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Revista Ferroviária Edição de Julho/agosto 2018

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entrevista<br />

A lacuna dos bons projetos<br />

Não são só a recessão econômica dos últimos<br />

anos e a crise fiscal <strong>de</strong> estados e municípios<br />

que explicam o fato <strong>de</strong> muitos projetos<br />

metroferroviários não irem para frente em cida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras. Para o diretor <strong>de</strong> Planejamento<br />

e Informações da Secretaria Nacional <strong>de</strong><br />

Mobilida<strong>de</strong> Urbana (Semob), Clever Almeida,<br />

a limitada capacida<strong>de</strong> técnica, econômica e<br />

financeira <strong>de</strong> agentes em estruturar bons projetos<br />

(leia-se viáveis técnica e economicamente)<br />

contribui para que estes não sejam aprovados e,<br />

por consequência, não recebam verba do governo<br />

e <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> crédito.<br />

A Semob, vinculada ao Ministério das Cida<strong>de</strong>s,<br />

é responsável pela política <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong><br />

urbana no país. Pela secretaria, estados e<br />

municípios po<strong>de</strong>m recorrer a financiamentos e a<br />

<strong>de</strong>sembolsos da União para projetos ligados ao<br />

transporte público coletivo. Dos R$ 40 bilhões<br />

em projetos contratados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2008, apenas<br />

R$14 bilhões foram efetivamente <strong>de</strong>sembolsados<br />

pelo órgão. “Muitos projetos, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

contratados, não têm a sua licitação feita ou<br />

as obras iniciadas. A contratação dos recursos<br />

é a condição para o município licitar, mas não<br />

é a condição <strong>de</strong> que já está tudo ok, que o<br />

projeto vai receber a verba.” No que diz respeito<br />

especificamente aos projetos metroferroviários,<br />

atualmente, a Semob tem uma carteira ativa <strong>de</strong><br />

R$ 16,6 bilhões em projetos contratados, sendo<br />

R$ 3,9 bilhões pagos até agora.<br />

Ao i<strong>de</strong>ntificar a lacuna dos “bons projetos”, a<br />

Semob fez o que podia. Se antes os recursos eram<br />

contratados sem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentação<br />

do projeto executivo, agora a contratação só<br />

acontece após a aprovação prévia do projeto<br />

básico e dos estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> técnica e<br />

econômica. “Com a regra antiga, corríamos<br />

mais riscos, no sentido <strong>de</strong> que projetos pouco<br />

estruturados apresentavam conclusões diferentes<br />

daquilo que originalmente se pensava, e com o<br />

contrato já assinado, não tínhamos como mudar<br />

mais”, explica.<br />

Clever diz que a instabilida<strong>de</strong> econômica<br />

afetou em cheio o volume <strong>de</strong> recursos<br />

<strong>de</strong>stinados à mobilida<strong>de</strong> urbana, especialmente<br />

no que diz respeito à área metroferroviária.<br />

Atualmente, só há um processo <strong>de</strong> seleção em<br />

vigor na secretaria: o Avançar Cida<strong>de</strong>s, que<br />

está <strong>de</strong>ntro do programa Pró-Transporte, e não<br />

contempla projetos sobre trilhos. O motivo:<br />

falta <strong>de</strong> recursos suficientes para financiar<br />

iniciativas com custos mais elevados. A linha<br />

<strong>de</strong> crédito disponível hoje no Pró-Transporte é<br />

<strong>de</strong> R$ 7 bilhões por ano e privilegia projetos <strong>de</strong><br />

transporte público sobre pneus.<br />

“Dois, três projetos <strong>de</strong> metrô, por exemplo,<br />

consumiriam todos os valores que temos<br />

disponíveis no momento. Mas a i<strong>de</strong>ia é lançar<br />

ainda esse ano um programa com recursos vindos<br />

<strong>de</strong> outras fontes também, para que tenhamos<br />

volume suficiente para fazer frente aos custos<br />

maiores <strong>de</strong> transporte ferroviário.”<br />

Clever Almeida é formado em engenharia civil<br />

pela PUC/PR e especializado em Gerenciamento<br />

<strong>de</strong> Projetos pelo Instituto Superior <strong>de</strong><br />

Administração e Economia da Fundação Getulio<br />

Vargas (ISE/FGV), e em Planejamento, Gestão <strong>de</strong><br />

Transporte e Meio Ambiente pelo INPG Business<br />

School. Está na Semob <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2016.<br />

Clever Almeida<br />

Diretor <strong>de</strong> Planejamento e Informações da Secretaria Nacional <strong>de</strong> Mobilida<strong>de</strong> Urbana<br />

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REVISTA FERROVIÁRIA | <strong>Julho</strong>/Agosto DE <strong>2018</strong>

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