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Livro "São Pedro de Canedo, História de uma Vila" - 2ª Edição

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São Pedro de Canedo – História de uma Vila

embriagues do murmúrio das levadas, no fervilhar dos peixes, ou no ruído

suave (celestial) dos moinhos que adormecem aqueles que têm insónias.

O deslizar das suas límpidas e cristalinas águas que davam de beber a

todos aqueles que tinham sede. As suas sombras frondosas dos choupos e

salgueiros cingidos de videiras fartas, entre o perfume de pampilhos e das

amoras das silvas.

Não tinha caminhos de carros para lá chegar, partindo da estrada, uma

“gimbra” a pico e um carreiro serpenteado muito íngreme e escarpado.

Vivia sozinha no meio de muitos ninhos de mimosas, prados mantos de sol

e ouro de costureiras do céu que o cortaram e que o teceram com cores

divinas.

A estrada veio devassar os seus mistérios, bem como a central elétrica

em 1950 com os seus cabos de alta tensão. O progresso veio zombar a

rudeza, o urbanismo arremedar a solidão, a cultura e macular a inocência.

Não importa que o mundo seja muito grande, mais belo e mais rico. Que

interessa às trutas, vogas e eirós do Inha que o mar seja maior que o seu rio

pequeno, onde vivem felizes; à rã, que os lagos sejam mais extensos do que

o seu charco; às formigas que hajam caminhos mais amplos que os

carreiros; às abelhas, palácios mais sumptuosos que as suas colmeias, e ao

coelho, grutas mais bisaras que as suas luras; às lontras com olhares

centelhantes observando os peixes; às raposas manhosas que caçavam as

aves e os coelhos desprevenidos.

A beleza das suas mulheres encantadoras que à semana arduamente

labutavam, e ao fim do dia iam lavar os pés aos caboucos dos moinhos que

abundavam nas margens do rio ou nas ravessas do mesmo. Descalças,

carregavam à cabeça, feixes de molhos de monte (chamiça) ou carqueja e

“áchas”, e, ao mesmo tempo ensinavam os seus filhos da mesma forma que

os ensinaram. Estes produtos iam para o pousadouro da foz do Inha, para

mais tarde serem embarcados para as padarias do Porto.

Os homens robustos e sem medo desafiavam o frio com o guincheiro ou

espeto guiando os paus e as achas pelo rio abaixo até à foz, pois era o rio o

seu meio de transporte, tendo o mesmo destino dos anteriores, outros

eram lavradores que amanhavam a terra para a sua sobrevivência.

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