestudo no Sábado à tarde em que debatessem sutilezas da lei. Embora algunsagrupamentos de criptojudeus continuassem a praticar a sua religião durante geraçõesapós a expulsão, especialmente os velhos, os dados que temos sobre suas conversasreligiosas sugerem que o judaísmo que estas pessoas discutiam com os seus amigos nãoera profundo nem muito ortodoxo. Eles perderam rapidamente a familiaridade com assutilezas da teologia judaica e as complexidades da observância judaicas.Para estas pessoas, que, sem dúvida, constituíam a maioria dos criptojudeus, o judaísmodeixou de ser um sistema autónomo e auto-referencial. Em vez disso, o cristianismo setornou seu ponto comum de referência, o modelo contra o qual as suas crenças epráticas criptojudaicas foram medidas. Portanto, cada vez mais eles não eramJudaizantes por que eram diferentes dos cristãos, mas eles eram judaizantes à medidaem que divergiam dos cristãos. Gitlitz (2002, pp. 99 e 100)Como é possível depreender pelo exposto acima, a religiosidade marrana era bastantevariada, fruto das combinações estabelecidas nos diversos lugares e do maior ou menoracesso a orientações de pessoas minimamente qualificadas. De um modo geral,dependia-se da memória para celebrar ritos e orações carregados de complexidade edetalhes como é a prática do judaísmo. Na verdade, rezavam na intimidade comoPonta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 78
seguidores da lei de Moisés, falando apenas ao Deus de Israel. Wachtel (2002, pp. 144,145) descreve a prática religiosa do jejum:O rito, sem dúvida, mais praticado nos meios marranos. Osjudaizantes impunham-se a si próprios, não só por ocasião das grandesobrigações anuais, como as do Grande Dia (Kippur) ou dacomemoração da Rainha Ester, mas também muito frequentementedurante as semanas ordinárias, a até duas ou três vezes na mesmasemana, de preferência à segunda e à quinta (era o jejum completo devinte e quatro horas, segundo o ‘costume judaico’, entre o cair danoite de um dia e o cair da noite do dia seguinte). Assim se fazia commuito variadas intenções, como implorar o perdão dos pecados, asalvação das almas ou a vinda do Messias ou manifestar simplesmentea fé na lei de Moisés, mas também, mais prosaicamente, para pedir acura de uma doença ou o êxito de uma viagem ou de uma operaçãocomercial.Esta frequência do jejum entre os judaizantes pode ser explicada pormotivos, principalmente práticos. O rito do jejum tinha a vantagem depoder ser cumprido da maneira mais discreta e correspondia, no fimdas contas, ao estilo marrano: era facilmente mantido em segredo,ninguém de fora o notava.Na sua vivência dúplice, os cristão novos judaizantes adotavam uma atitude, no seuíntimo, de reserva mental em relação à participação nos rituais católicos, pedindoperdão a Deus através de orações e jejuns antes de participar da confissão e receber ahóstia. Também formavam comunidades secretas em torno de um guia espiritual e sereuniam em assembléias clandestinas que eram divulgadas de forma original edisfarçada aos seus componentes, como no caso em que um líder espitual enviava um deseus escravos a passear pelas ruas vestindo um fardamento característico de seuscriados. Wachtel (2002).Assis (2006, p. 184) amplia o escopo desta religiosidade:Na documentação produzida pelo Santo Ofício português durante avisitação às capitanias açucareiras do Nordeste entre 1591 e 1595,encontram-se indícios do judaísmo vivenciado na colônia, mormenteligado a ritos, prática da ‘esnoga’, cultos funerários, interdiçõesalimentares, formas de benzer heterodoxas, negação à religiãodominante em seus símbolos e dogmas, em que, indiscutivelmente, aimportância da resistência feminina ganha destaque.Um dos elementos mais decisivos e críticos da religiosidade marrana dizia respeito àsua transmissão. Poliakov (1996, p. 199) assim explica como os cristãos novosjudaizantes resolviam esta questão:Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 79
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