Revista Ferroviária Edição de Julho/agosto 2018

eportagem
Paulo, diz que por um lado, mais empresas demonstraram
interesse em optar pelo transporte
ferroviário no período e algumas até migraram
de modal. Por outro, a Contrail se viu em dificuldades
para seguir com as cargas nas áreas de
integração com o transporte rodoviário.
“Não tivemos impacto, mas caso a greve
se estendesse haveria problemas de abastecimento
em nossas operações. Tivemos aumento
de aproximadamente 100% do volume na
semana da paralisação e uma semana após,
depois disso, o aumento real foi de 50%”, disse
a executiva de Vendas da Contrail, Juliana Canteiro.
A localização estratégica do terminal alfandegário
em Bauru, em São Paulo, também permitiu que a Brado
Logística driblasse a crise gerada pela paralisação
dos caminhoneiros. A unidade atende o maior polo
produtor de amendoim do Brasil, no Centro-Oeste
paulista, com mais de 200 produtores, e está próxima
das linhas férreas que ligam a região de Bauru ao Porto
de Santos. Somente em 2017, a empresa movimentou
2.571 contêineres (equivalente a 63 mil toneladas
do produto) e 42,1% de todo amendoim exportado
pelo Brasil em 2017.
A greve contribuiu para destacar o trabalho da Rumo
no transporte de combustíveis e a importância do uso do
modal ferroviário para o abastecimento. Em São Paulo,
a companhia transporta combustível em um trecho
Papel estratégico da ferrovia
Doutor em Transportes e professor da Escola Politécnica da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Poli-UFRJ), Hostílio Ratton
calcula que apenas R$ 120 milhões tenham sido investidos pelo governo
em transporte ferroviário no primeiro quadrimestre de 2018
– enquanto a malha rodoviária recebeu aporte de R$ 2 bilhões.
Já o relatório Transporte em Números da Confederação Nacional
de Transportes, divulgado em maio deste ano, aponta
que a União pagou R$ 69,76 bilhões para fazer investimentos
em infraestrutura de transportes, de 2012 a 2017. Desse total,
R$ 49,3 bilhões (70,7%) foram para o modal rodoviário e
R$ 9,33 bilhões (13,4%) para a ferrovia. O transporte aéreo que
recebeu investimentos de R$ 9,31 bilhões (13,4%) no período,
no entanto, desde 2015 passou a receber valores superiores aos
investidos na ferrovia.
Para ele, a greve dos caminhoneiros pode ter sido um catalisador
na busca mais rápida e eficaz de novas soluções para reduzir
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REVISTA FERROVIÁRIA | Julho/Agosto DE 2018
Transporte de contêineres na MRS cresceu durante a greve dos caminhoneiros
da Malha Paulista que vai da Refinaria de Paulínia (Replan)
para as bases de Bauru e São José do Rio Preto, que
continuaram a ser abastecidas durante a paralisação. A
empresa chegou a registrar, nos dias de greve, aumento
de 10% nos carregamentos diários nesse trecho, principalmente
para garantir o funcionamento de plantas industriais
que usam diesel como combustível.
“Nos últimos três anos, o volume de gasolina, etanol e
diesel transportado por trens da Rumo entre São Paulo e
Mato Grosso cresceu 25%. Com isso, estima-se uma redução
de aproximadamente 3.900 viagens de caminhões bitrens
transportando combustíveis nas rodovias por ano, diminuindo
a quantidade de congestionamentos, acidentes e a
emissão de CO 2 . Essa operação ferroviária representa hoje
44% do volume total de combustíveis derivados transportado
para o Mato Grosso”, disse a empresa por meio de nota.
a dependência do modal rodoviário, e para o estabelecimento de
uma matriz mais equilibrada. “Essa distribuição não deve se reduzir
unicamente à igualdade de toneladas-quilômetro entre os
modais. Repartir dessa forma não significa necessariamente ter
o melhor resultado econômico. O PNL ainda tem esse viés, mas
pode mudar para o que é mais acertado”, opina.
Para o professor Ratton tanto quanto investir em infraestrutura,
é preciso priorizar o planejamento de longo prazo e as combinações
intermodais nas projeções de transporte de cargas.
“Não é só no campo dos investimentos que é preciso agir.
No que se refere às ferrovias, antes de tudo, é necessário que o
governo defina claramente o papel estratégico delas no campo
econômico e acerte a compatibilização disso com os interesses
do setor privado, que detém a operação das ferrovias. Desse
compromisso é que acontecerá a passagem dos planos para as
ações", conclui.
Divulgação/MRS