Numa sociedade como a do Brasil colonial, (...) caracterizada pelafenda étnica, social e religiosa entre cristãos-velhos e cristãos-novos,a genealogia não podia constituir o passatempo inofensivo que é hoje.Ela era, na realidade, um saber vital, pois classificava oudesclassificava o indivíduo e sua parentela aos olhos dos seus iguais edos seus desiguais, contribuindo assim para a reprodução dos sistemasde dominação. Mello (2000, p. 13).Efetivamente um ancestral judeu poderia significar a ruína de uma família rica eacostumada ao poder. Mello (2000). Assim, justificava-se a necessidade de escamotearsua ancestralidade cristã nova.Uma obra de destaque é a de José Antônio Gonsalves de Mello. Em Tempo dosFlamengos, cuja primeira edição foi lançada em 1947, no capítulo intitulado “Atitudedos holandeses para com os portugueses e os judeus e as religiões católica e israelita”ele traça um amplo quadro da história dos cristãos novos em Pernambuco, desde adenúncia da esnoga existente em Camaragibe ao visitador da Inquisição Heitor Furtadode Mendonça, a partir de 1593, passando pela vida intelectual, comunitária e econômicada “nação judaica do Recife” durante o domínio holandês.Merecem menção neste capítulo as preciosas informações de que a comunidade judaicaem Recife, nesta época, já era constituída de judeus ashkenazim e sefarditas, todosvindos para cá através da Holanda. Além disso, o fato de que os judeus passaram adominar os principais negócios da colônia: “o comércio a retalho, a venda de açúcar, oscontratos para cobrança de impostos, a venda dos negros, a corretagem”. Mello (1979,p.259). Também os registros das manifestações de anti-semitismo por parte dosholandeses aqui residentes comprovados por documentos enviados à Holanda eresgatados pelo autor.Em 1989, José Antônio Gonsalves de Mello lançou Gente da Nação: Cristãos-Novos eJudeus em Pernambuco: 1542-1654, no qual “faz um estudo desde a mais antigareferência à doação de terras a cristão-novos até a invasão holandesa em Pernambuco.Relata a história da presença dos judeus, desde os primeiros anos da ocupação doNordeste, e sua participação no comércio e nos contratos fiscais da conquista”.Biblioteca Virtual JAGM (2008). Os trabalhos de José Antônio Gonsalves de Mello sãofruto de pesquisa não somente no Arquivo da Torre do Tombo, mas também emarquivos da Espanha, Inglaterra e, sobretudo, em arquivos dos Países Baixos,Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 84
especificamente na documentação da Companhia das Índias Ocidentais, responsávelpela conquista e domínio do Nordeste no período de 1530 a 1654.Também destaca-se a obra de Nelson Omegna (1903-1987), Diabolização dos Judeus:Martírio e Presença dos Sefardins no Brasil Colonial, de 1969. O peculiar neste livro éa sua incipiente perspectiva cultural, demonstrando como determinadas profissões,convivência e costumes foram motivos para a discriminação e perseguição aos cristãosnovos.O principal nome a se mencionar é o de Anita Waingort Novinsky, destacando-se suaobra seminal “Cristãos-novos na Bahia – 1624/1654”, que consiste de sua tese dedoutoramento orientada por Sérgio Buarque de Holanda. Ela também contribuiu comdiversas obras sobre a Inquisição, artigos sobre o marranismo e as chamadas “obrasdocumentais”, tais como Inquisição: Rol dos Culpados, Fontes para a História doBrasil, Séc. XVIII e Gabinete de Investigação: Uma ‘caça aos judeus’ sem precedentes.Deste mesmo tipo de literatura podemos mencionar também Geraldo Pieroni, com o seuBanidos: A Inquisição e a Lista dos Cristãos-Novos Condenados a Viver no Brasil e oDicionário Sefaradi de Sobrenomes, obra de vulto de autoria de GuilhermeFaiguenboim, Paulo Valadares e Anna Rosa Campangnano, além da vasta bibliografiasobre o tema fruto de pesquisas acadêmicas no Brasil e no exterior.Dos historiadores mais novos, destaca-se Ronaldo Vainfas que, além de publicar algunsartigos em periódicos a respeito dos “judeus novos” ou “judeus de crença”, publicouvários capítulos de livros no Brasil e exterior sobre o tema e organizou o livro“Confissões da Bahia - Santo Ofício da Inquisição de Lisboa” em 1997, onde reúne osdepoimentos dos colonos “sodomitas, bígamos, fornicários, blasfemos, bruxas e cristãosnovos” que sofreram a primeira visitação do Santo Ofício em 1591.Outro novel é Ângelo Adriano Faria de Assis, cuja tese de doutorado, sob orientação deRonaldo Vainfas, versou sobre o criptojudaísmo praticado pela família de HeitorAntunes e Ana Rodrigues, senhores de engenho em Matoim, na Bahia. O título de suatese foi “Macabeas da Colônia: criptojudaismo feminino na Bahia - séc. XVI -XVII” edemonstrou a importância das mulheres na manutenção da cultura dos marranos.Não pode faltar nesta lista o trabalho de Lina Gorenstein, “A Inquisição contra asmulheres: Rio de Janeiro, séculos XVII e XVIII”, onde demonstra como as mulheresforam alvo preferencial da Inquisição, através da análise das portuguesas de origemjudaica que viveram no Rio de Janeiro e foram presas pelo crime de judaizarem.Ponta de Lança, São Cristóvão v.2, n. 3, out. 2008 ‐ abr. 2009. 85
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