Revista Ferroviária Edição de Julho/agosto 2018
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artigo<br />
Gabinete<br />
<strong>de</strong> crise<br />
HEDMILTON MOURÃO CARDOSO,<br />
Economista e coor<strong>de</strong>nador do Núcleo <strong>de</strong> Estudos Empresariais<br />
e Sociais da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense<br />
As crises política e econômica geradas por uma<br />
greve nacional no transporte rodoviário <strong>de</strong><br />
cargas têm como razão <strong>de</strong> fundo a falta <strong>de</strong><br />
planejamento e execução <strong>de</strong> políticas públicas<br />
<strong>de</strong> longo prazo nos setores <strong>de</strong> transporte e logística. A<br />
ausência da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> diretrizes e incentivos resultantes<br />
<strong>de</strong> estudos multidisciplinares que consi<strong>de</strong>rem todas as<br />
consequências e <strong>de</strong>sdobramentos <strong>de</strong> cada uma das opções<br />
obriga o país a conviver com a situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sorganização<br />
vista na última semana <strong>de</strong> maio. Uma vez instalada a<br />
crise, mira-se simplesmente em estancá-la, com ações que<br />
minimizam seus <strong>de</strong>sdobramentos no longo prazo.<br />
Não sendo especialista em logística, <strong>de</strong>ixo para profissionais<br />
melhor qualificados a proposição das medidas<br />
específicas que <strong>de</strong>vem ser tomadas na área para o País<br />
vencer a crise e promover a mo<strong>de</strong>rnização do setor. No<br />
entanto, consi<strong>de</strong>ro que toda esta situação nos colocou<br />
frente a várias situações que merecem ser avaliadas sob<br />
as óticas micro e macroeconômicas. Especificamente<br />
quanto às medidas adotadas pelo governo, elas foram as<br />
possíveis dado que num país on<strong>de</strong> o transporte rodoviário<br />
respon<strong>de</strong> por 60% da movimentação <strong>de</strong> cargas, era<br />
inevitável que após dois ou três dias <strong>de</strong> paralisação viesse<br />
a escassez <strong>de</strong> produtos.<br />
A solução com efetivo impacto no <strong>de</strong>senvolvimento do<br />
país começa com um planejamento <strong>de</strong> longo prazo que<br />
leve em consi<strong>de</strong>ração os polos produtivos, consumidores,<br />
exportadores, importadores, áreas industriais, agrícolas<br />
e por outro lado os modais rodoviário, ferroviário, aeroviário,<br />
dutoviário, <strong>de</strong> cabotagem, hidroviário que sejam<br />
compatíveis com diretrizes <strong>de</strong> elevação da produtivida<strong>de</strong><br />
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REVISTA FERROVIÁRIA | JulhO/AgOSTO DE <strong>2018</strong><br />
e redução dos custos <strong>de</strong> transporte, elevação da competitivida<strong>de</strong><br />
do produto negociável internacionalmente, incentivos<br />
para substituição e competitivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preços entre<br />
fontes energéticas dos transportes e entre modais.<br />
Uma conclusão que parece clara é que as soluções apresentadas<br />
pelo governo não po<strong>de</strong>m vigorar senão no curto<br />
prazo, porque contêm incoerências micro e macroeconômicas,<br />
além <strong>de</strong> não necessariamente refletirem as escolhas<br />
da socieda<strong>de</strong> no longo prazo. Decisão que gera graves distorções,<br />
a redução do preço do óleo diesel pela adoção <strong>de</strong><br />
subsídio governamental necessita ter vida curta. O efeito<br />
microeconômico <strong>de</strong>ssa medida é reduzir o preço relativo<br />
do diesel em relação a outros combustíveis e o preço do<br />
diesel no Brasil em relação ao <strong>de</strong> países fronteiriços.<br />
O efeito óbvio é o <strong>de</strong> aumento na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mandada<br />
<strong>de</strong> diesel em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros combustíveis sempre<br />
que a substituição for possível e o aumento da quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>mandada do diesel brasileiro por países que fazem fronteira<br />
com o Brasil. Em nosso país não faltam técnicos e<br />
especialistas para a tarefa <strong>de</strong> elaborar um plano estrutural<br />
<strong>de</strong> infraestrutura dos transportes. Se é o caso <strong>de</strong> se dispen<strong>de</strong>r<br />
recursos para a melhoria do setor, que eles sejam<br />
gastos com a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> planejamentos bem-feitos<br />
e investimentos com retornos financeiros e sociais extremamente<br />
bem geridos nos modais ferroviário, rodoviário<br />
e hidroviário. Essas questões precisam ser <strong>de</strong>batidas por<br />
ocasião da campanha eleitoral que se aproxima sob pena<br />
<strong>de</strong> continuarmos a enfrentar crises que nos levam a soluções<br />
efêmeras e utilizando recursos públicos absorvidos<br />
em parte por agentes que em nada contribuirão para a melhoria<br />
do setor <strong>de</strong> transportes.