entrevista A lacuna dos bons projetos Não são só a recessão econômica dos últimos anos e a crise fiscal <strong>de</strong> estados e municípios que explicam o fato <strong>de</strong> muitos projetos metroferroviários não irem para frente em cida<strong>de</strong>s brasileiras. Para o diretor <strong>de</strong> Planejamento e Informações da Secretaria Nacional <strong>de</strong> Mobilida<strong>de</strong> Urbana (Semob), Clever Almeida, a limitada capacida<strong>de</strong> técnica, econômica e financeira <strong>de</strong> agentes em estruturar bons projetos (leia-se viáveis técnica e economicamente) contribui para que estes não sejam aprovados e, por consequência, não recebam verba do governo e <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> crédito. A Semob, vinculada ao Ministério das Cida<strong>de</strong>s, é responsável pela política <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> urbana no país. Pela secretaria, estados e municípios po<strong>de</strong>m recorrer a financiamentos e a <strong>de</strong>sembolsos da União para projetos ligados ao transporte público coletivo. Dos R$ 40 bilhões em projetos contratados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2008, apenas R$14 bilhões foram efetivamente <strong>de</strong>sembolsados pelo órgão. “Muitos projetos, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> contratados, não têm a sua licitação feita ou as obras iniciadas. A contratação dos recursos é a condição para o município licitar, mas não é a condição <strong>de</strong> que já está tudo ok, que o projeto vai receber a verba.” No que diz respeito especificamente aos projetos metroferroviários, atualmente, a Semob tem uma carteira ativa <strong>de</strong> R$ 16,6 bilhões em projetos contratados, sendo R$ 3,9 bilhões pagos até agora. Ao i<strong>de</strong>ntificar a lacuna dos “bons projetos”, a Semob fez o que podia. Se antes os recursos eram contratados sem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentação do projeto executivo, agora a contratação só acontece após a aprovação prévia do projeto básico e dos estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> técnica e econômica. “Com a regra antiga, corríamos mais riscos, no sentido <strong>de</strong> que projetos pouco estruturados apresentavam conclusões diferentes daquilo que originalmente se pensava, e com o contrato já assinado, não tínhamos como mudar mais”, explica. Clever diz que a instabilida<strong>de</strong> econômica afetou em cheio o volume <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>stinados à mobilida<strong>de</strong> urbana, especialmente no que diz respeito à área metroferroviária. Atualmente, só há um processo <strong>de</strong> seleção em vigor na secretaria: o Avançar Cida<strong>de</strong>s, que está <strong>de</strong>ntro do programa Pró-Transporte, e não contempla projetos sobre trilhos. O motivo: falta <strong>de</strong> recursos suficientes para financiar iniciativas com custos mais elevados. A linha <strong>de</strong> crédito disponível hoje no Pró-Transporte é <strong>de</strong> R$ 7 bilhões por ano e privilegia projetos <strong>de</strong> transporte público sobre pneus. “Dois, três projetos <strong>de</strong> metrô, por exemplo, consumiriam todos os valores que temos disponíveis no momento. Mas a i<strong>de</strong>ia é lançar ainda esse ano um programa com recursos vindos <strong>de</strong> outras fontes também, para que tenhamos volume suficiente para fazer frente aos custos maiores <strong>de</strong> transporte ferroviário.” Clever Almeida é formado em engenharia civil pela PUC/PR e especializado em Gerenciamento <strong>de</strong> Projetos pelo Instituto Superior <strong>de</strong> Administração e Economia da Fundação Getulio Vargas (ISE/FGV), e em Planejamento, Gestão <strong>de</strong> Transporte e Meio Ambiente pelo INPG Business School. Está na Semob <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2016. Clever Almeida Diretor <strong>de</strong> Planejamento e Informações da Secretaria Nacional <strong>de</strong> Mobilida<strong>de</strong> Urbana 18 REVISTA FERROVIÁRIA | <strong>Julho</strong>/Agosto DE <strong>2018</strong>
Os recursos que temos disponíveis hoje são basicamente provenientes <strong>de</strong> financiamento, ou seja, oferecemos empréstimos para os municípios. E o recurso hoje é limitado, diferentemente <strong>de</strong> alguns anos atrás, que existia a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio financeiro da União. REVISTA FERROVIÁRIA | <strong>Julho</strong>/Agosto DE <strong>2018</strong> 19
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